Quando começaram a se aproximar de Donald Trump como candidato à presidência dos EUA, os ativistas do movimento Tea Party não viam nele o líder que sonhavam. Suas credenciais de empresário bilionário da liberal Nova York despertavam desconfiança e definitivamente não se encaixavam com o ideal de conservador que os militantes gostariam de ver na Casa Branca. Isso mudou.
A profusão de prefixos como “pró” (armas, vida) e “anti” (establishment, imigrantes) no discurso do magnata começou a fazer sentido e a atrair os ativistas, um dia apaixonados pela durona Sarah Palin. Com os pré-candidatos Marco Rubio e Ted Cruz, os favoritos do Tea Party, fora da corrida, não restou muito e a escolha do conservador Mike Pence, ligado ao movimento, para o posto de vice levou de vez ao republicano o apoio e toda a militância que acompanha o grupo.
Socióloga e pesquisadora sobre o Tea Party da Universidade de Pittsburgh, Elizabeth Yates concluiu que, em geral, Trump e uma grande parte do movimento ultraconservador têm muito em comum.
Ambos estão descontentes com os poderes políticos existentes, se dizem preocupados com o terrorismo e consideram os imigrantes e refugiados islâmicos uma ameaça cultural potencialmente violenta. Sem falar que ambos têm muita raiva dos imigrantes ilegais, concluiu a especialista em movimentos sociais e políticas conservadoras.
Há ainda as características demográficas, de certa forma, muito similares. “Eles são em sua maioria esmagadora brancos e, especialmente, de regiões rurais e suburbanas. Ambos tendem a ganhar rendimentos acima da média, ainda que entre os eleitores de Trump haja uma proporção maior de brancos sem graduação”, disse Elizabeth em entrevista ao Estado. No ano passado, a pesquisadora acompanhou um segmento do Tea Party no Estado da Virgínia à medida que a campanha de Trump evoluía. A relação não era nenhuma lua de mel.
Elizabeth verificou que a maioria dos militantes do movimento se opunha duramente à campanha de Trump. “Ativistas do Tea Party tendem a ser cristãos devotos e mais velhos, geralmente, gente aposentada. Mesmo entre os que gostavam da retórica de Trump com relação aos imigrantes e à disputa racial, eles estavam horrorizados pelo tom do magnata. Se sentiam ofendidos pela vulgaridade e arrogância que ele mostrou no palco nacional”, lembra Elizabeth. Com a nomeação de Trump como candidato do Partido Republicano, a maioria dos ativistas passou a apoiá-lo. “Em geral, eles viam Hillary Clinton e o Partido Democrata como um movimento socialista e estavam dispostos a fazer qualquer coisa para detê-los”, explica a pesquisadora.
Colaborou para a aproximação ainda o fato de as pessoas ligadas ao movimento já estarem envolvidas no processo político e muito comprometidas com os sistemas eleitoral e legislativo – algo que consideram fundamental para conseguir as mudanças políticas que almejam.
“Seria muito difícil para eles simplesmente ignorar. Eles já estão envolvidos em múltiplas organizações, incluindo o Partido Republicano, engajados nos esforços de conscientizar e fazer os eleitores saírem de casa para votar”, explica Elizabeth, concluindo que o movimento não viu outra alternativa senão apoiar Trump.
Nacionalistas e defensores de um “Estado mínimo”, o novo presidente e o movimento conservador vivem agora alguns paradoxos. Trump escolheu para seu gabinete nomes que parecem destinados a enxugar suas áreas e a atuação do governo, o que satisfaz o movimento. Mas muitos desses escolhidos são considerados “titãs” do mundo corporativo, com uma confortável relação com o poder, o que não faz muito sentido para o Tea Party. “Qualquer crítica do Tea Party com relação às elites econômicas não será refletida na administração Trump.”
Por outro lado, pondera a socióloga, a última eleição fortaleceu a posição dos conservadores do Tea Party, especialmente daqueles que apoiaram Trump quando nenhum político “moderado” ou do “establishment” o fez. Além disso, o movimento expandiu sua base conservadora dentro do Partido Republicano. “Após a posse, essas serão as pessoas que provavelmente continuarão mais ativas na política”, conclui Elizabeth.