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Em meio a conversas sobre o clima, o apelo de um ator à ação

Peça de Fehinti Balogun sobre seu despertar para questões climáticas foi exibida na COP26, ator está entre os artistas de teatro que tentam fazer a diferença por meio de seu trabalho

Por Whitney Bauck
Atualização:

Fehinti Balogun sabe que o teatro pode mobilizar as pessoas para a ação climática, porque foi isso que fez por ele.

Em 2017, enquanto se preparava para um papel em Mito, uma parábola sobre o clima, o ator começou a ler livros sobre mudanças climáticas e ficou alarmado com o verão extraordinariamente quente que estava experimentando na Inglaterra. A peça pedia que ele e os outros atores repetidamente dissessem as mesmas falas mundanas, ao ponto do absurdo, enquanto o ambiente se rompia terrivelmente ao redor deles - as paredes com óleo, o fogão pegando fogo, o freezer escorrendo água.

Fehinti Balogun. Ator escreveu a peça 'Can I Live?' com objetivo de tornar 'ativismo popular acessível e representar pessoas negras e da classe trabalhadora". Foto: Tom Jamieson/The New York Times

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A experiência toda mudou sua vida, disse Balogun. De repente, nada parecia mais importante do que tratar da crise global. Nem mesmo o papel principal em uma produção do West End (um sonho há muito cobiçado) de The Importance of Being Earnest. Sua ansiedade crescente o fez se sentir como se estivesse vivendo uma versão real do Mito, em que a sociedade continuava repetindo o mesmo velho roteiro, mesmo enquanto o planeta mergulhava no caos.

“Saber de tudo que fiz me deixou com raiva do mundo por não fazer nada”, disse Balogun de 26 anos (Dune, I May Destroy You) em uma entrevista por telefone. "Não entendi como não estávamos revoltados."

Esse senso de urgência é o que ele espera transmitir ao público em Can I Live?, uma nova peça que ele escreveu, estrelou e criou com a companhia de teatro Complicité. Uma versão filmada da peça, que também conta com atores e músicos coadjuvantes e foi originalmente concebida para uma apresentação ao vivo, foi exibida na COP26, a reunião climática das Nações Unidas em Glasgow, na Escócia. O trabalho é tão inovador quanto qualquer peça de teatro que surgiu durante a era covid-19: inicialmente, parece ser apenas uma sessão íntima de Zoom com Balogun, mas evolui para uma mistura explosiva de falas, animação, hip-hop e diálogo.

A produção com duração de uma hora combina fatos científicos sobre o efeito estufa com a história da própria jornada de Balogun no movimento climático. Também enfoca a lacuna entre os grupos ambientalistas predominantemente brancos aos quais ele se juntou e as experiências de seus amigos e familiares principalmente negros.

“O objetivo é tornar o ativismo de base acessível e representar as pessoas não brancas e da classe trabalhadora”, ele disse. Para isso, ele entrelaça sua própria história com a do escritor e ativista nigeriano Ken Saro-Wiwa, que fez campanha contra a extração destrutiva de petróleo em nome de seu povo Ogoni.

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“Não falamos com frequência sobre o Sul global”, disse Balogun. “Não falamos sobre as comunidades que lideram essa luta há anos.”

Lanxing Fu, codiretora da organização sem fins lucrativos Superhero Clubhouse em Nova York, passa parte de seu tempo focada naqueles que serão mais afetados por um planeta mais quente: a próxima geração. Através do programa pós-escolar Big Green Theater, do Superhero Clubhouse, executado em colaboração com o Bushwick Starr e o Astoria Performing Arts Center, alunos do ensino público fundamental no Brooklyn e no Queens aprendem sobre questões climáticas e escrevem peças em resposta ao que estão aprendendo.

Mais de uma década desde o início do programa, Fu disse que o que é mais impressionante nas peças dos alunos é como instintivamente os jovens escritores entendem uma verdade básica sobre o clima que escapa a muitos adultos: para encontrar soluções de longo prazo, precisamos trabalhar juntos.

 “Um grande elemento de resiliência climática está na comunidade que construímos e como nos unimos”, ela disse. “Isso está sempre muito presente em suas histórias; geralmente faz parte da maneira como algo é resolvido. ”

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A dramaturga e escritora de TV Dorothy Fortenberry, residente do Queens, também passa muito tempo pensando sobre o papel das crianças no movimento. Sua peça The Lotus Paradox, que terá sua estreia mundial em janeiro no Warehouse Theatre em Greenville, Carolina do Sul, pergunta: O que acontece quando as crianças estão constantemente recebendo a mensagem de que precisam salvar o mundo? Como grande parte do trabalho de Fortenberry na TV (ela é uma escritora de The Handmaid’s Tale), The Lotus Paradox inclui o assunto das mudanças climáticas sem torná-lo o único foco da história.

“Se você está fazendo uma história sobre qualquer coisa, em qualquer lugar, e não tem mudanças climáticas nela, é uma história de ficção científica”, ela disse. “Você escolheu tornar a história menos realista do que seria de outra forma.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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