MOSCOU - Mais de 200 manifestantes, entre eles o líder opositor Alexei Navalni, foram detidos nesta quarta-feira, 12, em Moscou durante uma manifestação não autorizada organizada em apoio ao jornalista Ivan Golunov - acusado de tráfico de drogas e, posteriormente, liberado - e contra casos supostamente fabricados pelo governo para calar vozes críticas.
Na conta de Navalvi no Twitter, uma foto que registra o momento de sua prisão foi publicada acompanhada por mensagem dizendo que "o poder tem medo da demonstração de solidariedade fantástica e unânimeno caso Golunov". "É, portanto, importante para eles destruir primeiro a solidariedade geral, para depois intimidar e prender aqueles que insistem", declarou o opositor na rede social.
Vários jornalistas, incluindo colaboradores do jornal opositor Novaia Gazeta, do Kommersant e da revista alemã Der Spiegel também foram presos.
O Ministério do Interior informou que cerca de 1,2 mil pessoas participaram da manifestação em Moscou e que ao menos 200 delas, incluindo Nalvani e alguns menores de idade, foram detidos e enfrentarão acusações que podem resultar em até 20 dias de prisão, relatou a agência estatal de notícias Tass.
Em São Petersburgo, a segunda maior cidade do país, ao menos 100 pessoas também protestaram em resposta a um caso Golunov, que provocou uma grande mobilização da sociedade civil. Não há informaçõe sobre detidos.
"O que aconteceu com Ivan Golunov ocorre todos os dias em todo o país. Há várias histórias de drogas (falsas) como esta. Tivemos a sorte de que o soltaram, mas foi apenas uma pequena vitória. A guerra não foi vencida", disse Egor, de 15 anos, que usava uma camisa com a frase "Eu sou Ivan Golunov".
"Vim porque ainda temos muitas pessoas detidas injustamente. Há muitos casos injustos", afirmou Liudmila, uma engenheira aposentada de 83 anos.
O Kremlin havia dito na terça-feira que temia que a passeata "atrapalhasse a atmosfera festiva" desta quarta-feira, feriado que celebra a independência da Rússia da URSS.
O caso Gulonov
Preso em 6 de junho em Moscou por policiais que afirmaram ter encontrado grandes quantidades de drogas em sua mochila e depois em seu apartamento, Ivan Golunov foi colocado em prisão domiciliar no sábado. Na terça-feira, as autoridades retiraram as acusações de tráfico de drogas contra ele.
Desde a semana passada, no entanto, existiam muitas dúvidas sobre as circunstâncias da detenção e a veracidade das acusações contra o jornalista do site independente Meduza, conhecido por reportagens sobre casos de corrupção que envolvem autoridades e matérias sobre fraudes em setores como o microcrédito.
O jornalista de 36 anos saiu da delegacia e, sem conter as lágrimas, agradeceu a solidariedade nacional e internacional. Ele prometeu prosseguir com o trabalho de investigação. Uma investigação foi aberta sobre os policiais que prenderam o jornalista - os agentes permanecerão afastados das funções durante o inquérito. Além disso, dois comandantes da polícia moscovita foram demitidos.
Esta é uma decisão quase sem precedentes na Rússia, onde as forças de segurança e a polícia geralmente são acusadas de inventar casos de drogas para atingir vozes críticas e as absolvições são incomuns.
A diretora do portal Meduza, para o qual trabalha Golunov, Galina Timchenko, explicou que o jornalista está bem. "(Ele) se recupera, dormiu e teve reuniões com advogados." Ela e outros companheiros de Golunov compareceram a manifestação "para agradecer o apoio mostrado a Ivan".
A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), apesar de comemorar o "nível histórico de pressão da sociedade civil russa" pela libertação de Ivan Golunov, lembrou que seis outros jornalistas permanecem detidos por várias acusações na Rússia. "A prisão de Ivan Golunov destaca a completa impunidade de policiais corruptos", disse a RSF em um comunicado. "Se o comportamento deles chocou Moscou, ainda bastante comum no resto da Rússia." / AFP, EFE e AP