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Arte gerada por IA é arte? A moda dos avatares e o polêmico concurso de arte

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Por Felipe Matos
Atualização:

Não é de hoje que a discussão sobre os efeitos dos avanços da inteligência artificial estão em alta. Eu, inclusive, comento sobre o assunto com uma certa frequência e ressalto que muitas pessoas temem que as máquinas roubem o lugar dos humanos em seus postos de trabalho. 

Embora soe como pessimismo, e apesar de o cenário não ser tão alarmante quanto parece, esse medo coletivo não é nada infundado. Recentemente explodiram nas redes sociais postagens de auto-retratos criados pela inteligência artificial do app Lensa, a partir de fotos dos usuários, com detalhes impressionantes.

Meu avatar criado pela IA do aplicativo Lensa. Seria arte? Arquivo pessoal.  

 Os modelos de IA "artistas" estão de fato se tornando muito mais inteligentes e há obras impressionantes criadas por algoritmos como Dall-E 2, Stable Diffusion ou Midijourney. A qualidade do trabalho é tão boa que um deles ganhou um concurso artístico realizado nos Estados Unidos, gerando grande repercussão. A "arte" premiada em primeiro lugar na categoria digital foi intitulada "Theatre d'Opera Spatial", e seu "autor", Jason Allen, utilizou um software gerador de imagem a partir de texto, o Midjourney.

O "Teatro de Ópera Espacial" de Jason Allen, criado pelo MidiJourney. Divulgação  

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Após uma enxurrada de críticas sobre a validade da peça na competição estadual, Allen defendeu seu trabalho, afirmando que passou por um longo processo de curadoria, ajustes minuciosos e edição no Photoshop, antes de chegar à arte final. Ainda assim, artistas e internautas comentaram sobre sua premiação no State Fair Colorado. "Estamos assistindo à morte da arte se desenrolar diante de nossos olhos", disse um usuário do Twitter.

Inteligência artificial x ética?

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No centro desta polêmica, está uma questão que os filósofos estéticos, artistas e engenheiros da computação vêm refletindo há tempos: qual é a essência fundamental da arte? 

Allen diria que a resposta é "transformação". Para ele, qualquer coisa que alguém faça que evoque uma reação de seu público é arte. "Você pegou algo de dentro e o exteriorizou. Você o trouxe ao mundo, e o mundo reagiu. Isso é arte.", disse Allen.

Mas, o crescente clamor de artistas contra o prêmio e a discussão sobre se a produção criada pela IA é realmente arte, tem um grande peso. Sobretudo porque Allen é o fundador e presidente da empresa norte-americana Incarnate Games, que explora mercados emergentes e novas tecnologias e seu impacto na indústria de jogos, fato que não vai exatamente de encontro ao dos interesses da classe artística.

Então, ficam aqui os questionamentos: é realmente ético usar uma ilustração concebida por inteligência artificial em uma competição de belas artes? Deveria existir uma categoria apenas para peças feitas por meio de IA? O trabalho dos artistas está em risco diante dessa nova possibilidade de criação?

Quando o computador Deep Blue derrotou o grande mestre de xadrez Garry Kasparovem em seu próprio jogo há mais de 25 anos, não houve um grande protesto declarando a morte dos jogadores de xadrez. Não podemos afirmar, porém, que a situação é a mesma.

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O que fica de lição é a urgência de entendermos cada vez mais como aplicarmos a ética à IA, quando o assunto é o impacto da tecnologia em atividades essencialmente humanas.

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