Com a média de sete tuítes por dia, retórica explosiva e desrespeito aos limites que moldavam o cargo, Donald Trump se transformou em um presidente como nenhum outro que comandou os EUA na era moderna. Um ano depois do discurso sombrio que marcou sua posse, o bilionário de Nova York registra rejeição sem precedentes, apesar do bom momento da economia.
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Em contraste com a maioria de seus antecessores, Trump não calibrou seu compasso rumo ao centro e direcionou seus primeiros 12 meses de governo à base de eleitores brancos conservadores que lhe deu uma vitória inesperada em novembro de 2016.
Quando tomou posse, ele tinha aprovação de 45%, de acordo com o instituto Gallup, o mais baixo porcentual para um presidente em início de mandato que se tem registro. O indicador era semelhante ao obtido por Trump na votação popular, 46%, 2 pontos a menos que sua adversária, Hillary Clinton – uma diferença de quase 3 milhões de votos em favor da democrata.
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Trump, no entanto, venceu no Colégio Eleitoral, onde a disputa é definida. Hoje, sua aprovação está em 38%, outro recorde de rejeição para o mesmo estágio de mandato. “Trump focou em coisas que agradam à sua base e nunca tentou criar consenso entre a população em geral, o que é algo sem precedentes na história recente”, disse Clifford Young, diretor nos EUA do instituto de pesquisas Ipsos. Em sua opinião, é surpreendente que o presidente tenha aprovação tão baixa, apesar dos indicadores econômicos positivos. “A economia está crescendo há oito anos e está em um ótimo momento.”
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O desemprego caiu em dezembro para 4,1%, o mais baixo patamar em 18 anos. A Bolsa de Valores bate recordes sucessivos e o PIB cresceu a uma taxa anualizada de 3,2% no terceiro trimestre de 2017. Nos últimos dias, várias empresas anunciaram a concessão de bônus e o aumento de investimentos em razão da reforma que cortou US$ 1,5 trilhão em tributos e reduziu o imposto de renda das grandes empresas de 35% para 21%.
George Edwards, especialista em história da presidência dos EUA da Universidade do Texas A&M, disse que o “caráter e a natureza do discurso” de Trump contrastam com os dos que ocuparam a Casa Branca antes dele. “Nunca houve alguém como Trump. Ele é o presidente menos inspirador, menos informado, mais desarticulado e mais mentiroso que já tivemos”, avaliou. “Os presidentes americanos costumam ser extremamente preocupados com a precisão de suas declarações. Trump não se importa se o que fala é verdadeiro ou não.”
“Os 365 dias decorridos desde sua posse foram um período tumultuoso, marcado por polêmicas quase diárias e um comportamento que subverteu a política convencional”, observou Robert Spitzer, que ensina política e presidência americanas na Universidade Estadual de Nova York em Cortland.
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“Trump nunca recebeu o nível de apoio obtido por outros presidentes no primeiro ano de governo porque não fez nada para atingir o país como um todo. Ele agiu e falou quase exclusivamente para sua base, que está gradualmente encolhendo.” Para Spitzer, o presidente aprofundou as divisões da sociedade americana, que teria ficado ainda mais polarizada em seu primeiro ano de governo.
A imagem do outsider que mudaria Washington foi uma das razões da vitória de Trump. Seu discurso contra a globalização, acordos comerciais e a entrada de imigrantes nos EUA seduziu eleitores do interior do país, da zona rural e os nostálgicos do período em que o país tinha empregos industriais.
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