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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Trump pode incorporar papel de vítima em estratégia eleitoral; leia coluna de Lourival Sant’Anna

Indiciamento do ex-presidente pode ter se tornado seu principal ativo na campanha de 2024

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A abertura do processo contra Donald Trump pode, paradoxalmente, favorecê-lo na corrida presidencial de 2024. O título de primeiro ex-presidente a se tornar réu não era desejado por Trump, mas ele já o incorporou a sua estratégia eleitoral.

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Trump é acusado de fraude empresarial e crime eleitoral ao mascarar o pagamento de US$ 130 mil para a atriz pornô Stormy Daniels não revelar que fez sexo com ele; US$ 150 mil para a modelo Karen McDougal, com o mesmo propósito; e US$ 30 mil para o ex-porteiro Dino Sajudin, da Trump Tower, não contar que o patrão teve um filho fora do casamento com uma camareira. São histórias que poderiam roubar muitos votos conservadores de Trump. Entretanto, ele as compensa, por exemplo, por ter nomeado três juízes para a Corte Suprema que reverteram quase cinco décadas de direito ao aborto.

Os pagamentos foram declarados como honorários advocatícios. A fraude empresarial seria um delito menor, passível de multa. O promotor elevou a gravidade do caso para crime eleitoral, porque o encobrimento dos escândalos teria favorecido o candidato.

Donald Trump discursa em sua mansão em Mar-a-Lago após primeira audiência de seu processo Foto: Alex Wong/AFP - 4/4/2023

Essa é uma fragilidade técnica da acusação. O processo corre na Justiça estadual de Nova York e o eventual crime eleitoral seria de jurisdição federal. Há também uma fragilidade política: os promotores são eleitos nos EUA, e Alvin Bragg, que é democrata, fez campanha para o cargo em 2021 prometendo processar o ex-presidente.

Quando percebeu a iminência da formalização da denúncia, Trump se adiantou e anunciou, no dia 24, que seria preso na terça-feira seguinte. Sua campanha disparou e-mails pedindo apoio na forma de doações em dinheiro e de protestos na porta do tribunal. A campanha arrecadou US$ 8 milhões em 11 dias. Mas os seguidores de Trump não compareceram em massa para protestar, em meio ao forte esquema policial.

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Conhecendo Trump, o tribunal não fez a foto de praxe para fichar o réu, temendo que ela vazaria e seria usada para ilustrar a imagem de vítima de perseguição política, que ele vem construindo. Não adiantou. Durante a audiência, a campanha enviou e-mail vendendo, por US$ 45, camisetas com uma foto de Trump com a data, como se tivesse sido tirada pela polícia no fichamento do réu.

O papel de vítima no qual o processo colocou Trump acuou seus rivais republicanos. O ex-vice-presidente Mike Pence e o governador da Flórida, Ron DeSantis, que se preparam para disputar as primárias, denunciaram o processo como perseguição política. Outro potencial pré-candidato, o ex-conselheiro de Segurança Nacional John Bolton, disse que o promotor se tornou “o maior cabo eleitoral de Trump”. Outros processos devem ser abertos antes das eleições, testando a capacidade de Trump de manipulá-los e de seus eleitores, de ignorar seus possíveis crimes.

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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