Mugabe resiste à pressão de militares para deixar governo do Zimbábue
Segundo fonte de inteligência, ditador que comandava nação desde 1980 resiste à mediação de um padre católico que visa lhe conceder saída honrosa na esteira de golpe militar; líder opositor Morgan Tsvangirai voltou ao país, alimentando especulações
Por Redação
Atualização:
HARARE - O presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, insiste que é o único governante legítimo do país e está resistindo à mediação de um padre católico que visa conceder ao ex-guerrilheiro de 93 anos uma saída honrosa na esteira de um golpe militar, disse uma fonte de inteligência nesta quinta-feira, 16.
O padre Fidelis Mukonori está atuando como intermediário entre Mugabe e os generais que tomaram o poder na quarta-feira por meio de uma operação direcionada a “criminosos” ligados ao presidente, disse uma fonte política de alto escalão à agência Reuters.
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A fonte não pôde dar detalhes das conversas, que parecem buscar uma transição suave e pacífica após a saída de Mugabe, que comanda o Zimbábue desde sua independência em 1980.
Mugabe, ainda visto por muitos africanos como um herói da libertação, é repudiado no Ocidente, que o vê como um déspota cujas desastrosas medidas econômicas e disposição para recorrer à violência para se manter no poder destruíram um dos Estados mais promissores da África.
Relatos da inteligência zimbabuana vistos pela Reuters levam a crer que o ex-diretor de segurança Emmerson Mnangagwa, demitido da Vice-Presidência no mês passado, está elaborando uma visão pós-Mugabe para o país com os militares e a oposição há mais de um ano.
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Alimentando a especulação de que tal plano pode estar sendo acionado, o líder opositor Morgan Tsvangirai, que passa por tratamento de câncer no Reino Unido e na África do Sul, voltou à capital Harare na noite da quarta-feira, informou seu porta-voz.
Os 17 chefes de Estado e governo há mais tempo no poder
1 / 17Os 17 chefes de Estado e governo há mais tempo no poder
Elizabeth II - Rainha da Grã-Bretanha desde 1952
Tornou-se, em 9 de setembro de 2015, a monarca que ficou por mais tempo no poder. Hoje ela tem 91 anos e é também a monarca mais idosa do mundo. Foto: Stefan Wermuth/REUTERS
Khalifa bin Salman Al Khalifa - Primeiro-ministro do Bahrein desde 1970
O príncipe é primeiro-ministro do país, situado no Golfo Pérsico, desde 10 de janeiro de 1970. Presenciou a independência do país em 1971, é o tio do ... Foto: Peerapat Wimolrungkarat/Creative CommonsMais
Qaboos bin Said al Said - Sultão do Omã desde 1970
É sultão desde 23 de julho de 1970, quando depôs seu pai e o mandou para o exílio na Grã-Bretanha. Pouco menos de dois anos depois, em 2 de janeiro de... Foto: Fadi Al-Assaad/REUTERSMais
Margrethe II - Rainha da Dinamarca desde 1972
Assumiu o trono em 14 de janeiro de 1972 e, atualmente, é também autoridade suprema da Igreja da Dinamarca e comandante-chefe das forças de defesa do ... Foto: Jason Lee/REUTERSMais
Carl XVI Gustaf - Rei da Suécia desde 1973
O monarca está no poder desde 15 de setembro de 1973 e não quis usar o tradicional título “Pela graça de Deus Rei da Suécia, dos Godos e dos Vênedos”,... Foto: Ints Kalnins/ REUTERSMais
Paul Biya - No poder desde 1975, atual presidente do Camarões e ex-primeiro-ministro
Sob o governo do presidente Ahmadou Ahidjo, foi secretário-geral da presidência entre 1975 e 1982. Sucedeu Ahidjo em 6 de novembro de 1982 e tem 84 an... Foto: Benoit Tessier/REUTERSMais
Mohamed Abdelaziz - Presidente da República Árabe Saharaui Democrática (RASD) há 39 anos
Assumiu o poder em 30 de agosto de 1976 e tem, atualmente, 68 anos. O Brasil não reconhece a República Árabe Saaraui Democrática, na região do Sahara ... Foto: Andrea Comas/REUTERSMais
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo - No poder desde 1979, atual presidente da Guiné Equatorial, ex-presidente do conselho militar revolucionário e do conselho militar supremo
Assumiu a presidência ao depor o tio, Francisco Macías, em 3 de agosto de 1979. Macías era conhecido como “o Dachau da África” - em referência ao camp... Foto: Amr Abdallah Dalsh/REUTERSMais
Robert Mugabe - Presidente do Zimbábue desde 1980
