No Peru, Castillo adia posse de ministros e analistas veem riscos para novo presidente

Indicado pelo líder do Peru Livre para chefiar o Conselho Ministerial enfrenta resistência por conta de problemas com a Justiça; provável ministro da Economia é nome moderado e com diálogo junto aos mercados

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Por Redação
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LIMA — Horas antes de Pedro Castillo prestar juramento no Congresso, em Lima, e assumir a presidência do Peru, a equipe responsável pela transição anunciou que a posse do ministério, também prevista para esta quarta-feira, seria adiada para sexta-feira. Segundo a imprensa peruana, o atraso se deve a indefinições sobre os nomes da equipe, em especial sobre a presidência do Conselho de Ministros, cuja posse está marcada para esta quinta-feira.

O maior foco de pressão vem do próprio partido de Castillo, o Peru Livre. Seu líder, Vladimir Cérron, que quer um governo mais à esquerda do que o proposto pelo novo presidente, defende o nome de Róger Nájar, responsável pelo Plano Bicentenário, um programa para os primeiros 100 dias de governo de Castillo.

O presidente do Peru, Pedro Castillo,ao sair do Congresso após sua cerimônia de posse em Lima, em 28 de julho de 2021. Foto: Presidência Peruana / AFP

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Este ano, Nájar tentou se candidatar ao Congresso, mas teve o registro excluído por causa de problemas com a Justiça: ele não informou às autoridades eleitorais que enfrentou um processo pelo não pagamento de pensão alimentícia a uma filha cuja paternidade ele nunca reconheceu.

Segundo Grace Kelly Nájar Escudero, sua mãe tinha apenas 14 anos quando engravidou de Nájar, à época com 30 anos — ao se recusar a fazer um aborto, em 1987,ela ouviu do hoje candidato a chefiar o Conselho de Ministros que ele não ajudaria nos gastos com a menina, hoje com 34 anos.

Há ainda questões relacionadas à declaração de gastos relativos a uma candidatura fracassada ao governo da região de Ucayali, em 2019. Com tantas manchas em seu passado político, não foram poucas as vozes, incluindo na esquerda, a se levantarem contra a indicação.

“Não queremos mais impunidade em um país justo. Que a esperança de um novo e melhor Peru se veja refletida naqueles que formarão o governo. Exigimos um governo sem agressores”, escreveu, no Twitter, a ex-deputada Indira Huilca, do partido Novo Peru.

Alguns aliados sugerem a indicação da vice-presidente, Dina Boluarte, também do Peru Livre, como nome de consenso, permitindo o anúncio oficial dos ministros. A necessidade de equilibrar as forças dentro de um governo que precisará fazer concessões ao Congresso, comandado pela oposição, também influencia na escolha de nomes vistos como menos radicais.

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Nesta linha, um dos principais ministros do novo governo deve ser Pedro Francke, moderado de esquerda cotado para a Economia, e que trabalhou para amenizar a imagem de radical de Castillo junto aos mercados. Ele é o autor da maior parte das propostas defendidas no discurso do novo presidente, incluindo medidas para a geração de 1 milhão de empregos em um ano, além de ações para conter a inflação e o compromisso com o respeito à propriedade privada.

Para a pasta da Saúde, a aposta é no médico ex-congressista Hernando Cevallos, outro aliado de Vladimir Cerrón. Nas Relações Exteriores, surgiu nos últimos dias o nome do sociólogo Héctor Béjar — antes da posse de Castillo, ele participou de uma reunião com o presidente equatoriano, Guillermo Basso, em Lima, ao lado de Dina Boluarte.

De acordo com especialistas, adiar a posse de um Gabinete não deixa de ser um risco para o novo presidente, uma vez que suas decisões não terão qualquer validade sem que haja uma equipe de ministros em seus postos.

Em entrevista ao jornal El Comercio, o advogado constitucionalista Alejandro Rospigliosi alerta que, na prática, o país se encontra em um “vácuo de poder”, uma vez que o mandato dos ministros do governo de Francisco Sagasti também chegou ao fim nesta quarta-feira.

A Constituição peruana, em seu artigo 120, considera nulos os atos que precisam de confirmação ministerial, mas também não delimita um prazo para que os ministros sejam apresentados — ou seja, ao atrasar a posse de seu Gabinete, Castillo não está violando a lei.

Os juristas lembram do caso de Martín Vizcarra (2018-2020): a posse do presidente do conselho ministerial, Vicente Zeballos, ocorreu no mesmo dia do juramento do então presidente ao Congresso. Contudo, o Gabinete só foi anunciado três dias depois. /  AFP e EFE

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