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Republicanos contrários à eleição de Trump irritam presidente americano

Projeto Lincoln e Eleitores Republicanos Contra Trump são alguns dos grupos que fazem campanha

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - Um grupo de consultores republicanos contrários à reeleição de Donald Trump tem tirado o presidente do sério nas últimas semanas. Com uma série de propagandas que se tornaram virais nas redes sociais, o grupo tem feito o próprio Trump se manifestar em suas redes sociais.

Em um dos vídeos, o veterano Dan Barkhuff, que lutou na Marinha americana, diz ser contra o aborto e a favor das armas, diz que não vota em Donald Trump: “Eu consigo enxergar Trump pelo que ele é”, afirma, antes de completar: “Um covarde”. O ex-militar é a estrela de uma das propagandas eleitorais do grupo, uma das peças mais compartilhadas na última semana nos Estados Unidos. 

Donald Trump e a primeira-dama Melania no Lincoln Memorial, em 2017 Foto: REUTERS/Mike Segar

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Criado em dezembro do ano passado, o Lincoln Project (Projeto Lincoln) reúne ex-estrategistas e consultores do Partido Republicano e é o responsável pela produção desse e de outros vídeos.

Com 1,2 milhão de seguidores no Twitter, o grupo ganhou fama com produções que atacam Trump, mas com um discurso mais alinhado a antigos eleitores republicanos insatisfeitos com o atual ocupante da Casa Branca.

O mais compartilhado dos vídeos causou a ira do presidente americano, que foi às redes sociais atacar os fundadores do Projeto Lincoln. Trump lembrou que muitos deles participaram de campanhas de candidatos que derrotou nas primárias do partido em 2016.

O Lincoln Project nasceu das mãos de um grupo de republicanos, entre os quais o advogado George Conway, marido da conselheira da Casa Branca, Kellyanne Conway.

Conta ainda com o apoio de John Weaver (consultor que trabalhou nas campanhas presidenciais de John McCain), Steve Schmidt (estrategista de comunicação que trabalhou na campanha de George W. Bush, entre outros) e Rick Wilson (responsável por vários anúncios políticos).

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Os quatro assinaram o artigo de opinião publicado a 17 de dezembro no The New York Times intitulado "Somos republicanos e queremos a derrota de Trump".

Nele, diziam que "nos próximos 11 meses, os nossos esforços vão ser dedicados a derrotar o presidente Trump e o trumpismo e eleger aqueles patriotas que vão manter a linha", alegando que o presidente e os seus apoiadores “abandonaram o conservadorismo e os princípios republicanos e os substituíram com o trumpismo, uma fé vazia liderada por um falso profeta".

O nome escolhido é uma homenagem a Abraham Lincoln, o 16.º presidente dos EUA (1861 até ao seu assassinato, em 1865), que esteve à frente do país durante a Guerra Civil e ficou conhecido como "Honest Abe" (Abe Honesto): "Ele percebeu a necessidade de não apenas salvar a União, mas também voltar a tecer e unir a nação espiritual e politicamente", escreveram.

O vídeo com Dan Barkhuff causou a ira do presidente americano, que foi às redes sociais atacar os fundadores do Projeto Lincoln.

“Um grupo de Republicanos Apenas No Nome que fracassaram enormemente 12 anos atrás, depois há oito anos e que foram vencidos por mim, um iniciante na política, quatro anos atrás, copiaram (sem imaginação) o conceito de uma propaganda de Ronald Reagan, fazendo o possível para ficarem quites com seus fracassos”, escreveu Trump, de madrugada, no Twitter.

A propaganda que enfureceu Trump foi divulgada em maio e tem mais de 2 milhões de visualizações no YouTube. Os criadores fizeram um jogo de palavras com uma das mais famosas propagandas do presidente Ronald Reagan (1981-1989), um herói para os republicanos.

Com o título “Morning in America” (Manhã nos Estados Unidos), a peça original da década de 1980 mostrava um país em franco crescimento graças à política econômica adotada pelo partido.

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Em maio, entretanto, o Projeto Lincoln usou o mesmo modelo para apresentar uma visão oposta: “Mourning in America” (Luto nos Estados Unidos) mostrava cidades decadentes, o crescente desemprego e o fracasso do governo federal em lidar com o novo coronavírus.

Donald Trump durante reunião de gabinete na Casa Branca Foto: Yuri Gripas/EFE

Veiculados muitas vezes nos intervalos dos programas de TV preferidos de Trump, esses anúncios parecem ter como objetivo não apenas convencer outros republicanos a apoiar Biden mas, principalmente, irritar o presidente e provocar uma resposta. E os esforços têm dado resultado.

"Sabem, estes perdedores não se importam com 252 novos juízes federais, dois grandes juízes do Supremo Tribunal, um exército reconstruído, uma segunda emenda protegida, os maiores cortes de SEMPRE de impostos e regulamentos e muito mais", escreveu Trump.

