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Presidente da Argentina pede investigação sobre juízes e promotores antes de julgamento de Cristina

Em pronunciamento em rede nacional, Alberto Fernández pediu uma investigação por suposto encontro entre juízes, promotores e empresários de mídia que teriam interesse na condenação de sua vice

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Por Redação
Atualização:

BUENOS AIRES ― O presidente da Argentina, Alberto Fernández, ordenou a abertura de uma investigação criminal sobre um possível conluio entre juízes e promotores que atuam no processo contra a vice-presidente Cristina Kirchner e empresários da mídia argentina nesta segunda-feira, 5, um dia antes do tribunal de primeira instância que julga a ex-presidente por corrupção apresentar seu veredicto.

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Em um pronunciamento transmitido em rede nacional (assista abaixo), Fernández afirmou que juízes e promotores envolvidos no caso de Cristina se reuniram a convite de empresários de mídia em Lago Escondido, na Patagônia, com o compromisso de que as informações sobre o encontro não seriam divulgadas.

“Fere a democracia ver a promiscuidade antirrepublicana com que se movem alguns empresários, juízes, promotores e funcionários. Até aqui, eles se sentiram impunes. É hora de começarem a prestar contas por suas condutas”, declarou o presidente.

Informações sobre o suposto encontro foram divulgadas inicialmente pelo jornal argentino “Página 12″, em 17 de outubro. De acordo com a investigação, juízes, promotores, empresários e funcionários da prefeitura de Buenos Aires, controlada pela oposição, fizeram uma viagem à Patagônia em 13 de outubro.

Ainda de acordo com a investigação jornalística, as autoridades envolvidas na viagem teriam se deslocaram em um avião particular e se hospedado na casa de campo do milionário britânico Joe Lewis, dono de milhares de hectares no sul do país.

“É evidente que grande parte do sistema de mídia privado decidiu não dar conta do ocorrido nessa viagem singular a Lago Escondido”, acrescentou Fernández em seu pronunciamento.

O caso foi reacendido no fim de semana, quando uma série de mensagens de um chat na plataforma Telegram vieram à tona, em que os supostos participantes da viagem pareciam combinar uma estratégia para evitar a divulgação do caso e esconder a origem do financiamento, como indicam os áudios e textos divulgados por diversos veículos.

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“Parece evidente que a viagem ocorreu, e tudo parece indicar que, sabendo que o fato havia virado notícia, aqueles que teriam participado do mesmo se preocuparam com o risco de terem incorrido em uma série de crimes, como o não cumprimento de deveres de um funcionário público”, advertiu o presidente.

Integrantes da oposição se pronunciaram após a fala de Fernández e negaram qualquer irregularidade. O prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, respaldou seu ministro da Justiça, Marcelo D’Alessandro, um dos supostos integrantes da comitiva à Patagônia.

“Estamos diante de uma nova operação do kirchnerismo que recorre à manipulação da informação e à espionagem ilegal. Tentam distrair a atenção dos temas importantes e gerar a sensação de que somos todos iguais”, escreveu Rodríguez Larreta.

As acusações contra Cristina Kirchner acentuaram a polarização política no país, principalmente nos últimos meses, desde que a promotoria argentina pediu uma condenação de 12 anos de prisão e cassação perpétua dos direitos políticos da líder peronista em agosto, por supostamente conceder contratos fraudulentos de obras públicas na província de Santa Cruz, seu berço político no sul do país. Enquanto Cristina culpa a Justiça e adversários políticos de perseguição, adversários culpam a vice-presidente de usar sua retórica para acusá-los de crimes e atos antiéticos.

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Em pouco mais de três meses desde o pedido da promotoria, manifestações convocadas pelos K (pró Cristina) e os AntiK (contra) se espalharam pelo país, a mais famosa delas, em frente a casa da vice-presidente no bairro da Recoleta, em Buenos Aires, terminando com uma tentativa de homicídio.

Há menos de um mês, Cristina acusou o deputado oposicionista Gerardo Milman de envolvimento com o atentado, e pediu o afastamento da juíza María Eugenia Capuchetti, que conduz a investigação, a quem acusou de não apurar o que considera evidências sobre o envolvimento do adversário político no caso. Milman tem negado reiteradamente qualquer participação no atentado e acusa kirchneristas de uma “operação suja” contra ele./ Com AFP

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