Travessias na fronteira sul dos EUA saltaram em março para o nível mais alto em 15 anos

Aumento extraordinário ressalta a magnitude do desafio enfrentado pelo governo Joe Biden

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - Mais de 171 mil imigrantes foram detidos ao longo da fronteira sul dos Estados Unidos em março, o maior total mensal desde 2006, de acordo com dados preliminares da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP, por sua sigla em inglês) revisados pelo jornal The Washington Post.

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O aumento extraordinário – muito maior que os 78.442 em janeiro – ressalta a magnitude do desafio enfrentado pelo governo Joe Biden, especialmente na medida que ele se apressa para aumentar a capacidade de abrigos de emergência para um número sem precedentes de adolescentes e crianças que cruzam desacompanhadas.

No mês passado, o CBP acolheu mais de 18,8 mil menores desacompanhados, um aumento de 99% em relação a fevereiro e um número muito acima da última alta de um mês para outro, de 11.861, em maio de 2019. O aumento no número de migrantes que chegam como parte de grupos familiares foi ainda mais acentuado no mês passado, subindo para mais de 53 mil, em comparação com os 19.246 em fevereiro e 7.294 em janeiro, mostram os números preliminares.

Crianças imigrantes de El Salvador e Honduras no aeroporto de Houston após serem liberadas pelo escritório que processa pedidos de asilo em McAllen, no Texas Foto: Ed Jones/AFP

O presidente Joe Biden descreveu os aumentos no mês passado como consistentes com padrões sazonais históricos e semelhantes às tendências observadas durante a administração de Trump, mas o afluxo vertiginoso durante os primeiros dois meses de seu mandato tem uma curva de crescimento mais vertical do que qualquer período comparável nas últimas duas décadas. O maior aumento em dois meses em 2019 foi de cerca de 45 mil em números brutos; entre janeiro (78.442) e março de 2021 (171 mil), foi mais de 90 mil.

Nas últimas semanas, os agentes de fronteira têm lutado com o número sem precedentes de adolescentes e crianças desacompanhados sob seus cuidados, muitos mantidos em condições restritas de detenção por muito mais tempo do que os limites legais enquanto esperam uma vaga para dormir em abrigos de emergência administrados pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos.

O Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA (HHS, na sigla em inglês) abriu ou está se preparando para abrir nove instalações de emergência, enviando os menores para centros de convenções, campos de petroleiros convertidos e bases militares enquanto examina parentes ou responsáveis elegíveis nos Estados Unidos que possam assumir a custódia.

Os dados de março também mostram a amplitude do desafio enfrentado pelos agentes de patrulha em campo que tentam capturar adultos solteiros atravessando em níveis não vistos há anos. No mês passado, o CBP deteve mais de 99 mil adultos solteiros, em comparação com os 71.598 de fevereiro.

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A administração Biden continua a usar a ordem de saúde pública para devolver rapidamente a maioria desses adultos ao México, mas a política de “expulsão” alimentou um grande aumento nas travessias repetidas pelos mesmos indivíduos. Não está claro quantos dos 99 mil se encaixam nessa categoria, mas as autoridades do CBP disseram que 30 a 40% dos adultos que eles prendem são reincidentes. Eles enfatizam que cada apreensão usa o tempo e os recursos dos agentes, independentemente de o indivíduo ser um reincidente.

Funcionários do CBP também dizem que estão lutando para interceptar atravessadores ilegais mais determinados e que o número de “fugitivos” que são detectados, mas não detidos, aumentou para quase mil dia, o maior na história recente. 

Os dados confirmam o que os principais funcionários da fronteira vêm dizendo há semanas. “Estamos a caminho de encontrar mais indivíduos na fronteira sul do que nos últimos 20 anos”, disse o secretário de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas, em um comunicado no mês passado. “Estamos protegendo nossa fronteira, executando a autoridade de saúde pública dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) para salvaguardar o público americano e os próprios migrantes, e protegendo as crianças. Temos mais trabalho a fazer.”

“Isso não é novo”, disse seu comunicado. “Já experimentamos picos de migração antes - em 2019, 2014 e antes disso também.”

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Em 2019, agentes dos EUA fizeram quase 1 milhão de prisões e detenções ao longo da fronteira com o México, incluindo um número recorde de migrantes que chegam como parte de grupos familiares. Seu número atingiu o pico de 88.857 em maio de 2019, um número significativamente maior do que os 53.000 que chegaram no mês passado, mas o CBP está projetando que entre 500 mil e 800 mil imigrantes migrantes chegarão como membros de grupos familiares durante o ano fiscal de 2021, o que eclipsaria os totais de 2019.

O governo Biden recusou-se a usar a ordem de saúde para devolver menores desacompanhados à América Central, permitindo-lhes exercer seu direito legal de buscar proteção humanitária nos Estados Unidos.

Funcionários de Biden dizem que estão tentando usar a política para repelir grupos familiares, mas foram limitados pela capacidade do México de aceitar centro-americanos “expulsos” sob a ordem. Em fevereiro, os EUA devolveram cerca de 40% das famílias que cruzaram, mas esse número caiu para cerca de 10% a 20% nas últimas semanas, mostram as estatísticas.

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Família de Honduras se reencontra no aeroporto LaGuardia, em Nova York, após meses separada em detenções no Texas para imigrantes em busca de asilo que entram ilegalmente nos EUA Foto: Ed Jones/AFP

Centenas de imigrantes estão esperando sob uma ponte em uma estação de processamento ao ar livre perto de McAllen, Texas, nas últimas semanas, onde fotos mostram pais e filhos dormindo na terra sob cobertores.

Os agentes dos EUA estão tão sobrecarregados com grupos familiares chegando ao Vale do Rio Grande no Texas que eles começaram a libertar alguns deles da custódia sem um aviso formal para comparecer ao tribunal, pedindo-lhes que relatassem ao escritório de Imigração e Alfândega dos EUA mais próximo quando chegarem ao seu destino nos Estados Unidos./ W. POST

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