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A guerra na Colômbia, travada via Cuba

Grupo guerrilheiro ELN afirma ter desistido do socialismo e quer negociar com o governo

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Por Nicholas Casey
Atualização:

HAVANA - Os rebeldes explodiram trechos de oleodutos e delegacias de polícia na Colômbia com bombas caseiras. Eles bloqueiam rodovias e fecham partes do país durante dias. Matam soldados em emboscadas - e mantêm outros como reféns do movimento guerrilheiro.

Durante anos, a cadeia de comando dos rebeldes foi liderada por Israel Ramírez Pineda, um dos cinco maiores chefes da guerrilha à frente do último grande grupo de rebeldes na Colômbia, o Exército de Libertação Nacional (ELN).

Não está claro se o presidente Iván Duque vai seguir os passos de seu predecessor, Juan Manuel Santos, e negociar com o ELN. Foto: AFP Photo/Presidencia Colombia

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Do subsolo de um hotel vazio em Havana, Ramírez exige que o governo negocie com ele, e enumera os últimos prisioneiros capturados por seu grupo rebelde: quatro soldados, três policiais e dois funcionários militares de serviço.

"Um líder liberal colombiano disse certa vez, há meio século, que é melhor usar sua boca do que usar a sua bala", disse Ramírez ao jornal The New York Times no final do mês passado, afirmando que preferia falar com o governo a tomar reféns.

Os esforços declarados por Ramírez para chegar à paz baseiam-se em uma estratégia violenta que provocou dezenas de assassinatos este ano.

Mas durante décadas, a luta armada foi o slogan do ELN, que prometeu combater a pobreza com ataques contra o Estado. Ramírez foi condenado a 39 anos de prisão por planejar o sequestro de um avião colombiano em 1999.

Agora, aos 64 anos, o comandante, mais conhecido por seu nome de guerra, Pablo Beltrán, admite que as ambições do grupo são muito menos vastas. "Não estamos pedindo o socialismo", disse, e acrescentou que o que seus rebeldes buscam são proteções básicas para os camponeses e uma solução para que baixem as armas.

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Em 2016, o maior grupo rebelde do país – as Forças Armadas Revolucionárias de Colômbia, conhecido como Farc - obteve um acordo de paz com o governo que protegesse seus membros de condenações à prisão.

O acordo pôs fim a mais de 50 anos de conflito e proporcionou ao presidente Juan Manuel Santos um Prêmio Nobel da Paz. Mas também destruiu sua popularidade. Muitos colombianos ficaram furiosos com o acordo, considerando-o demasiado brando com as Farc. A reação negativa contribuiu para alimentar a ascensão do novo presidente, Iván Duque, que mostrara revolta com o acordo. Agora, ele precisa decidir se aceitará a exigência de conversações de paz com o ELN.

Durante anos, o ELN participou de negociações com Santos e até prometeu parar sua luta. Mas quando o cessar-fogo expirou, o grupo retomou os ataques.

Como o derramamento de sangue não terminara, o Equador, que fora a sede das conversações, disse que não mais as sediaria, obrigando Ramírez e a sua delegação a se transferir para Cuba.

O próprio Ramírez admite que não foi fácil convencer seus seguidores. "Persistem sérias dúvidas", afirmou, acrescentando que muitos combatentes não confiam no governo.

Duque pouco falou a respeito das negociações. Mas o governo continua na ofensiva. No dia 22 de agosto, o presidente anunciou a captura de um importante financiador da guerrilha. "Continuaremos o nosso plano de infligir choques", afirmou no Twitter.

As Farc depuseram as armas no ano passado. Mas quando fundaram um partido político, os assassinatos de seu pessoal de campanha e ataques contra candidatos obrigaram-nas a interromper a campanha em fevereiro. Além disso, um dos principais comandantes das Farc foi preso em abril, acusado de narcotráfico. Alguns comandantes de patente inferior continuam lutando.

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"Temos um exemplo que nos dá medo", afirmou Ramírez referindo-se ao acordo das Farc.