Trump perde 34 delegados para Cruz e acusa ‘sistema viciado’

Bilionário tenta reverter situação em que pode vencer no voto popular, mas perder na contagem da convenção do partido

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Por Cláudia Trevisan , Correspondente e Washington
Atualização:

WASHINGTON - Diante do risco de ganhar o voto popular, mas perder a disputa pelos delegados republicanos, Donald Trump atacou nesta segunda-feira, 11, as regras eleitorais de seu partido, enquanto um dos coordenadores de sua campanha acusou o adversário Ted Cruz de usar "táticas da Gestapo" para conquistar o apoio dos que votarão na convenção da legenda, em julho.

"O sistema é viciado, é corrupto", declarou Trump, repetindo termos normalmente usados pelo democrata Bernie Sanders para criticar o processo eleitoral americano. No domingo, o bilionário perdeu os 34 delegados do Colorado para Cruz, em uma escolha comandada pela elite local do partido, da qual eleitores comuns não participaram.

Partidários de Donald Trump durante comício em Albany, Nova York Foto: REUTERS/Mike Segar

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Trump também acusou seu adversário de "comprar" votos por meio do pagamento de viagens e a oferta de outras vantagens. "Que tipo de sistema é esse? Agora, eu sou um outsider, eu entro no sistema e estou ganhando a votação por milhões de votos. Mas o sistema é viciado, é corrupto", declarou em entrevista à Fox News. 

Apesar de propagar suas habilidades como negociador e repetir que conhece o sistema "por dentro", Trump está sendo ameaçado pela infraestrutura montada por Cruz para conquistar delegados que estavam vinculados a candidatos que já saíram da disputa ou que não estão obrigados a optar por um candidato específico, em razão das regras de seus Estados. A legislação eleitoral americana não é federal e cada unidade da federação define suas próprias normas.

"Cruz entendeu que ele não é uma figura popular e Trump é um político amador", disse ao Estado Geoffrey Kabaservice, consultor do Partido Republicano e autor do livro Rule and Ruin (Regra e Ruína, em tradução livre), sobre a perda de espaço dos moderados dentro da legenda. "Só na última semana Trump se deu conta de que pode ganhar o voto popular, mas perder na contagem dos delegados."

Para enfrentar a máquina de caça aos delegados montada por Cruz, Trump contratou Paul Manaforte, um especialista nas regras que regem as convenções republicanas. Foi ele que acusou Cruz de usar táticas da Gestapo, a polícia secreta nazista.

Se o bilionário não conseguir votos suficientes para garantir o apoio de 1.237 delegados, o candidato do partido será escolhido durante a convenção. Na hipótese de nenhum dos nomes obter a maioria no primeiro turno de votação, os delegados ficam liberados para votar em quem quiserem. Contando com essa possibilidade, Cruz tem cultivado com afinco os participantes da convenção, em busca de compromissos para o segundo turno de votação.

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O analista político Michael Barone, ligado ao Partido Republicano, acredita que Cruz sairá vitorioso da disputa, mesmo tendo menos votos do que Trump. Em sua opinião, isso não é um indício de que o sistema é "viciado", como sustenta o bilionário. "Ele poderá ter mais votos, mas não terá 50%", observou Barone, em relação aos votos dados nas primárias republicanas. Até agora, ressaltou, Trump conquistou 37% dos eleitores. "Há 63% que não querem vê-lo como candidato."

Até a semana passada, Trump apostava em seus instintos e declarações bombásticas para sustentar a liderança na corrida de seu partido. Mas as falhas de organização ficaram evidentes em sua derrota no Colorado e no sucesso de Cruz em conquistar delegados. 

Apesar disso, Kabaservice acredita que o cenário mais provável será a vitória de Trump, mesmo que o bilionário chegue à convenção sem os 1.237 delegados necessários para garantir a nomeação. Segundo ele, as prováveis vitórias de Trump em Nova York e na Califórnia "mudarão a narrativa", que tem sido dominada pelos sucessos pontuais de Cruz. Em sua avaliação, a maioria do Partido Republicano quer evitar uma convenção disputada e daria ao bilionário o número de delegados necessários para a nomeação no primeiro turno de votação. 

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