Jacques Chirac, ex-presidente francês, morre aos 86 anos

Um dos mais longevos chefes de estado da França, ele governou entre 1995 e 2007 e se opôs à intervenção dos Estados Unidos no Iraque

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Por Redação
Atualização:

PARIS - O ex-presidente da França, Jacques Chirac, um dos mais longevos presidentes da história da França, morreu nesta quinta-feira, 26, em Paris. A informação foi confirmada pela família à agência France Presse. 

O ex-chefe de Estado francês tinha 86 anos, e sua carreira política é considerada uma das mais excepcionais da França. Depois de François Mitterrand, que ficou 14 anos no poder, ele vem em segundo como o chefe de Estado a ocupar por mais tempo o cargo, por 12 anos, entre 1995 e 2007. 

Jacques Chirac foi internado em Paris com problemas pulmonares Foto: PATRICK KOVARIK/AFP

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Chirac, um político de centro-direita, integrou gabinetes de Charles de Gaulle, George Pompidou e François Mitterrand.

Ele se tornou uma celebridade entre moderados por ter sido o presidente que se opôs à intervenção americana no Iraque, vetando o aval da ONU no Conselho de Segurança – enquanto o Reino Unido de Tony Blair embarcava no conflito ao lado de George W. Bush.

A Assembleia Nacional fez um minuto de silêncio em sua homenagem imediatamente após o anúncio da morte feito pelo genro do ex-presidente.

"Ele morreu cercado por entes queridos. Pacificamente ", declarou Frédéric Salat-Baroux, marido de Claude Chirac, filha do ex-presidente, sem especificar a causa da morte.

Jacques Chirac é aplaudido em Paris, em uma de suas últimas aparições públicas Foto: REUTERS/Patrick Kovarik/Pool/File Photo

Desde que sofreu um derrame, em setembro de 2005, quando ainda era presidente da França, os problemas de saúde de Jacques Chirac se sucederam. Após deixar o Palácio do Eliseu, em maio de 2007, ele foi hospitalizado várias vezes.

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Por sua popularidade, seu estado de saúde era acompanhando de perto pela mídia e por todo o país. Vítima de um acidente vascular cerebral em 2005, ele tinha um quadro de saúde delicado, segundo parentes, com momentos de desligamento, perda de memória e perda de audição.

Em janeiro de 2014, sua mulher, Bernadette Chirac, estimou que o marido, que sofria de “problemas de memória”, não falaria mais em público.

Jacques Chirac (à esquerda), e a mulher, Bernadette, viajam em um Peugeot 304 na França, em 1993 Foto: REUTERS/Regis Duvignau/File Photo

A última vez que Chirac apareceu oficialmente em público foi em novembro de 2014, em um evento da fundação Chirac ao Serviço da Paz, que ele fundou em 2008. Enfraquecido, apoiado por um segurança, ele foi muito aplaudido quando chegou à cerimônia.

As polêmicas e os desafios de Jacques Chirac

Foi Chirac quem engajou a França em uma reaproximação com a Otan, e colocando soldados franceses em conflitos no Kosovo (1999) e no Afeganistão (2001). 

Por causa disso, sua oposição à invasão americana do Iraque, em 2003, sem provas concretas de crimes cometidos pelo ditador Saddam Hussein, foi uma surpresa para muitos.

“Para nós, a guerra é sempre a prova do fracasso e a pior das soluções, então tudo deve ser feito para evitá-la”, disse Chirac, na ocasião.

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Jacques Chirac com o então presidente americano, George W. Bush, em 2003 Foto: AP Photo/Jacky Naegelen, Pool, File

As duras críticas de Jacques Chirac tornaram tensas as relações entre Paris e Washington. Na ocasião, três lanchonetes da Câmara de Representantes dos EUA receberam a ordem de mudar seu cardápio: tirarem as French fries (batatas fritas, mas que literalmente significam "batatas francesas") para colocarem as freedom fries (literalmente, "batatas da liberdade").

Foi por iniciativa de Chirac que um referendo em 2005 enterrou o projeto de adoção de uma Constituição da Europa na França, o que levaria a uma confederação de Estados com poderes bem mais reduzidos que os atuais.

Chanceler alemão Gerhard Schroeder (esquerda) e o presidente francês Jacques Chirac tiram foto com uma garota, em 2005 Foto: EFE/EPA/BERND THISSEN

Apesar de ter sido um dos principais estadistas franceses, Jacques Chirac teve seu nome manchado por escândalos de corrupção. O principal deles foi o dos funcionários fantasmas da Prefeitura de Paris. 

Chirac foi acusado de contratar funcionários fantasmas, cujos salários salários alimentavam o caixa dois do partido do prefeito. Um tribunal o condenou em 2011 a dois anos de prisão, mas a condenação foi suspensa. 

Documento dos serviços secretos mencionaram, em 1996, a existência de uma conta bancária de Chirac no Japão. Depois de informações e declarações contraditórias, a denúncia foi arquivada.

A atriz Eilizabeth Taylor (esquerda) beija Jacques Chirac, então prefeito de Paris REUTERS/Charles Platiau/File Photo Foto: REUTERS/Charles Platiau/File Photo

Quem foi Jacques Chirac

Jacques Chirac nasceu em Paris, em novembro de 1932. Ele cresceu na Corrèze, na região centro-oeste, mas se formou em Paris no prestigioso Instituto de Estudos Políticos e na Escola Nacional de Administração, de acordo com a Rádio França Internacional. Sua carreira política começou no conselho municipal de Sainte-Féréole, em Corrèze, em 1965.

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Ele rapidamente ocupou vários cargos importantes em ministérios, foi eleito deputado, até ser nomeado primeiro-ministro de Valéry Giscard d’Estaing, em 1974.

Em 1976, presidente francês, Giscard d'Estaing (à direita) cumprimenta Jacques Chirac, então primeiro-ministro Foto: Photo by - / AFP

Em março de 1977, Chirac é eleito prefeito de Paris, cargo que conservou até sua primeira eleição presidencial em 1995. Ele substituiu o socialista François Mitterrand na presidência.

Em 2002, ele foi reeleito para um segundo mandato, após uma eleição que marcou a história recente francesa. Para surpresa geral, o presidente da Frente Nacional, Jean-Marie Le Pen, chegou ao segundo turno. Chirac concentrou, então, o apoio dos opositores da direita radical e obteve 82,21% dos votos.

Jacques Chirac se casou, em 1956, com Bernadette Chodron de Courcel, com quem teve duas filhas e adotou uma terceira. A morte de sua filha mais velha, Laurence, aos 58 anos, o abalou profundamente./AFP e REUTERS

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