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Temor de coronavírus aumenta vendas de armas nos EUA

Americanos correm para as lojas com medo de que haja um colapso da sociedade em razão da pandemia

Por Paul Duggan e Rachel Weiner
Atualização:

Atrás de uma porta de metal sem identificação em um parque industrial de Maryland, onde Kat O’Connor administra sua loja de armas, caixas de munição estavam empilhadas nas mesas no início da sexta-feira, aguardando os clientes. Em meio a essa pandemia e instabilidade social, as balas para a defesa do lar são consideradas por alguns tão valiosas quanto os rolos de papel higiênico e desinfetante, e igualmente escassas hoje em dia. Depois de uma pesquisa com os distribuidores, Kat conseguiu comprar 7 mil balas, e a maioria seria vendida antes do fim do dia.

Loja de armas em Utah; venda aumentou com a pandemia de coronavírus Foto: GEORGE FREY / AFP

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“As balas de 9 milímetros estão ali”, disse o ajudante de Kat, Dave Fullarton, trazendo para dentro da loja o primeiro cliente, um sujeito na casa dos 30 anos usando uma camiseta com o logotipo de uma empresa de construção. O homem sorriu, aliviado: “Obrigado”.

Ele pegou quatro caixas de cartuchos 9mm PMC Bronze, um total de 200 balas, e 50 dos cartuchos para escopeta calibre 12 de alta velocidade que a própria Kat produz.

Muitos compradores de armas parecem temer que o contágio exponencial da Covid-19 resulte em um período de escassez dos gêneros essenciais com furiosos despossuídos tentando roubar o básico de quem ainda tiver algo na despensa e na geladeira. O mais provável é que os americanos consigam superar a crise pacificamente. Seja como for, muitos parecem pensar que é melhor prevenir-se agora do que lamentar.

De Phoenix até o interior do Estado de Nova York, de Idaho até o sul da Flórida, as lojas de armas relataram um aumento nas vendas na semana passada, com clientes preocupados com o futuro. Falando à reportagem do Charlotte Observer, um comerciante da Carolina do Norte disse: “Nosso novo lema é, ‘Dedicados a ajudar você na proteção do seu papel higiênico’.” 

O Sistema Nacional de Verificação Instantânea de Antecedentes Criminais disse ter respondido a 2,8 milhões de consultas a respeito de compradores de armas no mês passado – o terceiro maior total mensal desde a criação do sistema, em 1998, e uma alta em relação aos 2 milhões de consultas realizadas em fevereiro de 2019. 

Com as multidões praticamente esgotando o estoque de armas de fogo e munição depois que o presidente Donald Trump declarou emergência nacional em razão do novo coronavírus, o total de compradores de armas deste mês pode ser ainda maior.

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Kat tem licença federal para vender armas, documento conhecido como FFL, mas não é uma varejista de armamentos. Ela atua como intermediária entre compradores de Maryland e vendedores de fora do Estado. Quem mora em Rockville, Maryland, e encontra uma arma interessante na internet, deve solicitar que ela seja enviada a Kat, da TK Defense, e ela concluirá a venda mediante uma comissão.

E ela não costuma vender munição, a não ser os cartuchos de escopeta que fabrica. Mas não estamos vivendo tempos normais. “O telefone tem tocado literalmente a cada cinco minutos. Eles compram qualquer coisa.”

Fullarton, de 55 anos, acenava contente, como se o país estivesse finalmente acordando para a necessidade do porte de arma. “Agora, começaram a imaginar: e se acontecer o impensável? Estão armazenando comida, água e papel higiênico, e percebendo que precisam se proteger para o caso do colapso da sociedade.”

Na Virgínia, Martin Orenge, administrador da Dominion Arms, em Manassas, disse que a loja tem dificuldade para acompanhar a demanda. “Não consigo manter meu estoque”, disse Orenge. Enquanto isso, na loja, os clientes têm respeitado as regras de distanciamento social e usam o desinfetante para as mãos que ele mantém na loja. 

A cerca de 25 quilômetros dali, no Vienna Arsenal, os vendedores usavam luvas de proteção na quinta- feira, mas o distanciamento social era impossível, pois a loja estava lotada.

Um cliente de 59 anos chamado James não quis revelar o nome completo para não revelar ao público seus preparativos para o possível colapso da ordem civil. “Quero dispor de meios para proteger minha família”, declarou.

No fim do horário comercial na sexta-feira, na TK Defense, cerca de 30 clientes tinham comprado a maior parte da munição que Kat conseguiu juntar. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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