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Trump avalia facilitar obtenção de documentos por ilegais

Plano não envolve obtenção de cidadania, mas permitiria a estrangeiros irregulares trabalhar e ao Estado cobrar multas impostos; em 2013, senadores republicanos e democratas aprovaram uma regularização em massa, mas projeto esbarrou na Câmara

Por Cláudia Trevisan , CORRESPONDENTE e WASHINGTON
Atualização:
Em entrevista a um programa de TV, o presidente dos Estados Unidos acusou Obama de estar envolvido nos protestos contra ele que vêm sendo feitos pelo país.Leia mais Foto: Nicholas Kamm/AFP

WASHINGTON - O presidente Donald Trump deve defender uma reforma do sistema de imigração dos EUA que legalize a situação de milhões que vivem no país sem documentos, mas não contemple o acesso à cidadania americana. A eventual discussão da proposta não afetará a aplicação das diretrizes que tornaram quase todos os estrangeiros em situação irregular passíveis de deportação.

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A disposição de Trump foi revelada por um assessor da Casa Branca em encontro com apresentadores de grandes redes de TV, entre as quais a CNN. Segundo a emissora, a legislação pode contemplar a concessão de cidadania para os chamados “dreamers”, que entraram no país quando tinham menos de 16 anos de idade. A proposta excluiria do benefício quem tenha praticado crimes.

A posição representa um recuo de uma das principais promessas de campanha de Trump. Quando lançou sua candidatura, o presidente defendeu a deportação dos 11 milhões de imigrantes que vivem sem documentos nos Estados Unidos. No fim do ano passado, ele reduziu o número para algo entre 2 milhões e 3 milhões, com foco nos que tenham cometido delitos.

“O momento é adequado para um lei de imigração se os dois lados estiverem dispostos a chegar a um acordo”, disse o representante da Casa Branca, de acordo com a rede NBC. Em 2013, republicanos e democratas no Senado aprovaram um projeto que regularizava a situação da maioria dos ilegais e abria um longo caminho para obtenção de cidadania. A proposta naufragou no ano seguinte na Câmara dos Deputados, em razão de resistência da maioria republicana na Casa.

Depois da divulgação das informações, uma fonte da Casa Branca disse à CNN que a prioridade da administração é aplicar as novas diretrizes para deportação e retirar do país imigrantes que sejam considerados criminosos.

Levantamento McClatchy-Marist Poll divulgado na terça-feira, 28, mostrou que 80% dos entrevistados são favoráveis a legislação que regularize a situação dos imigrantes sem documentos e contemple a obtenção de cidadania caso eles aprendam inglês, paguem multas, tenham trabalho formal e paguem impostos. Entre os que votaram em Trump, o percentual é de 70%.

O presidente tem tratado a imigração como uma ameaça à segurança nacional dos EUA e de seus cidadãos. Trump escolheu três parentes de americanos assassinados por ilegais para estarem entre seus convidados para o primeiro discurso que realizaria em uma sessão conjunta do Congresso, na noite de terça-feira. O pronunciamento serviria para o presidente apresentar suas prioridades para o ano e fazer um balanço de seus 40 dias de governo.

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A escolha de convidados para o discurso é carregada de significado político, de ambos os lados do espetro ideológico. Entre os que seriam levados por democratas estavam imigrantes e cidadão de alguns dos sete países de maioria muçulmana atingidos pela proibição de entrada nos EUA prevista em decreto de Trump. A media foi suspensa pelo Judiciário e a Casa Branca deve divulgar uma nova versão das restrições.

A deputada Nydia Velazquez, de Nova York, convidou Hameed Darweesh, um iraquiano que trabalhou como intérprete de tropas americanas em seu país. Com visto válido, ele foi um dos primeiros viajantes a serem detidos no aeroporto JFK, em Nova York, em razão do veto de Trump. Darweesh só teve sua entrada no país autorizada depois de 18 horas.

Em entrevista à Fox News no início da manhã de terça-feira, o presidente acusou seu antecessor, Barack Obama, de estar por trás de protestos contra parlamentares republicanos que estão ocorrendo em todo o país e do vazamento de informações de seu governo à imprensa.

“Não, eu acho que o presidente Obama está por trás disso porque seu pessoal está certamente atrás disso”, afirmou Trump em relação às manifestações, organizadas por grupos de base do Partido Democrata. “E alguns dos vazamentos possivelmente vêm daquele grupo, o que é realmente sério porque eles são muito ruins em termos de segurança nacionais. Mas eu também entendo que isso é a política. Em termos de ele estar por trás de coisas, isso é política e provavelmente vai continuar.”  

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