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Rússia, Turquia e Irã refazem mapa da Síria e negociam zonas de influência

Diplomatas dos três países discutem nos bastidores áreas informais de controle no território sírio e até mesmo uma transição política; plano deixa de lado EUA e Europa e consolida Vladimir Putin como um dos principais atores internacionais 

Por Jamil Chade Correspondente e Genebra 
Atualização:

Rússia, Irã e Turquia começam a desenhar o novo mapa da Síria que pode mudar de forma radical a geopolítica do Oriente Médio. Diante da esperança de uma solução para o conflito, diplomatas já negociam nos bastidores para determinar zonas informais de controle no território sírio. 

Os chanceleres de Irã, Mohamed Javad Zarif (E), Rússia, Serguei Lavrov (C), e Turquia, Mevlut Cavusoglu (D) conversam com jornalistas após conferência sobre a situação na Síria Foto: AP Photo/Pavel Golovkin, File

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O pacto marginaliza americanos e europeus e representa a consolidação de Vladimir Putin como um dos principais atores internacionais. O acordo também sepulta os projetos apresentados pela ONU que, desde 2012, fracassaram na tentativa de interromper a guerra na Síria. 

Diplomatas revelaram a um grupo de jornalistas, entre eles o Estado, detalhes do projeto. Pelo entendimento, o presidente da Síria, Bashar Assad, seria mantido no poder por enquanto e o foco seria erradicar o grupo extremista Estado Islâmico (EI). 

A seguir, novas eleições seriam convocadas em dois ou três anos e ele anunciaria que não concorreria, cedendo o poder para um nome de consenso. Assad ganharia asilo político em um país aliado e evitaria ser julgado ou executado, como ocorreu com outros líderes de países que passaram pela Primavera Árabe.

A estrutura de Estado sírio também seria modificada, com o estabelecimento de uma federação com certo de grau de autonomia a diferentes regiões. A prioridade de Moscou é evitar uma fragmentação que desestabilizaria ainda mais a região. O primeiro passo para a execução do plano era o cessar-fogo que está em vigor. Mas é a próxima etapa a mais delicada. A partir de janeiro, diplomatas se reunirão em Astana, no Casaquistão, para negociar a paz definitiva. 

A reconquista de Alepo abriu um corredor entra a cidade e Beirute, no Líbano, o que facilitará o trânsito de armas e suprimentos do Irã para o Hezbollah. Teerã insiste que essa zona continue sob sua influência. Para convencer os iranianos a aderir ao cessar-fogo, Moscou deu garantias de que convenceria o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, a desistir da ideia de que Assad tenha de deixar o cargo imediatamente, uma velha reivindicação de Ancara. 

Aos turcos, a promessa era de que Moscou ajudaria a liquidar de vez com os rebeldes curdos. Uma zona informal de influência no norte da Síria poderia ser parte do acordo com Erdogan. Isso facilitaria a volta de 3 milhões de refugiados sírios que estão na Turquia, além de criar uma zona tampão que evitaria a criação de um Estado curdo.

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A pressa de russos e turcos tem relação com a capacidade de reação dos EUA. Aproveitando-se do vácuo criado pela transição de poder em Washington, Putin se apresentaria como o principal líder mundial, capaz de fechar acordos de paz. O russo sabe que precisará dos americanos para selar a paz e a expectativa é a de que tudo seja concluído na presidência de Trump. 

O novo presidente teria duas opções: aderir ao plano e combater conjuntamente o terrorismo ou miná-lo e ser acusado de fortalecer o EI. Se Trump aderir ao projeto, a ONU convocaria uma reunião em fevereiro para selar a paz na Síria. Para os russos, um acordo desenhado pelo Kremlin e chancelado pela ONU seria a comprovação de seu papel de líder global.

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