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Trump ainda busca uma estratégia de defesa, mas seus advogados erram o básico

Sem a proteção da Presidência, republicano dá sinais de preocupação com os rumos do processo envolvendo documentos sigilosos da Casa Branca

Por Maggie Haberman , Glenn Thrush e Alan Feuer
Atualização:

THE NEW YORK TIMES - Na terça-feira, uma juíza da Flórida comunicou a dois advogados que representam o ex-presidente Donald Trump, nenhum dos dois com licença para atuar no estado, que eles cometeram erros em uma papelada de rotina para que fizessem parte de uma ação aberta após a varredura do FBI, no começo do mês, na residência de Trump em Mar-a-Lago. “Um modelo de moção pode ser encontrado na página do tribunal”, explicou a magistrada na ordem judicial.

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Trump vem despejando sua habitual retórica, e levantou milhões de dólares vindos de apoiadores ultrajados, desde o dia em que agentes federais entraram em sua propriedade e levaram mais de duas caixas com itens como documentos ultrassecretos.

Mas há algo diferente agora, e o equivocado pedido dos advogados ofereceu um pequeno vislumbre da confusão e da incerteza que a investigação expôs dentro do campo de Trump.

O ex-presidente dos EUA, Joe Biden, durante comício em Wisconsin. Foto: Jamie Kelter Davis/The New York Times - 05/08/2022

A investigação sobre os documentos representa a maior ameaça legal para Trump em anos, e ele enfrentará essa batalha sem a infraestrutura de proteção e a armadura constitucional da Presidência.

Depois de anos demitindo advogado atrás de advogado, ele teve dificuldade para contratar novos profissionais, e tem agora ao seu lado um grupo pequeno com experiências variadas.

Ele enfrenta um Departamento de Justiça que não é mais controlado por ele, liderado por um secretário que atua dentro das regras, Merrick Garland, que deu início a várias investigações contra o ex-presidente de forma metódica e silenciosa.

Trump é seu próprio diretor de comunicação e conselheiro estratégico, buscando vitórias políticas táticas e de relações públicas, por vezes diante do risco de tropeçar em alguns significativos percalços legais.

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Um exemplo veio na segunda-feira, quando um escritor conservador aliado ao ex-presidente tornou pública uma carta que o Arquivo Nacional enviou à equipe de advogados de Trump em maio.

Levantada como uma prova de que o presidente Joe Biden teve influência no caso, depois do próprio negar, a carta confirmou informações prejudiciais ao republicano, incluindo o fato de que armazenou ilegalmente mais de 700 páginas de documentos sigilosos e ultrassecretos que deveriam ter sido entregues ao Arquivo.

Erros de processo

Na terça, a juíza responsável por decidir sobre o pedido da defesa de Trump para indicar uma pessoa independente para revisar os documentos apreendidos em Mar-a-Lago fez algumas perguntas.

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Aileen Cannon, que foi indicada por Trump, pediu aos advogados que respondessem, até sexta, se ela tinha jurisdição para analisar o pedido do ex-presidente e o que exatamente a moção pedia para que fizesse. Isso horas depois de avisar sobre o erro nos documentos enviados ao tribunal. Posteriormente, um representante de Trump mostrou que os papéis foram aceitos.

Mas isso se tornou uma prática padrão no mundo de Trump, onde o foco principal não é relacionado aos processos judiciais, ou mesmo às questões políticas, mas sim ao estado de espírito do homem no centro da crise. Ele sente que as ações das outras pessoas em relação a ele não receberam atenção suficiente, mesmo quando os fatos não confirmam suas queixas.

O Procurador-gerarl Merrick Garland durante visita à Casa Branca. Foto: Sarah Silbiger/The New York Times - 13/05/2022

“Os democratas passaram sete anos fabricando rumores e caças às bruxas contra o [ex-] presidente Trump, e a recente, sem precedentes e desnecessária varredura é mais um exemplo disso”, disse Taylor Budowich, porta-voz de Trump.

Por anos, Trump operou a partir de um livro de regras ensinado a ele nos anos 1970 por Roy Cohn, um duro ex-procurador federal e assessor do senador Joseph McCarthy, que representou o ex-presidente no começo de sua carreira.

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Essa abordagem — demonizar investigadores, intimidar aliados para que sigam na linha, se mostrar como uma pessoa perseguida e retratar cada crítica como uma caça às bruxas — era a estratégia principal de Trump para tirar peso da investigação sobre os laços de sua campanha de 2016 com a Rússia, e em seu primeiro julgamento de impeachment.

Mas, naquele momento, ele tinha os advogados da Casa Branca o ajudando, e uma equipe de profissionais experientes e com conhecimento dos caminhos em Washington.0

Agora, assim como nos dias após sua derrota na eleição de 2020, Trump depende de uma equipe diversa, com diferentes níveis de experiência, e tenta usar o apoio político que tem como um escudo e uma arma contra as pessoas que o investigam.

Situação inédita

Apesar de ainda incitar seus apoiadores em veículos de imprensa favoráveis, e de tentar direcionar as atenções para Biden e o chamado “Estado profundo”, Trump está, de alguma forma, caminhando entre os fantasmas de seu expirado governo, alegando ter um privilégio executivo mesmo depois de deixar o cargo, e dizendo ter uma ordem eterna e ampla para tirar o sigilo de alguns dos documentos, algo que ainda não comprovou ter feito.

Apoiadores de Donald Trump nos arredores do condomínio de Mar-a-Lago, um dia após operação do FBI na casa do ex-presidente. Foto: Saul Martinez/The New York Times - 09/08/2022

Se uma investigação sobre uma possível conexão de Trump com a Rússia era algo difícil para os americanos engolirem, essa não é. O inquérito agora é sobre caixas de documentos e “ultrassecreto” — o tipo de item que Trump usou para ameaçar oponentes, como no caso dos e-mails de Hillary Clinton ou o computador do filho de Biden, Hunter Biden.

A investigação também diz respeito a se Trump ou seus aliados agiram para obstruir o inquérito, de acordo com documentos judiciais ligados à operação de busca. Apesar da coragem em público, o ex-presidente deu, longe das câmeras, sinais de ansiedade durante conversas sobre os rumos dos processos, segundo pessoas que conversaram com ele.

“Ele nunca foi submetido a uma investigação desse porte e com tal força antes da Presidência”, disse Tim O’Brien, um biógrafo de Trump e editor-executivo da Bloomberg Opinion.

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Ele notou que, quando Trump era presidente, aprendeu a usar seus poderes para se proteger. “Agora, está na posição mais vulnerável de sua vida, em termos legais.”