Peru fecha e militariza fronteiras com Chile, Brasil e outros países para conter imigração

Chanceler chileno, Alberto van Klaveren, convocou o embaixador peruano em Santiago, Jaime Pomareda, para pedir explicações

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Por Redação
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LIMA - Era questão de tempo para que o endurecimento das regras migratórias no Peru provocasse uma crise diplomática com o Chile. Um dia depois de a presidente peruana, Dina Boluarte, restringir a entrada de estrangeiros, o chanceler chileno, Alberto van Klaveren, convocou o embaixador peruano em Santiago, Jaime Pomareda, para pedir explicações.

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O Peru irá manter por 60 dias o estado de emergência e a militarização de suas fronteiras com Brasil, Chile, Bolívia, Equador e Colômbia para reforçar o controle diante da chegada de migrantes, a maioria procedente do Chile, segundo um decreto oficial publicado na quinta-feira, 27. A medida incluirá a restrição de direitos como o de liberdade de trânsito e reunião nas fronteiras.

A crise se agravou nesta sexta-feira, 28, porque Pascual Güisa, prefeito de Tacna, cidade peruana na fronteira com o Chile, descreveu o presidente chileno, Gabriel Boric, como “irresponsável”. “Não devemos permitir que uma pessoa irresponsável, como o presidente do Chile, transfira os problemas de uma fronteira para outra”, disse Güisa.

Policiais chilenos patrulham a fronteira com o Peru  Foto: Patricio Banda/Aton Chile via AP

Pressionado internamente, Boric endureceu as regras migratórias primeiro, o que levou muitos imigrantes venezuelanos e haitianos a deixarem o Chile. Percebendo um aumento do fluxo de estrangeiros vindos do sul, em direção a Tacna, Dina decretou estado de emergência e militarizou as fronteiras.

A presidente do Peru culpa os imigrantes pelo aumento da criminalidade e faturou politicamente com a decisão de endurecer a entrada de estrangeiros. Mas criou uma crise humanitária, porque cerca de 200 pessoas acabaram presas na fronteira, sem conseguir entrar no Peru ou voltar para o Chile.

Os imigrantes reclamam que estão presos no meio do deserto, sob sol, frio e sem assistência médica, água ou comida. O impasse já preocupa a Agência da ONU para Refugiados (Acnur), que alertou para a deterioração da situação humanitária na cidade de Tacna, na quinta-feira.

Um grupo de imigrantes mais exaltado entrou em confronto com a polícia peruana, chegou a romper uma barreira e entrar no Peru, mas foi detido pela tropa de choque enviada para auxiliar os guardas na fronteira.

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Nesta sexta-feira, o chanceler chileno reconheceu que o estado de emergência decretado no Peru “aumentou a pressão” na fronteira norte. “Há um problema humanitário importante. Precisamos da ajuda de organizações internacionais com experiência neste assunto”, disse Klaveren.

Cerco a imigrantes

O Peru impede a passagem dos mesmos devido à falta de passaporte carimbado e visto válido. Vários migrantes ouvidos pela agência France Presse nos últimos dias afirmaram que pretendem apenas cruzar o território peruano rumo a seus países de origem.

Ao mesmo tempo que militarizou as fronteiras, o governo ordenou uma anistia por seis meses das multas aplicadas aos estrangeiros que permanecem ilegalmente no Peru, para que, neste intervalo, eles regularizem sua situação.

O Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) estimou que a anistia permitirá que “100 mil refugiados e migrantes no país possam se regularizar e atualizar seus dados”./ AFP e EFE

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