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Quem é Blindboy Boatclub, podcaster com saco plástico na cabeça que virou fenômeno de audiência

Por trás do popular ‘Blindboy Podcast’, ele diz que cobrir o rosto permite que ele diga coisas que não poderia dizer de outra forma

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Por Rachel Connolly

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - O podcaster irlandês David Chambers passa seus dias em um escritório excepcionalmente sem graça. Uma sala tão sem graça que chega a ser impressionante. Em uma entrevista recente via Zoom, ele estava com uma roupa que combinava, camiseta branca e um moletom preto liso. A única coisa digna de nota na tela era um saco plástico laranja e branco que Chambers usava na cabeça. Seus olhos verdes, sobrancelhas grossas e barba podiam ser vistos pelos buracos do saco, mas o resto de seu rosto estava escondido.

Embora não saibam como ele é por baixo da máscara, a maioria das pessoas na Irlanda conhece David Chambers pelo pseudônimo de “Blindboy”. Foto: Karen Cox/The New York Times

Embora não saibam como ele é por baixo da máscara, a maioria das pessoas na Irlanda conhece Chambers, 37, por seu pseudônimo “Blindboy Boatclub” ou, mais frequentemente, apenas “Blindboy”. Ele é mais conhecido como o apresentador do The Blindboy Podcast, um programa semanal no qual discute tópicos ecléticos, como os benefícios improváveis da urina do leão ou a ligação entre heavy metal e futurismo, e conta histórias pessoais que se desenrolam como contos. Ele aborda tópicos como saúde mental que os meios de comunicação irlandeses raramente abordam e traz uma sensibilidade típica de sua geração para discussões políticas. Seu registro é sério e intelectual, mas também engraçado e pé no chão.

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The Blindboy Podcast, que Chambers começou em 2017, atrai regularmente de 700.000 a 1 milhão de ouvintes mensais, de acordo com a Acast, a empresa que o hospeda. Seis anos depois, é uma espécie de fenômeno cultural na Irlanda e, cada vez mais, também no exterior. Chambers apareceu em alguns dos programas de entrevista mais populares da Irlanda, e o presidente Michael D. Higgins foi o convidado em um episódio recente do podcast. A Acast diz que mais da metade dos ouvintes do podcast estão fora da Irlanda, e Chambers fez programas ao vivo no Canadá, Tailândia, Espanha e Bélgica.

Antes do podcast, a carreira de Chambers teve várias reviravoltas surpreendentes. Ele usou pela primeira vez o pseudônimo de “Blindboy” ao fazer pegadinhas para programas de rádio, o que lhe rendeu alguma notoriedade na Irlanda e um culto de seguidores lá. Com um amigo que também fazia pegadinhas, Chambers formou uma dupla cômica de hip-hop chamada Rubberbandits, com um sucesso que viralizou em 2010. Essa faixa, “Horse Outside”, alcançou o segundo lugar nas paradas irlandesas, e Chambers aproveitou esse sucesso para apresentar programas de comédia na MTV e na estação britânica Channel 4.

Liberdade do anonimato

O saco plástico na cabeça de Chambers, que remonta ao início, era “parte de uma performance para desafiar a solenidade em tudo o que faço”, disse ele. Mas também garante o anonimato: ele agradece por ter sido poupado de algumas das armadilhas da fama, principalmente em um país pequeno, disse.

“Ser uma celebridade irlandesa em si é um pouco esquisito - a menos que você seja Paul Mescal, tipo, uma celebridade de verdade”, disse ele. “Eu não quero esse nível de constrangimento. Ser Blindboy na vida real seria uma existência muito, muito constrangedora.”

O anonimato também dá a Chambers a liberdade de falar abertamente no podcast sobre suas lutas pessoais com a saúde mental. Ele conta histórias engraçadas e familiares sobre suas experiências e esforços para controlar depressão, ansiedade e agorafobia. Um desses episódios intitula-se “Por que estou voltando para a terapia”.

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Essa transparência faz sucesso com seu público principalmente millennial e da Geração Z. Leah Moloney, uma fã irlandesa de 27 anos que começou a ouvi-lo regularmente durante a pandemia, disse em uma entrevista que achou o conteúdo de saúde mental “muito útil naquela época, porque ele estava falando muito abertamente, e certamente me senti menos sozinha.”

Ela acrescentou que quando Chambers disse aos ouvintes em abril passado, em um episódio chamado Intrapersonally Speaking, que ele havia sido diagnosticado com autismo, isso a ajudou a se adaptar a um diagnóstico de transtorno de déficit de atenção com hiperatividade que ela havia recebido recentemente. “Fui inspirada por ele a ser transparente”, disse ela, acrescentando que agora publica regularmente sobre sua experiência com TDAH no TikTok.

Questões como essas ainda são relativamente pouco discutidas na mídia e na sociedade irlandesa, e os fãs de Chambers parecem receber bem sua franqueza. Ele recebe “milhares e milhares” de mensagens nas redes sociais sobre saúde mental, disse ele, mas nunca conseguiu lidar com interações como essas pessoalmente. “Se eu não tivesse o saco”, disse Chambers, “pararia de falar sobre saúde mental”.

Atenção a temas aleatórios

A coisa mais interessante sobre o sucesso de The Blindboy Podcast, porém, é a natureza esotérica e aparentemente aleatória de muitos episódios. Onde é comum que podcasts populares da geração millennial atraiam interesse por meio de tópicos de guerra cultural - deliberadamente cortejando controvérsias ou falando principalmente sobre questões de justiça social em pauta - Chambers conquistou um grande público principalmente falando sobre coisas com as quais ninguém pareceria se importar.

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Um episódio traça a história dos ofícios até os monges; muitos outros abordam elementos misteriosos da mitologia irlandesa. “Topographia Hibernica”, uma coletânea de contos de Chambers que será publicada na Irlanda e na Grã-Bretanha em novembro, explora ainda mais esses temas, observando as ligações entre mitologia e colonialismo.

Falar com ele pode parecer deslizar por uma galáxia de buracos de minhoca da Wikipedia (no bom sentido). Há uma qualidade contagiante em seu entusiasmo por um catálogo aparentemente interminável e frequentemente bizarro de interesses e paixões.

Chambers disse que atribui o sucesso de “The Blindboy Podcast” ao fato de que ele só fala sobre seus interesses genuínos, algo que ele acha que o público consegue perceber. “Eu nunca vou falar sobre algo apenas para ser ouvido”, disse ele. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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