ESTOCOLMO — Deficiências sistêmicas no atendimento aos idosos na Suécia e medidas inadequadas do governo contribuíram para o alto número de mortes em lares de idosos no país, aponta um relatório oficial publicado nesta terça-feira, 15.
“A estratégia destinada à proteção dos idosos falhou”, disse em entrevista coletiva Mats Melin, presidente da comissão designada para avaliar as medidas do governo no contexto da pandemia. “Não há outra maneira de encarar o fato de que tantos morreram de covid-19”.
Segundo o relatório da comissão, as medidas governamentais para proteger os idosos chegaram tarde demais e foram inadequadas.
A formação insuficiente das equipes de cuidados e a falta de enfermeiras e médicos no atendimento aos idosos, afirma o documento, teria contribuído para o elevado número de mortes em asilos.
A estratégia adotada pela Suécia foi chamada de imprudente e cruel, mas também ganhou elogios por ser mais sustentável e favorável à economia.
O país evitou quarentenas e medidas restritivas, deixando escolas, restaurantes e empresas funcionarem amplamente, enquanto apelava às pessoas que se distanciassem socialmente e mantivessem uma boa higiene.
Quando anunciada durante a primavera no hemisfério norte, a estratégia foi casada com o objetivo de "cercar" os idosos da covid-19. Mas, à medida que as mortes aumentavam, especialmente em asilos, a comissão foi designada para avaliar a resposta.
O primeiro-ministro Stefan Lofven defendeu a estratégia geral, mas admitiu que a Suécia falhou em proteger os idosos, embora tenha enfatizado que a saúde e os cuidados aos idosos são responsabilidade das autoridades regionais e não do governo central.
“Mas é o governo que governa o país e tem a responsabilidade final”, argumentouo presidente da comissão. “O governo deveria ter tomado medidas para garantir que os idosos estivessem mais bem equipados para lidar com a pandemia.”
Quase metade das quase 7.700 mortes por coronavírus na Suécia foi de residentes em lares de idosos.
Em novembro, a Inspetoria de Saúde e Assistência Social da Suécia disse ter encontrado "deficiências graves" no atendimento a idosos — em apenas 6% dos casos revisados, pacientes com covid-19 em lares de idosos foram examinados por um médico.
A ministra dos Assuntos Sociais, Lena Hallengren, disse que o governo está preparando uma nova legislação para regulamentar os cuidados aos idosos.
A Suécia tem uma taxa de mortalidade per capita muitas vezes maior que a de seus vizinhos nórdicos —que apresentam situação socioeconômica semelhante — embora menor do que alguns países europeus que optaram por quarentenas.
O país também registrou em 2020 sua maior contagem de mortes no primeiro semestre em 150 anos, segundo o Escritório de Estatísticas. Foram cerca de 4.500 óbitos no período de janeiro até o final de junho devido à covid-19./Reuters