NAÇÔES UNIDAS – Cerca de 814 toneladas de alimentos e remédios entraram na Venezuela contrabandeados nas últimas seis semanas. O coordenador para ajuda humanitária do líder opositor Juan Guaidó disse na ONU nesta quarta-feira, 8, que o resultado ocorre graças a “heróis anônimos” que trabalham na fronteira.
“A diáspora venezuelana mostrou que se fecham a porta a ela, entra pela janela”, disse Lester Toledo antes de se reunir com o delegado da Caritas para ONU, Joseph Donnelly. Além da Caritas, ligada à Igreja Católica, Toledo indicou ter se encontrado em Nova Yorque com representantes de organizações da sociedade civil e do âmbito humanitário, grandes empresas e embaixadas de diferentes governos.
O representante do governo de Guaidó indicou que a ajuda vem do Brasil, de Curaçao, do Panamá, dos Estados Unidos, do setor privado e “da diáspora venezuelana que se organiza e faz megacoletas humanitárias”.
Mais de 100 toneladas de comida teriam chegado recentemente à Santa Helena, no Estado de Bolívar, na fronteira com o Brasil. Além dos alimentos, cadeiras de rodas, geradores, e material ortopédico também estariam entre os itens enviados.
Descritos como “heróis anônimos”, Toledo explicou quem facilita a ação: “esses militares que estão nos vendo e escutando, essas pessoas que trabalham nas aduanas, que trabalham nas fronteiras, que fazem possível para que entre (a ajuda)”. E acrescentou sobre os esforços em barrar os auxílios: “A ajuda humanitária é um fato, está entrando sim ou sim. Por distintos caminhos. Por ar, por mar, por terra.”
Toledo, que é deputado do Conselho Legislativo do Estado de Zulia, apontou que após a tentativa frustrada de conduzir comboios com ajuda pela fronteira com a Colômbia e outros pontos, se passou a “uma segunda fase”, na qual todos os meios são buscados.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha distribui desde 16 de abril ajuda humanitária em meio à disputa de poder na Venezuela. Foi nesta data que o presidente Nicolás Maduro autorizou a entrada do auxílio. Ainda assim, Toledo assegurou que nem as 800 toneladas logradas pela oposição, nem a ajuda da Cruz Vermelha, são suficientes.
O deputado defendeu uma mudança como solução para o problema humanitário: “Que venha um Governo de transição que permita que não tenhamos que praticamente contrabandear a ajuda humanitária.”
Segundo a ONU, ao menos 7 milhões de pessoas, cerca de 25% da população da Venezuela, necessita de ajuda humanitária urgente. O país sofre uma grave crise econômica, com uma hiperinflação que o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta em 10.000.000%. A organização estima que a cada dia cerca de 5.000 venezuelanos abandonam seu país por falta de alimentos, atenção médica e remédios. Desde 2015, o êxodo é de quase 3 milhões de pessoas.
A ONU indicou que segue trabalhando com o governo de Maduro para responder à situação humanitária, ainda que também mantenha contatos com quadros ligados a Guaidó. Toledo não indicou ter se encontrado com membros da organização em Nova Iorque. O líder opositor Guaidó dirige o Parlamento e é considerado presidente interino da Venezuela pelo Brasil, os Estados Unidos, e mais de 50 países. /AFP e EFE