A retomada da campanha para o referendo que definirá o futuro do Reino Unido na União Europeia trouxe duas novidades ontem: o tom mais ameno dos políticos e as primeiras pesquisas realizadas após o assassinato da deputada Jo Cox por um militante de extrema direita. Nesses levantamentos, há enfraquecimento do voto para a saída da União Europeia (UE) e retomada da liderança do “Permanecer” em quatro pesquisas.
A campanha pela permanência dos britânicos na UE parece ganhar fôlego para a votação no referendo marcado para quinta-feira. O respiro vem das novas pesquisas eleitorais realizadas após a tragédia que tirou a vida da parlamentar trabalhista Jo Cox. No domingo, dois levantamentos já mostravam que os votos pró-Europa voltaram a liderar com pequena vantagem entre um e três pontos porcentuais.
Essa tendência voltou a se repetir em duas pesquisas conhecidas na noite de ontem. O levantamento ORB para o jornal Telegraph mostrou liderança de 7 pontos ao grupo favorável à UE, com 53% pelo “Permanecer” e 46% para o “Sair”. O cenário é semelhante ao registrado pelo Centro Nacional de Pesquisa Social, que apontou liderança do grupo favorável à permanência no bloco (53% a favor e 47%, contra).
Os números mostram reversão da tendência recente. Na pesquisa ORB, por exemplo, o voto pelo Brexit liderava no dia 13 com 49% e o contra a saída tinha 48% .
O mercado de apostas também tem mostrado forte reação do voto pró-Europa. Ontem, a corretora Betfair encerrou o dia com o conjunto das apostas indicando que a probabilidade de Brexit – como a saída britânica da UE vem sendo chamada – caiu para 22%. Na terça-feira passada, o placar mostrava chance de 40% para a saída do bloco.
O movimento foi suficiente para instalar um clima de euforia no mercado financeiro. A Bolsa de Londres subiu mais de 3% e a libra esterlina se valorizou mais de 2% após a divulgação das novas pesquisas.
Impacto. Tantos números, porém, não têm sido comemorados pelos políticos. Líderes da campanha pela permanência têm demonstrado cautela e preferem continuar tentando angariar eleitores.
Na campanha pelo Brexit, o tom também tem sido cauteloso. Em comício na noite de ontem, um dos principais líderes do grupo, Nigel Farage, usou termos amenos para criticar a imigração. “Todos nós temos de pedir uma migração razoável, balanceada e controlada para que o número certo de pessoas possa entrar no nosso país e se beneficiar da nossa sociedade”, disse.
Antes da morte da parlamentar – Jo Cox era fervorosa defensora da permanência na UE e militava em favor da causa dos imigrantes –, Farage usava com frequência discursos fortes e apresentou um polêmico cartaz com uma foto de centenas de refugiados caminhando com a frase “Hora de ruptura”.
Cerimônia. O Parlamento interrompeu ontem o recesso prévio ao referendo para realizar uma sessão especial em homenagem à parlamentar assassinada na semana passada. A cerimônia contou com a presença do viúvo, Brendan Cox, e as duas filhas pequenas do casal. Com rosas brancas na lapela, deputados de todos os partidos fizeram discursos em memória de Jo Cox.
O líder dos Trabalhistas, Jeremy Corbyn, apelou para que políticos sejam “mais amáveis e gentis”. Ele também dirigiu-se aos colegas políticos afirmando que “todos temos uma responsabilidade, nessa Casa e além dela, de não fomentar ódio e divisão” entre os cidadãos britânicos.
O primeiro-ministro David Cameron qualificou a parlamentar como “extraordinária” e o ataque contra a jovem deputada como repugnante e desprezível. “Jo Cox era uma voz de compaixão, com espírito irrefreável e energia sem fronteiras que iluminaram as vidas de todos os que a conheceram, e (ela) salvou as vidas de muitos que nunca chegou a conhecer.”
A cerimônia terminou com uma salva de palmas dos parlamentares na direção da tribuna onde a família da deputada assassinada estava.