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Um dos experimentos mais longos começa a germinar nos EUA

Depois de permanecerem dentro de garrafas enterradas durante 142 anos, 11 sementes germinaram no campus da Universidade Estadual do Michigan depois de plantada por cientistas

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Por Redação
Atualização:

David Lowry estava impaciente esperando as sementes tão antigas despertarem. Dias e dias o professor de botânica da Universidade Estadual do Michigan entrava no porão da escola para dar uma espiada na câmara germinadora e ver apenas sujeira.

Mas em 23 de abril, ao examinar novamente, viu uma minúscula planta, e suas duas folhas aparecendo. “Foi um momento incrível”, disse ele.

Uma semente de Verbascum blattaria brota após passar 142 anos enterrada numa garrafa. Foto: Derrick L. Turner/Michigan State University via The New York Times

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Não se tratava de uma germinação normal de primavera. Em 1878 o botânico William James Beal extraiu essa semente e outras milhares de diferentes plantas daninhas no entorno de East Lansing, Michigan. Ele então as guardou em garrafas que enterrou num local secreto no campus da universidade com o objetivo de saber se ainda germinariam depois de anos, décadas, ou até séculos dormentes. Em meados de abril, Lowry e quatro colegas às escondidas escavaram o terreno, desenterraram uma das garrafas e plantaram as sementes que estavam dentro dela, dando prosseguimento assim a um dos experimentos de mais longa duração conhecidos no mundo.

Durante o final de abril e início de maio, mais plantas surgiram. Uma delas é um mistério, com folhas mais peludinha e mais pontiagudas do que outras que germinaram.

O resto é mais provável que seja uma espécie de Verbascum blattaria, uma erva longa com muita flor, conhecida como traça verbasco, ou mariposa verbasco, por causa dos seus estames tipo antenas. A espécie foi introduzida na América do Norte nos anos 1800 e vive uma vida prosaica em campos e pradarias.

O fato é que essa planta teve sorte porque provavelmente não devia fazer parte do experimento. Aparentemente, Beal teve intenção de preservar uma espécie diferente, a Verbasco Thapsus, presente nas oito primeiras garrafas e que se desenvolveu bem, com algumas das suas sementes germinando depois de apenas 20 anos dormentes. Desde então, das 50 sementes de Verbasco Blattaria colocadas originalmente em cada garrafa, 31 germinaram depois de 50 anos, seguidas por 34 depois de 60 anos e assim por diante. Em 2000, quando a garrafa anterior foi retirada na escavação e testada, metade das sementes dentro dela se desenvolveu.

Levará tempo para a equipe determinar exatamente o que brotou e concluir quais das outras sementes não são viáveis. Nas próximas semanas eles oferecerão a todas as sementes da garrafa estímulos que podem impeli-las a germinarem, ou seja, um tratamento frio, banho de fumaça e um spray com um hormônio para crescimento de plantas. (Em 2000 um tratamento frio levou à germinação de uma única semente de Malva pusilla, a única planta que não era do tipo Verbasco a germinar naquele ano).

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Eles também podem fazer pequenos cortes nas sementes maiores. “Forçamos por fora porque isso ajuda algumas a germinar”, disse Marjorie Weber, membro da equipe e professora assistente de biologia vegetal na universidade.

Dr. Lowry (esq.) e Marjorie Weber desenterram uma dasgarrafas do experimento. Foto: Derrick L. Turner/Michigan State University via The New York Times

Embora seja difícil tirar muitas conclusões neste estágio, o fato de algumas plantas se desenvolverem depois de dormentes por tão longo tempo é algo incrível”, disse Lowry.

Segundo Margaret Fleming, pesquisadora e membro da equipe, o afã das plantas para germinarem demonstra a sua saúde. “Algumas estão se desenvolvendo como se o tempo não tivesse passado", disse ela.

A aparente persistência da Verbascum Blattaria, uma espécie de erva daninha não nativa, também tem implicações para a conservação. Se espécies como esta conseguem sobreviver embaixo da terra por décadas, ou mesmo séculos, elas podem aflorar em terras que as pessoas tentam transformar num habitat de plantas nativas - “apresentando surpresas e talvez até problemas para projetos de restauração no futuro”, disse Lars Brudvig, outro membro da equipe e professor de Ecologia na universidade.

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Agora que as sementes da garrafa mais recente foram plantadas com sucesso, a equipe está ansiosa para semear outras novas. Embora o experimento só tenha previsão de término em 2100 “a equipe está agora preparando uma continuação”, disse Frank Telewski, professor de Biologia Vegetal na universidade”.

À medida que os pesquisadores consolidam seus planos, eles estão criando uma lista de recrutamento de sementes. Apesar deste novo experimento, como o original, abranger também outras ervas daninhas, invasivas, serão incluídas plantas nativas e algumas que se sabe precisam de estímulos incomuns para germinarem, como fumaça e ar frio.

E a Verbascum blattaria será utilizada de novo, disse Telewski. A equipe poderá até adicionar algumas sementes de brotos germinados este ano - que, depois de um tempo na câmara de germinação, poderão ter um local reservado no jardim Botânico W.J.Beal da universidade.

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Ali, depois de mais de 140 anos enterradas, aquelas plantas pacientes podem finalmente sentir o sol. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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