‘Resposta aos jihadistas deve ser pela lei’

Ao “ato de guerra” cometido pelo terrorismo contra a França, o governo precisa responder por meio de outra guerra, travada pela lei e pelas palavras. Essa é a visão de Jean-Charles Brisard, especialista em Direito Internacional, em jihadismo e em financiamento de grupos terroristas. A seguir, trechos da entrevista:

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Por Andrei Netto , correspondente e Paris
Atualização:

O senhor acredita que os atentados de Paris foram um ‘ato de guerra’ contra a França?

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Não. Não é a primeira vez que a França enfrenta a onda terrorista. Nos anos 80 e 90 já enfrentamos ondas similares, e sempre respondemos pela arma da lei. Mais uma vez, é preciso responder pela lei, além de enfrentar também a guerra de discursos e da propaganda jihadista. A guerra no terreno a França já enfrenta no Oriente Médio, contra o Estado Islâmico, e na África, contra derivados da Al-Qaeda e outros grupos jihadistas.

Como enfrentar o problema dos extremistas franceses (cerca de 1,4 mil, segundo o governo) envolvidos na ‘guerra santa’?

Este problema representa uma nova face do terrorismo. Por essa razão modificamos a legislação para enfrentar esse desafio novo. A nova lei, aprovada há um mês e meio, permite impedir a saída de suspeitos e o ingresso de estrangeiros que estejam em listas de jihadistas, por exemplo.

Especialista diz que é preciso 'esclarecer os jovens do risco que o jihadismo representa' Foto: Reprodução/Divulgação

Ela visa esses homens ‘de perfil específico, com passagem por treinamentos no exterior’?

Sim. A lei nos permitirá reprimir o terrorismo individual e o “integrismo”, a apologia do terrorismo, que se manifesta muito na internet. Será possível bloquear páginas na web em que haja proselitismo jihadista, por exemplo. O serviço judiciário e policial está saturado pelo combate ao jihadismo na França. A amplitude da ameaça é sem precedentes, não só na França, mas na Europa. Nossos serviços precisam se adaptar.

Não apenas meios humanos, mas sobretudo tecnológicos.

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Sem dúvida. Isso também está previsto na lei. Os serviços de inteligência poderão realizar investigações anônimas na internet, por exemplo, o que não era permitido até aqui.

Outra urgência é enfrentar a guerra de propaganda.

Isso é muito importante. Mas é preciso também travar a guerra das palavras, explicar, educar, esclarecer os jovens do risco que o jihadismo representa. A França não será transigente sobre seus valores, a democracia e a liberdade.

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