LONDRES - A primeira-ministra britânica, Theresa May, disse que, se o Parlamento britânico rejeitar o rascunho do plano de Brexit, o Reino Unido pode ficar sem sair da União Europeia. A fala de May nesta quarta-feira, 21, em uma sessão semanal de perguntas à primeira-ministra na Câmara dos Comuns, em Londres, foi uma forma de pressionar os parlamentares contrários à proposta.
O acordo apresentado pela primeira-ministra levantou uma forte oposição de legisladores do Reino Unido, especialmente políticos pró-Brexit que querem fazer uma ruptura total com o bloco econômico europeu. Os opositores dizem que o acordo fará com que o Reino Unido se curve às regras de Bruxelas.
Andrew Rosidenell, parlamentar do Partido Conservador, o mesmo de May, pressionou a primeira-ministra nesta quarta-feira a cortar “os tentáculos da União Europeia sobre a nossa querida nação.” Durante a sessão na Câmara dos Comuns, May replicou que o Reino Unido quer uma “relação comercial próxima com a UE” depois do Brexit e advertiu que a rejeição do Parlamento à proposta de acordo do governo poderia causar “mais incerteza, mais polarização ou poderia pôr em risco o Brexit”.
Rumo a Bruxelas
Depois de enfrentar o interrogatório parlamentar em Londres, a primeira-ministra britânica vai cruzar nesta quarta-feira o Canal da Mancha para visitar o presidente da Comissão da União Europeia, Jean-Claude Juncker. May esperava sair de Bruxelas com um acordo que pudesse ser aprovado no Parlamento britânico. Mas a conversa terminou sem consenso, e May terá de voltar a Bruxelas no sábado, 24, na véspera de apresentar os planos ao Parlamento britânico.
As preparações finais são feitas a tempo de um encontro neste domingo para assinar o plano de Brexit, mas alguns futuros laços entre União Europeia e Reino Unido ainda não foram definidos.
Nenhum dos dois lados tem espaço de manobra para polir o texto, mas May precisa mostrar que não deixou nada na mesa se quiser convencer os britânicos do Parlamento a ratificar o acordo nas próximas semanas.
Pressão da Irlanda do Norte e da Espanha
May é pressionada pelos seus aliados da Irlanda do Norte, que são contra o acordo porque dizem que enfraquece a soberania da região, e da Espanha, que avisou que pode se opor ao plano de Brexit apresentado por causa da questão com Gibraltar.
Dois dos principais ministros de May se demitiram na semana passada, incluindo o seu secretário responsável pelo Brexit, enquanto os membros do Parlamento de todos os partidos se pronunciaram contra a proposta, aumentando as chances de que o Reino Unido chegue sem um acordo ao prazo final para o início do Brexit, em 29 de março.
“É do meu entendimento que a Câmara dos Comuns não brecará o acordo. Não há maioria na Câmara para isso acontecer”, diz o secretário do Trabalho e Aposentadorias, Amber Rudd. Ele argumenta que os parlamentares deveriam apoiar o plano de May para restaurar segurança a tempo do prazo de 29 de março, mas outros legisladores, tanto do partido de May quanto da oposição, estão fazendo lobby por um segundo referendo para talvez reverter o Brexit.
Os funcionários do governo agora estão dispostos a concordar com o esboço da declaração sobre as futuras relações comerciais e de segurança para quando o Reino Unido deixar o mercado único e a união alfandegária da UE em março.
“Mostre nosso desgosto”
A oposição ao acordo está crescendo no campo pró-Brexit. Na segunda-feira 19, parlamentares do Partido Unionista Democrático (DUP) da Irlanda do Norte se abstiveram em três votações orçamentárias na Câmara dos Comuns e votaram contra um quarto em uma aparente ameaça ao acordo em apoiar o governo em questões financeiras.
Conservadores anti-Europa também criticaram o divórcio entre Reino Unido e UE, que eles dizem manter o Reino Unido muito próximo de Bruxelas. Rebeldes liderados pelo parlamentar Jacob Ress-Mogg falharam na tentativa de forçar um voto secreto contra a liderança de May, mas avisaram que continuarão tentando.
O plano de Brexit projeta uma transição de 21 meses para o divórcio, no qual tanto o Reino Unido quanto a União Europeia querem manter futuras relações comerciais, mantendo a união aduaneira, inclusive na Irlanda do Norte, em um mercado único. / AP, AFP e EFE