Sede da maior base militar dos EUA no Oriente Médio e aliado crucial dos americanos na luta contra o Estado Islâmico, o Catar transformou-se no mais recente alvo da política externa de Donald Trump difundida no Twitter. O presidente americano exaltou nesta terça-feira, 6, a ruptura de países árabes com o emirado, o que provocou uma crise diplomática.
“Durante minha recente viagem ao Oriente Médio eu afirmei que não poderia mais haver financiamento à ideologia radical. Os líderes apontaram para o Catar – olhem!”, escreveu o presidente dos EUA em um post publicado às 8h15 de hoje.
Em seguida, ele atribui a sua influência a decisão da Arábia Saudita e de outros aliados – Emirados Árabes, Egito, Bahrein, Iêmen, Maldivas e Mauritânia – de cortar laços diplomáticos e comerciais com o Catar, o que jogou a região na que pode ser a mais grave crise desde a Guerra do Golfo, em 1991.
“É tão bom ver que a visita à Arábia Saudita com o rei e 50 países está rendendo frutos. Eles disseram que adotariam uma linha dura contra o financiamento (...) do extremismo e todas as referências apontavam para o Catar. Talvez esse seja o começo do fim do horror do terrorismo!”, escreveu Trump em dois tuítes sucessivos.
Cerca de 10 mil militares dos EUA estão na base do Catar, que é o principal ponto de lançamento de ataques contra o Estado Islâmico na região.
Segundo a imprensa americana, diplomatas e militares dos EUA reagiram negativamente ao ver o presidente atacar um aliado crucial e tomar partido em uma disputa entre países árabes, em vez de intervir para tentar resolvê-la.
O pretexto para o corte de relações foi o suposto financiamento do Catar a grupos extremistas, argumento frágil diante da promoção de uma das mais fundamentalistas interpretações do Islã por parte da Arábia Saudita.
O real motivo parece ter sido a suposta manifestação de simpatia do líder do Catar, Tamim bin Hamad Al Thani, em relação ao Irã e a Israel. No mês passado, a imprensa estatal publicou artigo que trazia elogios dele aos dois países, mas seu governo reagiu com a afirmação de que o texto era falso e havia sido plantado por hackers.
Segundo a CNN, investigadores dos EUA acreditam que a ação foi promovida por hackers russos. Ainda de acordo com a emissora, o FBI enviou uma equipe a Doha para ajudar o governo a identificar os responsáveis pela publicação das declarações supostamente falsas. Poucos dias depois do artigo ser veiculado, Al Thani telefonou para Hassan Rohani para cumprimentá-lo pela reeleição no Irã, o que enfureceu os sauditas.
O Pentágono reiterou sua cooperação com o Catar e disse que continuará a operar a base militar no país. O porta-voz Jeff Davis preferiu não fazer comentários sobre o conflito entre as declarações e Trump e a importância estratégica do país no combate ao Estado Islâmico. “Eu não posso ajudá-lo com isso”, respondeu Davis em um entrevista coletiva quando questionado sobre o assunto.
O secretário de Defesa americano, James Mattis, telefonou para sua contraparte no Catar, mas o conteúdo da conversa não foi revelado.
O rompimento de relações deixa o Catar isolado diplomática e fisicamente. A única fronteira terrestre do país é com a Arábia Saudita. A TV Al-Jazeera, de propriedade do Catar, disse que caminhões estavam estacionados na fronteira, do lado da Arábia Saudita, de onde vem grande parte dos alimentos consumidos pela população local.
O Catar tem a segunda mais elevada renda per capita do mundo, segundo o CIA Fact Book, mas um bloqueio por tempo indeterminado pode afetar o país. As ações de empresas locais caíram nesta terça-feira e a moeda ficou sob pressão, depois que alguns investidores deixaram de comprá-la.