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Quatro policiais são indiciados por agredir um homem negro na França

Imagens de câmeras de segurança mostram os agentes agredindo o produtor musical Michel Zecler

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Por Redação
Atualização:

PARIS - Quatro policiais foram indiciados e dois foram presos no âmbito do processo aberto por espancamento de um produtor musical negro em Paris, em um caso de violência policial no meio do debate sobre um projeto de lei de segurança global.

O juiz de instrução acusou três dos quatro policiais de "violência voluntária por pessoa depositária de autoridade pública" e "mentira em escritura pública", conforme solicitado pelo Ministério Público de Paris.

Quatro agentes foram suspensos após agredirem Michel, um produtor musical negro Foto: Thibault Camus/AP

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Esses são os três policiais que aparecem em um vídeo divulgado nesta quinta-feira, 26, e que foi gravado pelas câmeras de segurança do estúdio de música em que os policiais são vistos espancando o produtor Michel Zecler, fato descrito como "vergonha" pelo Presidente Emmanuel Macron.

O policial suspeito de ter lançado uma granada lacrimogênea no estúdio do músico onde ocorreu o atentado foi acusado de "violência voluntária" contra o produtor musical e contra outros nove jovens que estavam naquele momento no porão do estúdio.

A promotoria havia solicitado a prisão provisória dos três primeiros e um controle judicial para o quarto, mas o juiz decidiu prender dois e deixar outros dois sob controle judicial.

Os advogados de três deles, Anne-Laure Compoint (que defende dois) e Jean-Christophe Ramadier (que defende um) se recusaram a comentar a decisão do juiz no final da audiência que acabou por volta das 4h30min (hora local) desta segunda-feira.

A detenção dos agentes deve permitir “evitar o risco de que se combinem” entre si ou "pressionem testemunhas”, defendeu o procurador Rémy Heitz ao explicar o seu pedido de prisão provisória.

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Os três principais arguidos admitiram à Polícia Especial que “os espancamentos não eram justificados e que reagiram principalmente por medo”, segundo o procurador. Eles invocaram "pânico" com a sensação de estarem presos na entrada do estúdio de música de Zecler que, segundo eles, estava resistindo.

Em vez disso, negaram "ter dirigido contra ele palavras racistas", como assegura Zecler, que declarou que o trataram como um "negro sujo", um insulto que também foi objeto de "um dos rapazes" presente no porão do estúdio. Eles também refutam o caráter "mentiroso da afirmação".

O ministro do Interior, Gérald Darmanin, prometeu quinta-feira a “revogação” dos policiais que “sujaram o uniforme da República”, assim que “a justiça determinar os fatos”.

Este caso, que veio à tona graças à divulgação de vídeos gravados pelas câmeras de segurança do local, parece ter dado argumentos a opositores da lei de segurança global, cuja principal medida é limitar a possibilidade de filmar as forças de ordem.

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Mais de 130 mil pessoas se manifestaram no sábado, de acordo com o Ministério do Interior, e mais de 500 mil, de acordo com os organizadores, para protestar contra a lei em toda a França. Em Paris houve alguns confrontos violentos com as forças da ordem.

De acordo com um balanço do Ministério do Interior, 98 policiais e gendarmes ficaram feridos e 81 pessoas foram presas. Em Paris, um fotógrafo freelance sírio, colaborador da AFP, foi ferido no rosto. 

Diversos vídeos veiculados nas redes sociais mostram policiais sendo agredidos por manifestantes, fato que foi descrito pelo ministro como “violência inaceitável”. Em uma semana, a polêmica em torno do projeto de lei de segurança global, denunciado por jornalistas e defensores da liberdade pública, aumentou.

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A brutal evacuação de um campo de migrantes no coração de Paris na noite de segunda-feira e a revelação de quinta-feira do espancamento de Zecler gerou indignação e aumentou o tom do debate. Os vídeos desses dois casos foram vistos milhões de vezes nas redes sociais.

Na sexta-feira, Macron pediu ao governo que apresentasse rapidamente propostas para "lutar mais eficazmente contra toda a discriminação" pela terceira vez este ano./AFP

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