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Pandemia fez ingleses preferirem passar férias de verão mais perto de casa

Clássicas viagens para outros países da Europa foram substituídas pelas praias inglesas, onde negócios vão bem, mas proprietários sofrem com falta de trabalhadores e restrições impostas pela Covid

Por Eshe Nelson
Atualização:

ILHA DE WIGHT, Inglaterra – Pelo segundo ano consecutivo, um rito sagrado para milhões de pessoas na Grã Bretanha – fugir para o clima mais quente do Mediterrâneo – foi interrompido pela pandemia. O número de voos para dentro e fora da Grã Bretanha foi reduzido pela metade em comparação a 2019.

Ilha de Wight é um dos destinos que os britânicos escolheram para passar férias. Foto: Alexander Ingram/The New York Times

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Este ano, a ilha de Wight, uma pequena ilha na costa sul da Inglaterra, atraiu ainda mais visitantes para suas praias arenosas, passeios costeiros e arcadas. Mas as restrições pandêmicas, a redução de pessoal e o geralmente pouco cooperativo clima britânico estão desafiando visitantes e empresários nesta temporada.

Como muitos locais populares de férias, como Cornualha e o Lake District National Park, a ilha de Wight está sofrendo com a escassez de trabalhadores, especialmente em hotéis e restaurantes. Um dos problemas é que as pessoas têm que fazer quarentena por 10 dias após serem avisadas pelo aplicativo de rastreamento do coronavírus no país. Essa restrição pode ser flexibilizada a partir de segunda-feira porque as pessoas completamente vacinadas não terão mais que se isolar se tiverem contato com alguém contaminado.

Mas há restrições mais persistentes: muitos trabalhadores aceitaram empregos em outros setores buscando um trabalho mais seguro. E o Brexit não ajudou – a quantidade de cidadãos da União Europeia trabalhando na Grã Bretanha encolheu em centenas de milhares.

Como resultado, os pequenos empresários da ilha são incapazes de se beneficiar completamente pelo aumento de visitantes. Eles estão com receio de ampliar demais e não terem trabalhadores suficientes para a demanda. Por isso estão restringindo o número de pessoas que atendem e limitando o horário de funcionamento.

Uma dessas empresárias é Yvonne Richardson, que abriu o Bellamy’s Bistro há 14 anos em Sandown, na costa sudeste da ilha. Contando com uma equipe pequena, ela teve um verão cheio.

“Há muitos visitantes que voltam todo ano, o que é ótimo”, Richardson disse. “E também muita gente nova que geralmente vai para lugares diferentes”.

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Por conta das restrições da pandemia, britânicos optaram por fazer viagens mais curtas nas férias. Foto: Alexander Ingram/The New York Times

Ainda assim, com espaço extra entre as mesas e períodos maiores entre as refeições para dar mais tempo à limpeza, o restaurante está ganhando menos dinheiro que antes da pandemia. O Bellamy’s Bistro também não conseguiu estender seu horário de funcionamento para acomodar mais visitantes. Sua cozinha funciona das 10:30 às 14:30, antes de reabrir às 17:30 por 2 horas e meia. O restaurante fecha aos domingos à noite e às segundas-feiras durante o dia todo para dar uma pausa para a equipe.

“Todo lugar teve algum problema com a redução de pessoal”, Richardson disse. “Temos sorte que nossos chefs voltam todo ano. Mas conseguir uma equipe extra teria sido impossível”.

Na Osborne House, uma residência de verão palaciana construída para a Rainha Vitória e o Príncipe Albert na metade do século XIX, os visitantes esperaram em longas filas por causa das medidas de segurança relativas à COVID, tais como entrada agendada.

Newport, a principal cidade da ilha, vive problemas comuns a muitas cidades britânicas. Mesmo quando os visitantes aumentam, as lojas continuam fechando. O colapso de grandes marcas de varejo e a mudança para a compra online esvaziaram muitas ruas importantes. 

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Richardson espera que o renascimento da staycation (quando famílias viajam de férias para locais mais próximo de casa) britânica – se durar – poderia revitalizar suas cidades litorâneas. Ela também costumava ir para a Espanha regularmente nas férias, o destino de viagem mais popular dos britânicos. Em 2019, 18 milhões de residentes do Reino Unido foram para lá.

“Com o passar dos anos ficou cada vez mais barato ir para a Espanha”, ela disse. “Mas infelizmente as cidades litorâneas britânicas sofrem com isso”

No lado oeste de Newport está localizado o Calbourne Water Mill, um moinho de farinha com um restaurante, museus e chalés para alugar. A propriedade evoca a história profunda da ilha, com registros indicando que os moinhos já funcionavam ali desde o século XI.

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Empresários precisaram se adaptar à demanda alta da estação em meio às perdas de pessoal por conta do Brexit e restrições da pandemia. Foto: Alexander Ingram/The New York Times

A dona do moinho, Sally Chaucer, disse que esteve ocupada acomodando clientes novos e regulares desde a reabertura no meio de julho. Mesmo assim, por causa de uma equipe menor na cozinha, o local diminuiu sua oferta de alimentos. Chaucer disse que também reduziu a carga de trabalho de sua pequena equipe, cortando, por exemplo, a quantidade de palestras no museu para não competir por trabalhadores com outros negócios locais. A entrada na propriedade do moinho está atualmente pela metade do preço.

O boom das staycations trouxe otimismo a Chaucer. Com novos visitantes descobrindo a ilha, ela pode expandir o negócio nas férias de inverno e se tornar um local para casamentos.

“Aqui é um lugar maravilhoso para se vir e fugir de tudo”, ela disse./TRADUÇÃO DE LÍVIA BUELONI GONÇALVES 

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