O presidente do país no sul do continente africano foi eleito em 1980 e é acusado de usar a violência em diversos momentos para garantir suas vitórias... Foto: Philimon Bulawayo/REUTERSMais
Ali Khamenei - Aiatolá do Irã desde 1981
O sistema iraniano permitiu que Khamenei fosse eleito presidente em 1981 e declarado aiatolá - o líder supremo do país - em 1989, sucedendo Ruhollah K... Foto: Leader.ir/Handout/ReutersMais
Hans-Adam II - Rei de Liechtenstein desde 1984
O rei de Liechtenstein, o minúsculo principado encravado entre a Suíça e a Áustria, assumiu o poder em 1984 - mas apenas em 1989 assumiu a coroa. Tem ... Foto: David W Cerny/REUTERSMais
Hun Sen - Primeiro-ministro do Camboja desde 1985
O primeiro-ministro do país, situado no sudeste asiático, é visto como um ditador, capaz de destruir oponentes políticos desde sua posse, em 1985. Tem... Foto: Mak Remissa/EFE/EPAMais
Yoweri Museveni - Presidente de Uganda desde 1986
O presidente do país no centro do continente africano chegou ao governo por meio de golpe de Estado em janeiro de 1986 - e nunca mais saiu de lá. Está... Foto: Tiksa Negeri/REUTERSMais
Mswati III - Rei da Suazilândia desde 1986
O sexagésimo filho do antigo rei Sobhuza II assumiu o poder em 1986, logo após completar 18 anos. O atual líder do pequeno país ao leste da África do ... Foto: Mary Altaffer/REUTERSMais
Akihito - Imperador do Japão desde 1989
Akihito é o último monarca do planeta a ter o título de “Imperador”, cargo que herdou de seu pai, o lendário Hirohito, após sua morte em 1989. Tem 83a... Foto: Issei Kato/REUTERSMais
Omar Al-Bashir - Presidente do Sudão desde 1989
O presidente do país africano tomou o poder por um golpe de Estado, e foi reeleito em eleições marcadas por fraudes e violência. É o único chefe de Es... Foto: Pius Utomi Ekpei/AFP PhotoMais
Nursultan Nazarbayev - Presidente do Casaquistão desde 1989
O líder casaque se aproveitou do desmembramento das repúblicas da União Soviética, ainda em 1989, e assumiu o comando. Sempre envolvido em corrupção e... Foto: Shamil Zhumatov/REUTERSMais
A África do Sul disse que Mugabe relatou ao presidente sul-africano, Jacob Zuma, por telefone, na quarta-feira, que está confinado em sua casa, mas que de resto está bem e os militares o estão mantendo e à sua família em segurança, incluindo sua mulher, Grace.
Apesar da admiração ainda existente por Mugabe, o povo é pouco afeito a Grace, de 52 anos, ex-datilógrafa do governo que iniciou um caso com Mugabe no início dos anos 1990 enquanto sua primeira esposa, Sally, sucumbia a uma doença renal.
Apelidada de “DisGrace” ou “Gucci Grace” devido a seu suposto amor por marcas famosas, ela teve uma ascensão meteórica nas fileiras do partido governista do marido, a União Nacional Africana do Zimbábue - Frente Patriótica (ZANU-PF), nos últimos dois anos, o que culminou com a demissão de Mnangagwa uma semana atrás - manobra que se acredita ter sido realizada para abrir caminho para Grace suceder Mugabe.
Normalidade
Harare, capital do Zimbábue, amanheceu nesta quinta-feira em aparente calma, apesar do clima de tensão vivido no país após a intervenção militar contra o governo de Mugabe.
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O tráfego recuperou seus níveis habituais, na zona diplomática de Mount Pleasant desapareceram os controles que foram levantados na véspera e as escolas retomaram suas aulas.
O diretor da Comissão de Administração Pública do Zimbábue, Mariyawanda Nzuwah, pediu a todos os funcionários que fossem trabalhar, segundo o jornal estatal "The Herald".
"Espera-se que todos os funcionários apareçam no local de trabalho todos os dias a tempo de servir o povo do Zimbábue", manifestou Nzuwah, garantindo que todos os funcionários públicos - incluindo membros do Exército - receberiam seu salário a tempo.
Muitas pessoas não trabalharam na quarta-feira, depois que os militares bloquearam os acessos aos principais edifícios governamentais da cidade, assim como o Parlamento.
Enquanto Mugabe segue sob prisão domiciliar, o outrora fiel a ele - e ao seu partido - "The Herald", publica nesta quinta um editorial onde comenta que, "se a intervenção militar pode fazer com que os cargos do partido voltem suas atenções para aqueles que votaram neles, a ação já terá feito muito" pela ZANU-PF. / REUTERS e EFE