Apesar do crescimento durante a pandemia, indústria de carne vegetal enfrenta queda de vendas

Alguns anos atrás, o negócio estava crescendo, mas esse crescimento desacelerou, com alguns se perguntando se o número de consumidores atingiu seu limite

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Por Julie Creswell
Atualização:

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Por um tempo, parecia que a Beyond Meat estava dominando o mundo.

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Seus hambúrgueres e salsichas “falsos” estavam chegando aos pratos das casas nos Estados Unidos e nos cardápios de redes como Subway, Carl’s Jr. e Starbucks. Quando a empresa abriu seu capital em 2019, suas ações dispararam quando os investidores apostaram que o movimento sem carne estava finalmente tendo seu momento. Durante a pandemia, as vendas da Beyond Meat em supermercados aumentou à medida que consumidores curiosos experimentavam suas opções veganas.

Mas hoje em dia, a Beyond Meat perdeu um pouco de seu encanto.

Suas ações caíram quase 83% no ano passado. As vendas, que a empresa esperava que aumentassem em até 33% este ano, agora devem mostrar apenas um pequeno crescimento. O McDonald’s concluiu um piloto do hambúrguer McPlant - feito com um hambúrguer da Beyond Meat - este ano, sem planos de colocá-lo no cardápio permanentemente.

No final de outubro, a empresa disse que estava demitindo 200 pessoas, ou 19% de sua força de trabalho. E quatro altos executivos foram embora nos últimos meses, incluindo o diretor financeiro, o diretor da cadeia de suprimentos e o diretor de operações, que a Beyond Meat suspendeu após sua prisão sob alegações de que ele mordeu o nariz de outro homem em uma briga em um estacionamento.

O que os investidores e outros estão debatendo agora é se as lutas da Beyond Meat são específicas da empresa ou um prenúncio de questões mais profundas na indústria de carne à base de vegetais.

A Beyond Meat está lidando com demissões e queda no preço das ações, apesar de pontos positivos como a popularidade de um prato de frango Beyond Meat nos restaurantes Panda Express. Foto: Jeenah Moon/The New York Times

“No nível da categoria, estamos vendo os volumes de carnes à base de vegetais caírem por 22 meses consecutivos”, disse John Baumgartner, analista de consumo de alimentos da instituição financeira Mizuho Americas.

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Alguns anos atrás, os investidores esperavam que a categoria explodisse em crescimento ano após ano, disse Baumgartner. Agora, ele disse, essas expectativas estão sendo reconsideradas.

“Estamos otimistas quanto ao futuro da carne vegetal, mas esta é uma história de 20 a 25 anos”, ele disse. “Isso não vai acontecer em 3, 5 ou 10 anos.”

Alguns dizem que a desaceleração nas vendas é um produto da inflação de alimentos, já que os consumidores trocam a carne vegetal, que é mais cara, por carne animal mais barata. Mas outros se perguntam se as empresas simplesmente atingiram o número máximo de consumidores dispostos a experimentar ou comprar repetidamente hambúrgueres e salsichas “falsos”.

Analistas da Deloitte, que realizaram uma pesquisa com consumidores este ano, questionaram se os 53% que não compravam carnes vegetais poderiam se tornar clientes.

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“A categoria vinha crescendo a dois dígitos há muito tempo e esperava-se que isso continuasse, mas o que vimos este ano é que o número de consumidores não aumentou”, disse Justin Cook, líder de pesquisa de produtos de consumo dos EUA na Deloitte.

Embora a inflação tenha desempenhado um papel, também houve um declínio na percepção de que as carnes à base de vegetais são mais saudáveis do que as proteínas animais. (As empresas se concentram nos benefícios ambientais.) Mas os analistas da Deloitte disseram que outro problema pode ser a resistência a um produto que alguns segmentos de clientes veem como ligados a ideias politicamente de esquerda.

Além da Panda Express, redes como KFC e Taco Bell estão testando os produtos da Beyond Meat, disse Brown. Foto: Jeenah Moon/The New York Times

Em agosto, quando a rede de restaurantes Cracker Barrel declarou em sua página no Facebook que havia começado a oferecer a “salsicha impossível” sem carne, o post foi inundado com milhares de comentários de clientes irados. “Vocês irão à falência”, um deles escreveu. “Você acabou de perder uma tonelada de sua base. Você obviamente não conhece seus clientes”.

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Os dados em torno da categoria são diversos. No ano passado, o volume de vendas de carnes refrigeradas à base de vegetais caiu 11,6%, especialmente em embalagens de carne moída “falsa” e hambúrgueres, de acordo com a IRI, uma empresa de pesquisa de mercado. Mas o volume de vendas de carnes vegetais congeladas, que normalmente são mais baratas do que os produtos refrigerados, caiu apenas levemente. O volume de vendas de nuggets e produtos “falsos” de frango aumentou acentuadamente.

Além disso, enquanto alguns fabricantes de carne à base de vegetais estão lutando, outros estão com as vendas crescendo.

Em outubro, a gigante brasileira de frigoríficos JBS disse que estava fechando a Planterra Foods, sua operação de carne à base de vegetais, depois de apenas dois anos. E o volume de vendas da fabricante de carne vegetariana Morningstar Farms, que a Kellogg disse que planeja desmembrar ou potencialmente vender, caiu acentuadamente em quase todas as categorias este ano, de acordo com os dados do IRI. Em uma ligação com analistas de Wall Street em agosto, o presidente-executivo da Kellogg, Steven Cahillane, atribuiu a queda a problemas na cadeia de suprimentos com um co-fabricante dos produtos.

Mas a Impossible Foods, de capital fechado, disse que a demanda por seus produtos cresceu tremendamente no ano passado.

“Não estamos experimentando nada parecido com o que a Beyond Meat relatou ou algumas das outras marcas no setor”, disse Keely Sulprizio, porta-voz da Impossible Foods, em um e-mail. “Muito pelo contrário: estamos vendo um hipercrescimento, com mais de 60% de crescimento ano a ano nas vendas somente no varejo.”

Os dados do IRI mostram que, enquanto o volume de vendas de carne moída da Impossible e hambúrgueres “falsos” caiu ligeiramente, os volumes de outras categorias, incluindo carne “falsa” congelada e frango, dispararam.

“Lançamos recentemente um tamanho familiar maior na área de congelados e ele tem sido muito popular entre varejistas e consumidores”, disse Sulprizio.

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Em uma ligação com analistas de Wall Street no início de novembro, Ethan Brown, fundador e executivo-chefe da Beyond Meat, disse que um número crescente de players de carne à base de plantas estava lutando por um grupo menor de consumidores, à medida que os compradores preferiam proteínas animais mais baratas. Como resultado, “uma mudança parece estar em andamento e esperamos que mais marcas recuem ou se consolidem”, disse Brown. A Beyond Meat recusou comentários para este artigo para além da ligação com os analistas.

Enquanto a empresa esperava restaurar o crescimento de seus produtos refrigerados, que têm algumas das maiores margens de lucro, Brown observou que estava expandindo a distribuição de muitos de seus produtos congelados.

“Frango à base de vegetais congelado é a maior subcategoria em todas as carnes à base de vegetais e continua a crescer a um ritmo de dois dígitos”, ele disse. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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