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Arturo Valenzuela: Brasil deve virar força para condenar guerra na Ucrânia

Ex-secretário de Estado adjunto durante o governo Obama afirma que posição sobre guerra na Ucrânia é uma das diferenças entre Bolsonaro e Joe Biden

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Foto do author Beatriz Bulla

Ex-secretário de Estado adjunto para Hemisfério Ocidental durante o governo Obama, Arturo Valenzuela avalia que o Brasil deveria se tornar uma força para condenar a guerra na Ucrânia -- e destaca a posição do presidente Jair Bolsonaro sobre o assunto como uma das diferenças com os Estados Unidos de Joe Biden.

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Valenzuela trabalhou no Conselho de Segurança no governo Clinton e atuou como conselheiro de Biden durante a campanha. Ele diz que é “lamentável” ver a polarização política no Brasil avançar, a exemplo do que ocorre nos EUA, com desconfianças sobre o sistema eleitoral e afirma que o que acontecer na política doméstica do País terá grande influência na relação com Washington.

Ele participou de evento do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) nesta semana para anunciar a parceria do think tank brasileiro com o Consulado-Geral dos EUA no Rio de Janeiro para melhorar o conhecimento sobre relações bilaterais entre EUA e Brasil.

Arturo Valenzuela, ex-subsecretário de Estado dos EUA, durante seminário realizado no Instituto FHC em 2015 Foto: J.F.Diorio

Como o sr. definiria o estado da relação bilateral Brasil-EUA no momento?

A relação com o Brasil é extremamente importante. É importante para os Estados Unidos e é importante para o Brasil. É bom para ambos os países tentarem ver como eles podem solidificar uma parceria melhor daqui para frente. Os EUA são o maior investidor estrangeiro no Brasil, de longe, e também são o principal destino das exportações brasileiras que têm valor agregado -- não como as exportações para a China, que é só matéria-prima, commodities, e assim por diante.

Desde que eu estava envolvido no governo dos EUA, sempre houve algumas divergências entre nossos países, e isso é uma coisa normal. Não tenho certeza se o período é mais difícil agora do que antes. Nós tivemos algumas diferenças significativas com o governo Lula, no governo Obama. E certamente há diferenças significativas agora, no governo Biden. Então as coisas vêm e vão, dependendo da natureza dos governos.

Há espaço, em um governo democrata, para aproximação com o governo Bolsonaro?

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O esforço é tentar ter um diálogo e entender que há diferenças de opinião. As diferenças se manifestaram, por exemplo, com a situação na Ucrânia. Como você sabe, por algumas das declarações do presidente brasileiro, vemos que ele discordou de alguns julgamentos que os Estados Unidos estavam fazendo sobre essa questão. Depois de Blinken, em fevereiro, ter falado com o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, Bolsonaro disse que achava que era um exagero falar em massacre. Isso mudou agora. A maioria das pessoas percebeu que esta é uma situação muito grave. Eu espero que o Brasil possa, portanto, se tornar uma força para condenar esse tipo de situação no mundo.

E quais são as formas de melhorar essa relação bilateral? O sr. acabou de mencionar uma, com relação a posição sobre a Ucrânia, o que mais?

Os EUA têm sido claros em algumas das prioridades que eles veem, em maior cooperação, você sabe, e há muitas áreas diferentes. Comércio e investimento, ciência e tecnologia, a inovação é uma área onde os Estados Unidos e Brasil podem se associar de forma muito significativa em uma série de questões. Podemos falar sobre questões de inclusão social, certamente democracia, direitos humanos, sem falar também na questão das mudanças climáticas.

Os EUA certamente entendem que o Brasil tem soberania sobre a Amazônia brasileira. Mas isso não significa que não pode haver algumas maneiras pelas quais podemos cooperar para tentar mitigar alguns dos problemas. E houve uma certa animação com algumas metas assumidas pelo Brasil na Cúpula do Clima. Há maneiras pelas quais podemos avançar. Muito, é claro, provavelmente dependerá do que está acontecendo na política brasileira daqui para frente, que está muito polarizada. É um problema que outros países, como os EUA, têm e o Brasil também

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O sr. falou de dificuldades na relação com Lula e com Bolsonaro. Os dois lideram as pesquisas de voto no Brasil. O que a disputa de outubro significará para a relação Brasil-EUA?

É muito importante tentar encontrar um terreno comum com base no interesse fundamental da segurança nacional e nos interesses nacionais. É isso que ensino aos meus alunos. A cooperação com os EUA deve ser vista como algo benéfico.

Há uma polarização nos Estados Unidos bem furiosa. E a polarização até levou alguns a dizerem que a eleição anterior não foi uma eleição justa. Esse mesmo tipo de polarização continua ganhando espaço no Brasil. É lamentável. Mas acho que temos a responsabilidade, como cidadãos, em ambos os países, de tentar deixar claro que o governo é para o povo, (eleito) pelo povo e precisa ser um governo que realmente funcione para todos.

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Estamos passando por crises significativas em todo o mundo. E as instituições internacionais são críticas. Precisamos valorizar essas instituições, de forma muito significativa, sejam as Nações Unidas e outras instituições para o comércio e saúde. Em um mundo onde surgiu um nacionalismo muito cego, precisamos cooperar.

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