Seja quem for que ganhar a eleição em outubro, precisará trabalhar para que o País assuma um protagonismo internacional hoje perdido, avalia o ex-embaixador do Brasil em Washington Sérgio Amaral.
O diplomata lidera o núcleo de EUA do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), que anunciou nesta semana parceria com o Consulado-Geral dos EUA no Rio de Janeiro para elaborar um projeto que aumente o conhecimento sobre relações bilaterais entre EUA e Brasil.
Em entrevista ao Estadão para divulgação do projeto, Amaral afirma que o País precisa mudar a imagem de um país “que derruba florestas”, caso queira ver relações com Washington deslancharem.
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Como o sr. definiria o estado da relação bilateral Brasil-EUA no momento?
As relações entre Brasil e EUA sempre foram muito importantes e de certa maneira definitórias na nossa política externa. Nossa política se definia pelo fato de ser mais próxima ou mais distante dos EUA. Um ex-embaixador americano no Brasil uma vez definiu a relação como “é boa, mas nós não conseguimos nos conectar”. A grande pergunta é: por que? Muitas vezes só trabalhamos juntos topicamente, levados pela questão do comércio. Mas há uma série de áreas nas quais podemos trabalhar juntos.
A primeira delas é ambiental. Se não conseguirmos retirar essa imagem do país que derruba as florestas, nós vamos ser prejudicados. Se nós não mudarmos, não vai haver o acordo da União Europeia com o Mercosul e não teremos boas relações com os EUA. Existe hoje uma revolução ambiental e de energia e só vamos participar dela se participarmos também do desenvolvimento de novas tecnologias verdes. Muito pode ser feito e não é só porque a relação Bolsonaro-Trump era boa. Era boa, mas na verdade, não trouxe muita coisa nova para a relação e acho que precisamos definir e apresentar o que queremos.
Temos Bolsonaro e Lula na dianteira das pesquisas eleitorais. O atual presidente dos EUA, Joe Biden, faz questão de se manter distante de Bolsonaro. Por outro lado, diplomatas americanos dizem nos bastidores que temem resistência do PT a uma aproximação com os EUA, no caso da eleição de Lula. O que a disputa de outubro significará para a relação Brasil-EUA?
Seja quem for o candidato vencedor, não poderá governar olhando para o passado. Lula não pode ser candidato ou governante de 20 anos atrás. Quando ele assumiu em 2002, 2003, o mundo era uma coisa. Hoje é outra. Não poderá apenas vir a público falando do legado do que ele já fez. É chegada a hora de o Brasil enfrentar os desafios internacionais tal como eles se colocam hoje e se colocarão nos próximos anos.
A mesma coisa se aplica ao Bolsonaro. Com Trump, a aproximação era natural. Agora, com o governo Biden, na hipótese de uma reeleição do Bolsonaro, ou o Brasil muda de posição muda posição em uma série de coisas ou vamos perder grandes oportunidades em meio ambiente e energia, que serão uma grande prioridade nas questões internacionais nos próximos anos. Esses são os novos temas e sobre eles precisamos ter novas posições, quem quer que seja o presidente que ganhar.
Há uma perda de protagonismo internacional do Brasil, refletida na forma como os EUA veem o país atualmente?
Em junho, haverá uma reunião da Cúpula das Américas. Eu não vejo no Brasil, que é o principal país latino americano, com uma atenção para isso. Qual a proposta do Brasil para o continente? Seria importante se o Brasil também dissesse o que gostaria de fazer, seja fazer seja na relação com os EUA ou na relação com nossos vizinhos latino americanos. Qual é a política do Brasil com relação aos investimentos e ao comércio com a China? Ou será que vamos nos limitar a dizer: vamos exportar mais soja ou menos soja? Tem sido uma atitude muito passiva.
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