Ataques de Trump impulsionam grupo

Os ataques de Trump serviram para alavancar a popularidade do Lincoln Project e impulsionar a arrecadação de doações para o grupo.

O vídeo já teve mais de 30 milhões de visualizações, e o perfil do grupo no Twitter tem mais de 1,3 milhão de seguidores. Calcula-se que tenha arrecadado mais de US$ 1 milhão (cerca de R$ 5,3 milhões) em decorrência dos tuítes do presidente.

"Nós agradecemos a ele por toda a publicidade gratuita que tem dado ao nosso movimento e aos nossos esforços", disse o estrategista político Reed Galen, um dos fundadores do grupo, em artigo publicado pela rede NBC. "Mas sua incapacidade de se controlar ilustra ainda mais sua inaptidão para o cargo."

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“Nós esperamos o máximo possível para formar o grupo porque esperávamos que alguém, sobretudo alguém eleito, faria isso antes. Nós queremos pôr Trump na defensiva”, afirmou John Weaver, um dos fundadores.

Por enquanto, a estratégia tem funcionado. As últimas pesquisas no país já indicam que a rica campanha republicana terá que dispersar seus gastos, ao contrário do que aconteceu há quatro anos. 

Em 2016, Trump focou seu tempo e dinheiro em estados do chamado Cinturão da Ferrugem, como Wisconsin, Michigan e Pensilvânia, alguns dos mais afetados pela realocação de indústrias fora do país.

A vitória nos três estados, por uma diferença menor que 0,8 pontos percentuais, foi a diferença que garantiu a eleição de Trump no Colégio Eleitoral, mesmo sem ter a maioria dos votos populares em nível nacional.

Este ano, Biden aparece à frente de Trump não apenas nesses estados, mas também em outros que historicamente votam nos republicanos, como Arizona e Geórgia, nos quais candidatos democratas não vencem desde 1996 e 1992, respectivamente.

Preocupados com a ascensão de Biden nas últimas semanas, o Partido Republicano e a campanha do atual presidente resolveram gastar em propagandas em emissoras locais.

São os eleitores moderados republicanos e independentes nesses estados que o Projeto Lincoln quer trazer para o lado de Biden na eleição, segundo John Weaver.

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Eles rejeitam muitas das pautas mais à esquerda do Partido Democrata, mas também discordam da postura polarizadora de Trump. Na primeira pesquisa nacional feita pelo New York Times, Biden aparece 14 pontos percentuais à frente de Trump e lidera em seis dos estados mais disputados.

Criado em dezembro do ano passado, o Lincoln Project é um chamado "super PAC" (sigla em inglês para Comitê de Ação Política). Essas organizações não são ligadas oficialmente a nenhum candidato ou partido, mas podem arrecadar quantidade ilimitada de fundos e fazer campanhas a favor ou contra candidatos ou causas.

Os republicanos do Lincoln Project não são os únicos que estão arrecadando e investindo dinheiro para evitar um segundo mandato de Trump.

Republicanos em campanha por Joe Biden

Assim como ocorreu na eleição de 2016, também neste ano há outros grupos anti-Trump dentro do partido do presidente, entre eles o Republican Voters Against Trump (Eleitores Republicanos Contra Trump) e o 43 Alumni for Biden (que reúne membros do governo de George W. Bush, o 43º presidente americano, número ao qual o título do grupo se refere).

Simpatizante de Trump em meio a cadeiras vazios durante comício do republicano em Tulsa Foto: Leah Millis/Reuters

Recentemente, vários nomes importantes do Partido Republicano, como o senador Mitt Romney, que foi candidato à Presidência em 2012, indicaram que não vão apoiar Trump na eleição de novembro. Bush, segundo a imprensa americana, também confidenciou que não vai apoiar Trump.

Outros, como o ex-secretário de Estado Colin Powell, foram mais longe e anunciaram abertamente que irão votar no candidato do partido rival, Biden.

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Apesar de muitos republicanos de destaque já terem se posicionado contra Trump em 2016, analistas observam que a situação agora é diferente. Se em 2016 a eleição era uma escolha entre dois candidatos, neste ano é encarada como um referendo sobre o desempenho de Trump na Casa Branca.

"Antes, o movimento anti-Trump era baseado em medo do que poderia acontecer", diz à BBC News Brasil o cientista político Todd Belt, professor da Universidade George Washington, em Washington.

"Agora, é baseado no que já aconteceu. Nós já tivemos três anos e meio de governo Trump. Já vimos sua atuação como presidente", afirma.

Belt ressalta que o movimento atual é mais organizado estruturalmente e financeiramente do que as iniciativas surgidas em 2016, quando muitos não acreditavam que Trump pudesse ser vitorioso.

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