Mulher de Fillon recebeu 500 mil euros como funcionária fantasma, diz jornal

Penelope Fillon teria sido contratada entre 1998 e 2002 como assessora do marido, mas nunca teria trabalhado efetivamente no Legislativo francês; candidato à presidência pela direita se disse 'ultrajado' com acusação

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PARIS - O candidato presidencial da direita francesa, François Fillon, viu-se envolvido ontem em uma polêmica depois que um jornal o acusou de empregar como funcionária fantasma a própria mulher, que teria trabalhado como assessora parlamentar quando ele foi deputado.

Após as revelações, a Justiça abriu uma investigação por suspeita de “desvio de dinheiro público”, a menos de três meses para o primeiro turno da eleição presidencial, onde Fillon é um dos favoritos. O jornal Le Canard Enchaîné, que mistura sátira com jornalismo investigativo, assegura que quando Fillon foi deputado, sua mulher, Penelope, recebeu pagamentos de um orçamento destinado às assessorias.

O candidato à presidência da França, François Fillon (D), refutou a acusação de que sua mulher, Penelope, recebeu € 500 mil como funcionária fantasma do Legislativo Foto: AFP PHOTO / PHILIPPE LOPEZ

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A mulher do candidato da direita francesa, que sempre se apresentou como dona de casa, recebeu do marido como suposta assessora cerca de ¤ 500 mil (R$ 1.699.000) ao longo de vários anos, segundo o semanário. Segundo a lei francesa, a contratação de um parente não é proibida, desde que a pessoa desempenhe funções efetivas, mas o Canard Enchaîné afirma que não havia registros de atividades de Penélope, nem de sua presença na Assembleia. Os deputados franceses dispõem de um montante mensal (¤ 9.561 em 2016) para remunerar o trabalho real de até cinco colaboradores, mesmo parentes, lembra o veículo.

“Foi aberta a estação da campanha suja”, lamentou Fillon ontem, em reação às acusações do Canard Enchaîné, antes do anúncio da abertura da investigação judicial. “Quero dizer que estou escandalizado com o desprezo e a misoginia deste artigo”, acrescentou. “Porque ela é minha mulher não tinha o direito de trabalhar? Imaginem por um momento que um político diz que uma mulher, como afirma este artigo, só sabe cozinhar. Todas as feministas se rebelariam!”, ressaltou.

Essas alegações chegam em um momento muito ruim para Fillon, que foi primeiro-ministro no governo de Nicolas Sarkozy (2007-2012), considerado o favorito nas pesquisas para vencer a eleição presidencial no segundo turno contra a candidata da extrema-direita Marine Le Pen. Fillon defende um programa econômico considerado muito duro por seus adversários, e defende a supressão de centenas de milhares de postos de trabalho no serviço público.

A prática de empregar parentes é legal e comum na França: em 2014, de 10% a 15% dos parlamentares contavam com um membro da família entre seus assessores, mas com a condição de que não fosse um emprego fantasma. O Canard Enchainé indicou, citando as folhas de pagamento, que Penelope tinha recebido pagamentos entre 1998 e 2002 como assistente parlamentar. Entre 2002 e 2007, quando Fillon assumiu o cargo de chefe de governo, Penelope continuou contratada por seu suplente, Marc Joulaud, com honorários mensais de entre ¤ 6.900 e ¤ 7.900. / AFP

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