Quem é Pedro Castillo, o professor de esquerda que governará o Peru

Castillo aliou um discurso de esquerda, com a promessa de "não haver mais pobres em um país rico", com um moralismo conservador.

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Por Redação
Atualização:

Novo presidente do Peru, Pedro Castillo é um professor de escola rural que saiu do anonimato há quatro anos como líder de uma greve nacional de professores. Ele aliou um discurso de esquerda, com a promessa de "não haver mais pobres em um país rico", com um moralismo conservador.  O candidato do partido Perú Libre, de esquerda, teve sua vitória confirmada nesta segunda-feira, 19.

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Ele nasceu em Puña, povoado do distrito de Chota, região norte de Cajamarca.Ele é casado e tem três filhos. Sua esposa é evangélica, mas ele é católico. Sua mistura de moral conservadora e reivindicações sociais por mudança se adaptou bem a um país onde a religião costuma ser um fator eleitoral. Ele está acostumado a citar passagens bíblicas quando apela à moralidade para justificar sua rejeição ao aborto, casamento homossexual e eutanásia.  Com um chapéu branco típico de Cajamarca, percorreu as regiões do Peru, até a cavalo, para obter votos.

"Castillo é uma espécie de Lula do campo, sem as habilidades sindicais do ex-presidente brasileiro, mas se mostra um bom comunicador", disse à AFP a jornalista e analista Sonia Goldenberg. "Ele é um candidato muito melhor do que Keiko Fujimori para transmitir emoções", acrescenta.

Promete criar um milhão de empregos em um ano e nega que pretenda confiscar os fundos de pensão dos trabalhadores, como afirmam seus críticos. 

O sindicalista Pedro Castillo chega para votar montado em um cavalo em Cajamarca, sua terra natal Foto: Reuters

Agenda econômica

Perú Libre é um dos poucos partidos peruanos de esquerda que defende o regime do presidente venezuelano Nicolás Maduro e o candidato anunciou que se chegar ao poder o país recuperará o controle de sua energia e riquezas minerais, como gás, lítio e ouro, agora sob controle de multinacionais. No entanto, não especificou como o fará.

A possibilidade de vitória de Castillo despertou temores no empresariado,em investidores e setores da sociedade civil, mas não têm "nada a ver com a proposta da Venezuela", garantiu em entrevista à AFP seu principal assessor, Pedro Francke. 

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"Como tem dito o professor Pedro Castillo, não temos nada a ver com a proposta da Venezuela. Não faremos expropriações, não faremos estatizações, não faremos controles de preços generalizados, não faremos um controle de câmbio que faça com que não se possa comprar e vender dólares e tirar os dólares do país", disse o encarregado do programa econômico do candidato à Presidência . "Será mantida a autonomia do Banco Central de Reserva, é importante termos uma inflação baixa no Peru. Manteremos uma política de sustentabilidade fiscal de médio prazo, então na verdade nossa política não se parece em quase nada ou em nada com a da Venezuela", acrescentou Francke.

Rondas camponesas 

A greve nacional de 2017 durou quase 80 dias, exigindo um aumento salarial e a eliminação de um sistema polêmico de avaliação de professores.

A greve deixou 3,5 milhões de alunos de escolas públicas do país sem aulas e encurralou o então presidente Pedro Pablo Kuczynski, que inicialmente se recusou a dialogar com os grevistas até ceder e aceitar a maioria das demandas.

Numa tentativa de deslegitimar a greve, o então ministro do Interior, Carlos Basombrío, disse que os líderes do movimento estavam ligados ao Movadef, o braço político da derrotada guerrilha maoísta do Sendero Luminoso, um grupo ilegal considerado terrorista no Peru. 

"Rejeito categoricamente as denúncias", respondeu Castillo, que integrou em Cajamarca as "rondas camponesas" armadas que resistiram às incursões de Sendero nos dias difíceis do conflito interno (1980-2000).

Uma nova Constituição

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A proposta eleitoral do Perú Libre se baseia em uma tríade: saúde, educação e agricultura, setores prioritários para promover o desenvolvimento nacional, segundo Castillo. 

Também planeja convocar uma Assembleia Constituinte para redigir uma nova Constituição em seis meses para substituir a atual, que favorece a economia de livre mercado.

A Constituição de 1993 é um legado do governo Alberto Fujimori (1990-2000), pai de Keiko. O candidato também promete expulsar os estrangeiros que cometem crimes, em alusão tácita aos migrantes venezuelanos que chegaram desde 2017./ AFP

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