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Opinião|Inteligência Artificial do Bem: No Japão, brasileiro cria robôs que salvam vidas sem tirar empregos

Ouvimos frequentemente sobre a inteligência artificial (IA) e robôs causando danos, exterminando a humanidade ou roubando nossos empregos. Com os avanços rápidos, mudanças incertas e a influência da ficção, nosso imaginário tem sido dominado por um cenário catastrófico, onde aos pocous estamos sendo levados a temer mais a IA e os robôs do que a reconhecermos seus potenciais benefícios e o que podem fazer por nós. No entanto, é importante destacar exemplos que demonstrem como a IA e os robôs têm nos ajudado. Um exemplo é o desenvolvimento de robôs que inspecionam pontes, evitando colapsos e perda de vidas, além de antecipar acidentes, entre outros.

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A verdade é que os robôs podem trazer benefícios aos trabalhadores, aumentando a segurança daqueles que desempenham atividades perigosas e oferecendo várias vantagens à sociedade, como prevenção de acidentes e auxílio no resgate de vítimas em grandes catástrofes. É o caso dos robôs desenvolvidos pela empresa japonesa Hibot, fundada por Paulo César Debenest, um engenheiro brasileiro formado na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, juntamente com o engenheiro italiano Michele Guarnieri. 

A inspiração surgiu quando os dois eram estudantes de doutorado no Japão e decidiram aplicar a tecnologia de ponta desenvolvida na universidade em situações reais, especialmente em trabalhos perigosos. Esses robôs são projetados para realizar inspeções em ambientes extremos, como usinas nucleares, caldeiras industriais, pontes, túneis, ferrovias, geradores de eletricidade e até em campos minados.

Os robôs da Hibot oferecem uma série de benefícios para essas atividades perigosas, proporcionando maior segurança e eficiência. São ferramentas inteligentes, capazes de operar com certo grau de autonomia, mas sempre controladas por operadores humanos. O design dos robôs explora o potencial da robótica colaborativa, onde eles trabalham em estreita colaboração com os operadores humanos. Essa abordagem permite que os robôs auxiliem nas tarefas mais perigosas e fisicamente exigentes, enquanto os operadores mantêm o controle e a supervisão, garantindo a segurança e a precisão das operações.

Assim, esses robôs não substituem os trabalhadores, mas tornam suas tarefas mais seguras e eficientes. Ou seja, o resultado é uma parceria entre inteligência humana e inteligência artificial que permite uma execução mais segura e melhor de atividades que oferecem desafios físicos para as quais o corpo humano não está preparado.

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Para que essa parceria tenha sucesso, segundo Paulo César, um elemento crucial é o desenvolvimento de interfaces intuitivas e amigáveis, que permitem que os operadores controlem os robôs de forma eficiente, mesmo em situações de alta pressão e estresse. Por isso, a empresa investe no desenvolvimento de em interfaces avançadas com o usuário, como painéis de controle intuitivos, dispositivos de realidade aumentada e comunicação remota, para garantir que os operadores possam interagir com os robôs de maneira fácil e eficaz.

Vale ressaltar que o desenvolvimento de robôs para trabalhos perigosos apresenta desafios significativos. É necessário compreender como os robôs podem contribuir para tornar o trabalho dos operadores mais seguro e eficiente. Por essa razão, o Paulo César, ressalta que "a colaboração direta com clientes e usuários é essencial para entender as necessidades e os detalhes específicos de cada ambiente de trabalho". Tal colaboração permite o aprimoramento contínuo dos robôs e adaptação às necessidades específicas de cada ambiente de trabalho. Essa abordagem baseada no feedback direto dos usuários tem sido fundamental para impulsionar a inovação e garantir que os robôs da Hibot atendam às expectativas e demandas do mercado.

Para garantir a segurança dos operadores e trabalhadores envolvidos, os robôs são projetados com recursos específicos para diferentes ambientes perigosos seguindo normas rigorosas.  Medidas como botões de parada de emergência, resistência à água e a explosões são implementadas para garantir a proteção dos operadores e do ambiente ao redor do robô.

