Venezuela inicia revisão das assinaturas para referendo revogatório contra Maduro

Coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática disse ter recolhido 2,5 milhões de firmas. Para que presidente venezuelano seja revogado do cargo, será preciso obter mais de 7,5 milhões de votos

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Por Redação
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CARACAS - Quase 2 milhões de assinaturas apresentadas pela oposição venezuelana para ativar o referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro começarão a ser auditadas nesta quarta-feira, 4, pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), um processo complicado e que será cuidadosamente vigiado pelo governo.

"Vamos ter acesso a todas as listas. Assinatura falsificada, processo assegurado", advertiu Maduro na noite de terça-feira em seu programa de televisão semanal, ao explicar que a comissão por ele nomeada verificará cada assinatura recolhida.

MUD divulgou foto com as dezenas decaixas nas quaisas planilhas com assinaturas para o referendo foram entregues ao CNE Foto: EFE/MUD

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O presidente garantiu, no entanto, que se submeterá ao referendo caso o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) valide o processo para convocar a consulta. "O que disser o CNE é palavra sagrada. Se no segundo passo confirmarem que recolheram as firmas, vamos ao referendo e ponto", declarou.

"O processo começa amanhã (quarta-feira) e lançamos um desafio: em poucos dias vamos saber que inflaram em um milhão todas essas assinaturas que eles dizem que entregaram", declarou Jorge Rodríguez, coordenador da comissão nomeada por Maduro para acompanhar a verificação das firmas.

O CNE, acusado pela oposição de servir ao governo, ainda não anunciou o procedimento de verificação, mas, segundo a lei, deverá revisar as planilhas em cinco dias e depois convocar os signatários a ratificarem seu apoio com a impressão digital, em outros cinco dias. Apenas depois de validá-las é que se autorizará a coleta das quatro milhões de assinaturas exigidas para convocar o referendo.

A coalizão de oposição Mesa da Unidade Democrática (MUD) disse ter recolhido em poucos dias 2,5 milhões de assinaturas para convocar o referendo, sendo que 1,85 milhão já foram entregues, quando eram necessárias apenas 197.978 (1% do padrão eleitoral).

"As assinaturas em massa do povo e a convocação do referendo os está deixando loucos", afirmou o líder opositor Henrique Capriles, ex-candidato presidencial que perdeu as eleições para Maduro em abril de 2013 por uma margem estreita.

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Historicamente dividida, a oposição que controla o Parlamento está concentrada na busca de um objetivo comum: o referendo revogatório, garantido pela Constituição, para interromper o mandato de Maduro, eleito para o período 2013-2019.

No entanto, ainda se desconhece se haverá demora ou interpretações das normas que atrasem o processo ou se, por exemplo, ele será afetado de alguma maneira pelo plano de racionamento de energia ordenado por Maduro, que reduziu para dois dias a semana de trabalho no setor público.

Para o constitucionalista José Ignacio Hernández, o CNE "deverá passar a fase de validação se constatado que existe um número mínimo exigido (1%)". "Por serem apresentadas na segunda-feira passada, o período para isso vence em 7 de maio, nem um dia a mais", acrescentou.

Para que Maduro seja revogado do cargo, o "Sim" no referendo deverá obter mais de 7,5 milhões de votos com que foi eleito depois da morte de seu mentor, Hugo Chávez, em 2013. "Estamos prontos para o que der e vier", assegurou o presidente.

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Mas a oposição, que arrasou nas eleições parlamentares de dezembro, está confiante. "Vamos conseguir porque o povo quer sair desse governo", assegurou o secretário executivo da MUD, Jesús Torrealba.

Segundo pesquisa da empresa Venebarómetro, 68% dos venezuelanos são favoráveis a Maduro deixar o poder e à realização de novas eleições, e 84,1% acham que a situação do país é muito ruim.

A Venezuela tem a inflação mais elevada do mundo (180% em 2015) e sofre uma severa escassez de alimentos, medicamentos e outros produtos básicos. Maduro atribui isso a uma suposta "guerra econômica" dos empresários de direita para derrubá-lo e também à queda nos preços do petróleo, principal fonte de renda do país. /AFP

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