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'Milagre da maconha' salva cidade no sul dos Estados Unidos

Antes voltada ao plantio de algodão, Cotton Plant agora dá as boas-vindas às plantações legais de cannabis

Por Richard Fausset
Atualização:

COTTON PLANT, ARKANSAS - O prefeito Willard C. Ryland procurou por toda parte a salvação de sua cidade que estava morrendo. Ele tentou atrair uma empresa de embalagem de vegetais. Um processador asiático de carpa. Uma cadeia de lojas que vende itens baratos. Mas seu esforço parecia em vão. Então veio a maconha e a esperança.

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Os eleitores do Arkansas decidiram em 2016 legalizar a planta para uso médico, dando ao Estado uma oportunidade tanto para desenvolver uma nova indústria quanto para lidar com problemas sociais incômodos. O programa de licenciamento do Estado incentiva os plantadores de maconha legal a se estabelecerem onde os novos empregos são mais necessários, em comunidades perenemente pobres.

Ryland, 63 anos, não bebe, é frequentador de uma igreja e foi criado em uma fazenda. Mas quando uma startup chamada Bold Team lhe abordou para investir em sua cidade, dificilmente lhe incomodou o fato dela querer cultivar o que o presidente Ronald Reagan declarou ser “provavelmente a droga mais perigosa nos Estados Unidos”.

O prefeito teve dificuldade em ver a desvantagem. “Eu considero um milagre, eu realmente acredito nisso”, ele disse. “É isso que estamos procurando. E o que é notável é que eles vieram e nos encontraram. ”

O fato de que Cotton Plant, uma pequena cidade do delta do Mississippi marcada pelo racismo e pelas forças da mudança econômica, possa abrigar em breve uma das cinco primeiras operações licenciadas do Estado, ilustra a nova linha da engenharia social na implantação paulatina da maconha sancionada pelo Estado. Outros Estados adotaram regras para incentivar a participação de grupos minoritários na incipiente indústria da maconha.

Parte externa de uma escola primária em Cotton Plant, Arkansas, que fechou em 2014. A escola secundária fechou em 2004. Foto: Andrea Morales para The New York Times

O plano da Bold Team de ir à Cotton Plant se deparou com a oposição, com o plano sendo contestado em um tribunal estadual. Tais desafios são comuns nos lançamentos de maconha medicinal do Estado. Mas Ryland disse que estava confiante de que a Bold Team prevalecerá. Os funcionários da empresa disseram que suas instalações teriam inicialmente 25 funcionários, alguns deles contratados localmente e inexperientes. A empresa também se comprometeu a contribuir com 1% de suas vendas brutas para o orçamento da cidade.

Ryland, que voltou para Cotton Plant em 2010 depois de se aposentar do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, disse que Deus o havia chamado para consertar Cotton Plant. Ele foi eleito prefeito em 2014 com o slogan “Mudança pela restauração”.

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Cotton Plant poderia usá-lo. A cidade já teve quatro máquinas de benefício de algodão, mas agora não resta nenhuma. A fábrica que outrora empregava 400 pessoas já se foi há muito. A população, que atingiu o pico de cerca de 1.800 durante a Segunda Guerra Mundial, diminuiu para apenas 653.

Décadas atrás, quando a mecanização da agricultura eliminou a necessidade de mão de obra, muitos moradores negros migraram para o norte em busca de empregos na fábrica. Então, na década de 1970, muitos brancos deixaram a cidade quando as escolas foram forçadas a se integrar. As escolas são uma questão discutível agora: o Ensino Médio da cidade foi fechado em 2004, e a escola primária em 2014. Hoje, a cidade tem 73% de negros e 30% dos moradores vivem abaixo da linha da pobreza.

Em um dia de semana recente, Ryland ofereceu uma excursão pelo que sobrou e dirigiu por uma rua principal repleta de lojas em ruínas e fechadas. A cidade não tem mais um banco, uma mercearia, uma loja de bebidas ou até mesmo um posto de gasolina. Uma pequena loja de conveniência, com um café ainda menor na parte de trás, é uma das poucas empresas de varejo restantes.

Ryland apontou o grande armazém de algodão que ele adoraria ver tomado por uma empresa de comércio eletrônico.

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"Vamos precisar de algo aqui em Cotton Plant - tudo está fracassando", disse Kiyona Woods, 35 anos, que estava esperando por mantimentos grátis em um abrigo. Kiyona, que trabalha em uma loja a cerca de 20 quilômetros de distância, disse que se candidataria a um emprego na instalação para encurtar seu trajeto. “Todo mundo está feliz com isso, porque está trazendo empregos”, disse ela.

Elizabeth Nail e Alice Sorrells, ambas na faixa dos 70 anos, também apoiaram. A única preocupação de Alice é com pessoas desesperadas tentadas a roubar as plantas de maconha.

“Eles só terão que colocar uma cerca com arame farpado ao redor”, disse ela.

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“Bem, isso vai crescer em um prédio”, explicou Elizabeth.

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