Israel e Hamas permanecem inflexíveis e acordo para trégua em Gaza fica distante

Primeiro ministro israelense diz que o país ‘não pode aceitar’ os termos exigidos pelo Hamas para o fim da guerra

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Por AFP

GAZA - Israel e o grupo terrorista Hamas declararam neste domingo, 5, seus profundos desacordos sobre os termos para alcançar uma trégua na Faixa de Gaza, o que coloca em perigo as negociações que estão acontecendo com mediação internacional no Egito.

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O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, afirma que aceitar as “exigências” do Hamas para colocar um fim na guerra em Gaza seria “uma terrível derrota para o Estado de Israel” e que equivaleria a uma “capitulação”, um ato de rendição a uma força armada hostil.

Em resposta, o chefe do Hamas, Ismail Haniyeh, acusou Netanyahu de “sabotar os esforços dos mediadores” para obter uma trégua no território palestino depois de quase sete meses de conflito.

Algumas horas antes do reinício do segundo dia de negociações na capital egípcia neste domingo, um líder do Hamas disse que o grupo “em hipótese alguma” aceitaria um acordo que não incluísse explicitamente o fim da guerra.

Sob o comando de Netanyahu, Israel, só enviará uma delegação ao Egito se houver progresso na “estrutura” da troca de reféns Foto: Ohad Zwigenberg/AP

“Nossas informações confirmam que Netanyahu está freando pessoalmente um acordo por motivos pessoais”, declarou um dirigente em condição de anonimato para a AFP. Ele havia indicado previamente que as negociações não permitiram “nenhuma evolução” no momento.

“Enquanto Israel mostra sua boa vontade, o Hamas persiste em suas posições extremas, entre as quais se destaca a exigência da retirada de nossas forças da Faixa de Gaza, o fim da guerra e a preservação do Hamas. Israel não pode aceitar isso”, declarou Netanyahu em uma reunião de gabinete. “Israel não aceitará as exigências do Hamas, que significa a capitulação e os combates até alcançar todos os seus objetivos”, insistiu.

O Fórum das Famílias dos Reféns pediu a Netanyahu que “ignore a pressão política” e aceite um acordo que permita a libertação dos reféns. “Sr. Netanyahu, a história não o perdoará se perder esta oportunidade”, disseram eles em um comunicado. Israel, que não está presente nas negociações do Cairo, só enviará uma delegação se houver progresso na “estrutura” da troca de reféns, disse um representante israelense em Jerusalém. O chefe da CIA, William Burns, está na capital egípcia, de acordo com a mídia americana.

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Conflito

A guerra estourou em 7 de outubro quando um ataque do grupo terrorista invadiu o território e matou cerca de 1,2 mil pessoas, na maioria civis, e sequestraram outras 250 no sul de Israel, de acordo com um levantamento da AFP baseado em dados israelenses. As autoridades de Israel estimam que, depois de uma troca de reféns por presos palestinos em novembro, 129 pessoas permaneceram em cárcere em Gaza e que 35 morreram.

A ofensiva lançada por Israel em resposta ao ataque já deixou cerca de 34,6 mil mortos em Gaza, na sua maioria civis, segundo o Ministério da Saúde Palestino. A diretora do Programa Mundial de Alimentos, Cindy McCain, alertou que uma “verdadeira fome” acomete o norte do enclave palestino e se estende até o sul.

A última proposta que os mediadores internacionais - Catar, Egito e Estados Unidos -, apresentaram ao Hamas no final de abril previa uma pausa nos combates por 40 dias e uma troca de reféns israelenses presos em Gaza desde de 7 de outubro por presos palestinos em Israel.

Israel, que, como os EUA e a União Europeia, classifica o Hamas como uma organização terrorista, se opõe à trégua definitiva e insiste em lançar uma ofensiva terrestre contra Rafah, por considerá-la o último bastião do grupo terrorista. Os EUA, principais aliados de Israel, se opõem a uma invasão da cidade no extremo sul da Faixa de Gaza, onde estão mais de 1,3 milhões de pessoas, a maioria desabrigados pela guerra.

“O dano que causaria iria muito além do aceitável”, disse o Secretário de Estado americano Antony Blinken.

Uma operação terrestre em Rafah também comprometeria a ajuda humanitária que entra no enclave, principalmente, pela cidade na fronteira com o Egito e que já é insuficiente para os 2,4 milhões de habitantes de Gaza.

O governo também anunciou o fechamento do escritório da Al Jazeera, do Catar, em Israel e a apreensão de seus equipamentos - o Catar é um dos países mediadores do conflito. A decisão foi considerada “criminosa” pela Al Jazeera.

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O exército israelense anunciou, ainda, neste domingo, o fechamento da passagem de Kerem Shalom para a Faixa de Gaza - por onde entra a ajuda humanitária - após um ataque com foguetes. Na frente norte de Israel, na fronteira com o Líbano, o grupo radial xiita pró-iraniano Hezbollah anunciou que havia disparado “dezenas de foguetes” contra o território israelense após a morte, de acordo com a agência de notícias oficial libanesa, de “quatro membros civis da mesma família em um ataque israelense” no sul do Líbano.

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