The Economist: Como o passado nos ajuda a prever políticas sobre inflação em 2023?

No próximo ano,, a maioria dos países controlará a inflação, mas sob grave sofrimento

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Por Ryan Avent

WASHINGTON, DC - Há um ditado no mundo da política monetária: somente falcões vão para o céu dos diretores de bancos centrais. Entre os homens e mulheres encarregados de administrar o dinheiro de suas economias, fortaleza para controlar uma economia que cresce com força demais — tirar a tigela de ponche da sala assim que a festa esquenta, conforme colocou certa vez um presidente do Federal Reserve — está entre os atributos mais admiráveis. Mas durante os 20 anos que precederam a pandemia de coronavírus, os problemas macroeconômicos mais prementes em muitas das maiores economias do mundo foram pouco crescimento e inflação baixa. Aos diretores dos bancos centrais foi cruelmente negada, portanto, a oportunidade de uma retirada virtuosa com tigelas de ponche.

O acentuado e persistente aumento na inflação iniciado em 2021, contudo, concedeu aos atuais diretores de bancos centrais um momento para brilhar. Em 2023, a maioria dos países controlará a inflação, mas sob grave sofrimento. O problema cresceu em dimensões angustiantes em 2022, após a invasão russa à Ucrânia mandar às alturas preços de alimentos e energia. Muitas economias testemunharam níveis de inflação que não eram vistos há décadas. O índice de elevação nos preços ao consumidor chegou a 9% nos Estados Unidos e a 10,7%, um recorde, na zona do euro — e subiu muito mais em certas economias emergentes particularmente atribuladas.

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Esses preços em elevação são resultado de uma confluência de forças inflacionárias. Medidas pandêmicas de alívio e políticas monetárias complacentes alimentaram um aumento no gasto dos consumidores. Esse gasto ultrapassou a capacidade de resposta de fábricas e portos, com frequência em razão de problemas de oferta associados a climas extremos, novos surtos de covid-19 e outros choques. Os estratosféricos preços do petróleo, do gás natural e dos grãos ocasionados pela guerra na Ucrânia jogaram gasolina na fogueira.

Conforme a inflação aumentou, um intenso debate econômico irrompeu em relação à força com que os bancos centrais deveriam brecar suas economias — aumentando taxas de juros, por exemplo — para controlar o aumento dos preços. Algumas figuras mais pacificadoras aconselharam pisar leve nos freios, argumentando que, em razão de tanto da inflação observada ser associada a problemas de oferta, o problema deveria, em grande parte, resolver-se por si só. Outros argumentaram que, enquanto os consumidores estivessem dispostos a gastar, um alívio nas pressões sobre os preços em parte da economia deixaria as pessoas com mais dinheiro para esbanjar e aumentaria preços em outros setores.

Até o início de 2022, a segunda visão começou a conquistar muitos diretores de bancos centrais. O Federal Reserve, que em 2021 tinha esperado paciente que os preços baixassem naturalmente, aumentou sua taxa de juros 0,25 ponto porcentual em março, 0,5 em maio e, de maneira impressionante, 0,75 ponto em junho, setembro, outubro e novembro. Mas no início diretores de bancos centrais tiveram esperança de que a inflação pudesse ser controlada sem uma recessão que esmagasse o crescimento. Em março, o presidente do FED, Jerome Powell, afirmou que “o registro histórico dá alguns argumentos ao otimismo”, em relação à capacidade do banco central em produzir uma “aterrissagem suave”.

Quadro eletrônico de ações mostram o índice Nikkei 225 do Japão. Foto: Eugene Hoshiko/ AP

Em agosto, o tom de Powell tinha mudado. Juros mais altos eventualmente fariam a inflação baixar, afirmou ele, mas “também ocasionarão alguma dor”. Outros diretores de bancos centrais concordaram. “Pela primeira vez em quatro décadas”, notou Isabel Schnabel, integrante da diretoria do Banco Central Europeu, “bancos centrais têm de provar o grau de sua determinação em proteger a estabilidade dos preços”. Projeções do FED começaram a mostrar um aumento no desemprego em 2023; o Banco da Inglaterra projetou queda no PIB britânico.

De fato, conforme notou o Banco Mundial, ao longo do último meio século, o mundo raramente testemunhou uma mudança no sentido de políticas que restringem crescimento tão sincronizada como a que se formou durante 2022. Uma exceção foi 1982, quando formuladores de políticas de todo o planeta se dedicaram a pôr fim em um problema inflacionário que durava uma década. Eles foram bem-sucedidos, mas no processo induziram uma recessão global. Foi um tempo de dificuldade para muita gente, mas considerado um triunfo pela maioria dos diretores de bancos centrais. Em 2023, desafortunadamente, a profissão parece tender a revelar uma nova geração de heróis. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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*É editor de Comércio e Economia Internacional da The Economist

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