A abordagem da HiBot tem sido bem sucedida, comprovada tanto pela quantidade e diversidade de robôs desenvolvidos para diversas aplicações, como na quantidade de reconhecimentos internacionais através de prestigiadas premiações. Dentre as criações da empresa estão o Float Arm, usado para medir a espessura de tubos em locais de difícil acesso; o CT-ARM-Crane, desenvolvido para inspeção remota dentro do prédio do reator nº 1 da usina nuclear de Fukushima; o Bridge View, utilizado na inspeção de pontes; o GEEP, empregado na inspeção de geradores de grande porte em usinas termoelétricas/nucleares; o Soryu-IV, utilizado para treinamento de missões de busca e resgate pelas Forças de Defesa Civil de Cingapura; o Soryu-C, projetado para inspeção de tubos subterrâneos e locais de difícil acesso; o Squid, utilizado na inspeção de tubos de caldeiras industriais; o Anchor Diver, empregado na inspeção de piers em áreas afetadas pelo tsunami de 2011; e o Expliner, desenvolvido para inspeção de linhas de transmissão de altíssima tensão. Esses são apenas alguns exemplos dos diversos robôs criados pela HiBot para realizar inspeções em diferentes contextos e ambientes desafiadores.

E, dentre várias premiações internacionais, a empresa já recebeu Gold Edison Awards, considerado um dos mais prestigiados prêmios internacionais de engenharia que reconhece a inovação e a excelência no desenvolvimento de novas soluções.  Tal prêmio reconhece os esforços e contribuições de engenheiros, inventores e empresas em empurrar os limites da inovação a nível internacional. 

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Outra característica importante dos robôs da Hibot é a versatilidade. Embora sejam projetados para ambientes pré-definidos, eles são capazes de lidar com diversas variáveis e condições adversas. Os robôs operam em ambientes externos, enfrentando condições climáticas desfavoráveis, ou em ambientes internos, como tubulações de caldeiras com diferentes tamanhos. No entanto, há limites para a adaptabilidade, uma vez que projetar robôs capazes de se adequar a qualquer ambiente seria impraticável e afetaria negativamente o desempenho do sistema.

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Ao longo dos anos, a tecnologia dos robôs da Hibot tem evoluído constantemente. A empresa mantém parcerias com universidades e instituições de pesquisa, buscando constantemente métodos, componentes e abordagens mais eficientes. A cultura de inovação permeia todas as áreas do desenvolvimento dos robôs, desde o projeto mecânico até o firmware e o software. Além disso, a empresa está constantemente explorando novas tecnologias e avanços na robótica para aprimorar ainda mais seus produtos. Isso inclui a integração de sensores mais avançados, como câmeras de alta resolução, sistemas de mapeamento 3D e detecção de gases tóxicos, permitindo que os robôs realizem inspeções mais precisas e abrangentes.

No futuro, a Hibot pretende expandir sua atuação para outros setores e ambientes desafiadores, como exploração espacial, inspeção de estruturas submarinas e operações de resgate em áreas de desastre. A empresa está comprometida em continuar impulsionando a robótica para trabalhos perigosos, tornando-os mais seguros, eficientes e acessíveis, e contribuindo para a proteção da vida humana e do meio ambiente. 

A HiBot é um exemplo perfeito de IA do bem, ou seja, de como a IA pode se tornar uma ferramenta importante para melhorar a qualidade e salubridade de diversas atividades,  provocando uma mudança positiva na natureza do trabalho sem gerar desemprego. A IA nos traz uma oportunidade única de conciliar produtividade, resultado financeiro, e qualidade de vida dos funcionários. Essa é a utilização de IA que desejamos ver e que devem estar na missão das empresas que desenvolvem soluções baseadas em IA ou que estão atualmente adotando IA em suas operações.

Opinião por Alexandre Nascimento
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