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Movendo nossa mente ao redor de nosso corpo

É tempo de olharmos para dentro com a ajuda de movimentos que criam corpos e mentes saudáveis

Por Gia Kourlas
Atualização:

Bruce Lee falou em esvaziar a mente para ficar sem forma como a água, que "pode fluir ou pode bater". "Seja água, meu amigo", recomendou.

A pandemia nos fez mudar nossas perspectivas de muitas formas, mas a orientação de Lee é verdadeira: precisamos ser água. E precisamos nos mover. Isso cura. E, se mais pessoas se movessem, poderiam até encontrar seu jeito de dançar.

A pandemia está piorando. É hora de olhar para dentro para encontrar meios de superar este momento difícil. Foto: Angelo Silvio Vasta/The New York Times

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Os dançarinos sabem que a maneira como você está no corpo está relacionada à maneira como você está na mente e como se move pelo mundo. A maioria dos nova-iorquinos mora em um recinto apertado, que agora também funciona como local de trabalho. Nosso corpo está contraído. Conforme a pandemia se arrasta, fica cada vez mais difícil encontrar momentos de alívio e admiração.

O inverno não é minha estação favorita. Quero dizer que pode ser difícil até mesmo ficar de pé. Mas quando menos sinto vontade de me mover é quando mais preciso. É bom suar. Eu corro. Na última primavera [do hemisfério norte], uma amiga que me conhece bem recomendou uma professora: Erika Hearn. Ela salvou meu corpo e minha mente por meio de aulas no Instagram que combinam força, kickboxing, exercícios com elástico e mobilidade. É um pacote meticuloso e completo; além disso, ela se move com tanta facilidade dinâmica que o simples fato de assistir à execução fluida dos passos e repeti-los – incluindo os ocasionais momentos humanos de imperfeição – de alguma forma preenche a lacuna de não poder assistir a uma performance de dança ao vivo. Quando diz: "Fique comigo", ela não está se referindo somente a completar um movimento, mas a ter fé no movimento.

Ainda assim, é difícil permanecer otimista ao anoitecer. Estamos basicamente presos. Mas podemos usar o movimento como uma forma de olhar para dentro. Por meio da quietude e da desaceleração, podemos criar uma rica sensação de espaço ao mover nossa mente ao redor de nosso corpo. Desacelerar pode dar a sensação de liberdade – e, para mim, esse é um bom antídoto para o anoitecer.

A prática somática – chamada de "soma" ou corpo vivo – é uma forma de conectar a mente e o corpo que estimula a atenção interna. "Estamos falando de deixar o corpo vivo informar o comportamento. Mas como fazer isso? É preciso usar sua propriocepção – a capacidade de sentir o corpo no espaço – e sua consciência cinestésica", disse Martha Eddy, conceituada terapeuta de movimentos somáticos.

Concentrar-se na navegação do espaço e tornar-se consciente de como você se move, especialmente quando as atividades ao ar livre estão limitadas, é perturbador e aterrador, excruciante e estimulante, mas sempre transformador. É uma viagem que você pode fazer. "É uma jornada mental. E é uma jornada mental verdadeira", definiu Eddy.

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Kayla Farrish faz yin yoga em sua casa em Nova York. Foto: Angelo Silvio Vasta / The New York Times

Durante a pandemia, o treinamento virtual abriu a abordagem somática para o mundo maior.

Segundo Eddy, é apropriado que um princípio somático fundamental seja a ideia central de desacelerar: "Chamo isso de desacelerar para sentir. A respiração e a liberação da tensão estão relacionadas a isso. Às vezes separo os dois e às vezes os mantenho juntos: liberar a tensão e respirar."

Há níveis, mas desacelerar para sentir não é um ato estático: trata-se de migrar para um lugar mais interno. A esperança é que você saia de uma aula somática e traga um pouco dessa consciência para sua vida cotidiana. Sei que já fiz isso. Numa época em que parece que temos pouco controle, ter domínio sobre nosso corpo – e nosso mundo interno – é um tipo de poder. Ao se envolver em uma experiência somática, você percebe que essas práticas não se referem apenas à criação de um corpo flexível, mas de uma mente flexível.

O Método Feldenkrais, criado por Moshe Feldenkrais, faz isso e muito mais com seu sistema de exercícios que se concentra na função esquelética e na autoconsciência por meio do movimento. É lento, metódico e controlado. Por vezes, os movimentos parecem imperceptíveis. Você é orientado a se conter e também fica deitado de costas por bastante tempo. Mas isso não significa que seja fácil.

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Rebecca Davis, praticante do Feldenkrais, resumiu: "Você faz um movimento e presta atenção para ver como ele é. Faz algo com o lado direito e a mesma coisa com o lado esquerdo. Tentei destilá-lo para ensinar às pessoas como prestar atenção, a que prestar atenção e por que isso é importante."

Davis fala com você por meio de instruções físicas, que por sua vez desenvolvem uma habilidade: você ouve uma voz e seu corpo. Ao executar movimentos pequenos e detalhados, ela encoraja o relaxamento dos olhos, da mandíbula, da testa – locais de esforço parasitário, partes do corpo que não precisam trabalhar. É uma maneira de nos aquietar para que os detalhes sensoriais de nossa experiência se tornem mais claros. É como reaprender algo de dentro para fora, e as conquistas são incríveis.

"Quando seu peso não está forçando a coluna, o esqueleto; quando você não está caindo sobre si mesmo; quando descobre como usar os pés para que o peso suba e atravesse, é muito bom. Você fica mais leve. Dá menos trabalho para se mover", explicou Davis.

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Abraçar práticas orientadas para a quietude é importante para Marie Janicek, dançarina que virou personal trainer e que apresenta o podcast This Thing Called Movement (Essa coisa chamada movimento), que explora de que maneira o movimento afeta nossa vida: "Ele nos permite dar corpo à verdadeira profundidade, à sutileza e à dimensionalidade que são inerentes aos movimentos do dia a dia. Assim, temos uma capacidade maior de apreciar tudo que está acontecendo em nosso corpo, em nossa mente, em nosso senso de identidade. Não apenas quando estamos realmente nos movendo, mas também quando não estamos."

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