Maduro preso na Argentina? Entenda o temor do presidente da Venezuela caso fosse à Celac

Existe uma ordem de prisão internacional contra o chefe de Estado chavista expedida pelos EUA e só viaja para outro país quando tem a certeza de que não será capturado

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O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, cancelou sua ida à Argentina para participar da cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) nesta terça-feira, sob alegação de que haveria um plano de agressão contra sua delegação.

Analistas acreditam que o real motivo para Maduro deixar de viajar seja o medo de ser preso e ter sua aeronave confiscada.

Mas por que Maduro teme a prisão?

Existe uma ordem de prisão internacional contra o chefe de Estado chavista expedida pelos Estados Unidos e, justamente por isso, o presidente só viaja para outro país quando tem a certeza de que não será capturado pelas autoridades locais.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, acompanha manifestantes em uma marcha chavista contra as sanções impostas ao país, em Caracas  Foto: Rayner Peña R./EFE - 23/01/2023

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Além disso, o Congresso argentino tem maioria opositora e isso aumentou o coro pelo pedido de prisão de Maduro.

“Se Maduro não viajar à Argentina é porque não teve garantias de que não seria capturado e enviado aos EUA. É preciso avaliar, também, a rota que o avião fará para chegar em território argentino e se vai atravessar outros países, para se ter a garantia desses países de que o avião pode passar e não será obrigado a aterrissar. É preciso ter tudo isso em conta para viajar”, explicou ao Estadão o tenente venezuelano José Antonio Colina, que fugiu da Venezuela em 2004 e vive nos EUA.

Quais as acusações contra Maduro?

Em março de 2020, o Departamento de Justiça americano acusou o presidente venezuelano de crimes como “narcoterrorismo”, narcotráfico e porte de armas, entre outros, e ofereceu US$ 15 milhões de dólares pela sua captura.

Na semana passada, quando foi anunciado que Maduro havia sido convidado a participar da cúpula da Celac, representantes da oposição argentina começaram a se manifestar contra a viagem e pediram a detenção do chavista por crimes de lesa-humanidade.

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O comunicado do governo venezuelano aponta uma tentativa de prejudicar a imagem da Venezuela. “Pretendem montar um show deplorável, a fim de perturbar os efeitos positivos de um encontro regional tão importante e, assim, contribuir para a campanha de descrédito – e fracassada – que tem sido feita contra nosso país a partir do império americano.”

Ao lado da primeira-dama Cilia Flores (E), Nicolás Maduro discursa em Caracas  Foto: Federico Parra/AFP - 23/01/2023

Desde então, Maduro ­— que costumava viajar para Cuba, sua aliada política, ou para países do Caribe — tem evitado deixar a Venezuela.

Embora o governo de Joe Biden venha tentando reestabelecer relações com a Venezuela, as sanções econômicas contra o país ainda estão em vigor, assim como a recompensa de US$ 15 milhões para quem tiver informações sobre Maduro.

Maduro poderia ser preso na Argentina?

Na semana passada, quando foi anunciado que Maduro havia sido convidado a participar da cúpula da Celac, representantes da oposição argentina começaram a se manifestar contra a viagem e pediram a detenção do chavista por crimes de lesa-humanidade.

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O comunicado do governo venezuelano aponta uma tentativa de prejudicar a imagem da Venezuela. “Pretendem montar um show deplorável, a fim de perturbar os efeitos positivos de um encontro regional tão importante e, assim, contribuir para a campanha de descrédito – e fracassada – que tem sido feita contra nosso país a partir do império americano.”

Na prática, o pedido de opositores de Fernández e exilados venezuelanos seria quase impossível de cumprir e teria poucas consequências concretas. A Argentina é signatária de tratados internacionais, como a Convenção de Viena, o que garante a imunidade como chefe de Estado.

Eles são acusados de “terem participado de uma associação criminosa que envolve uma organização terrorista extremamente violenta, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), e de um esforço para inundar os Estados Unidos com cocaína”, afirmou Barr em coletiva de imprensa virtual.

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Recompensas de dez milhões de dólares também foram prometidas em troca de informações “que possibilitem prender e/ou condenar” outras pessoas próximas ao líder socialista.

Questionado sobre a situação de Maduro, Lula pediu o respeito à autodeterminação dos povos e disse que os problemas internos venezuelanos devem ser resolvidos com “diálogos, não com ameaças de invasão”.

Para o analista político Erik Del Bufalo, professor da Universidade Simón Bolívar, o cancelamento acaba sendo “positivo para a Celac”. “Ninguém quer ser retratado ao lado de Maduro, nem mesmo aqueles que supostamente são seus aliados. Para Venezuela é um desastre e agora precisamos ver os desdobramentos.”

Segundo o tenente Colina, o governo venezuelano precisaria ainda realizar a viagem em uma aeronave de bandeira argentina e não venezuelana, como seria o costume. “Para ir de maneira segura, teria de viajar em um avião de bandeira argentina porque poderia ser detido em espaço aéreo internacional se estivesse em uma aeronave de bandeira venezuelana.”

Outro temor de Caracas ao viajar em um avião de bandeira venezuelana, de acordo com o militar, é que a aeronave fosse confiscada. “Isso tornava tudo mais difícil e dúbio em termos de garantias para Maduro.”

Analistas acreditam que o real motivo para Maduro deixar de viajar seja o medo do cerco legal. Existe uma ordem de prisão internacional contra o chefe de Estado chavista expedida pelos Estados Unidos e, justamente por isso, o presidente só viaja para outro país quando tem a certeza de que não será capturado pelas autoridades locais. Além disso, o Congresso argentino tem maioria opositora e isso pode aumentar o coro pelo pedido de prisão de Maduro.

“Se Maduro não viajar à Argentina é porque não teve garantias de que não seria capturado e enviado aos EUA. É preciso avaliar, também, a rota que o avião fará para chegar em território argentino e se vai atravessar outros países, para se ter a garantia desses países de que o avião pode passar e não será obrigado a aterrissar. É preciso ter tudo isso em conta para viajar”, explicou ao Estadão o tenente venezuelano José Antonio Colina, que fugiu da Venezuela em 2004 e vive nos EUA./ COM AFP, EFE e FERNANDA SIMAS

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