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Opinião|Onde foi que a 123 Milhas errou na estratégia de negócios?

Crise da empresa de passagens aéreas traz reflexões sobre empreendedorismo

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Foto do author Felipe Matos

A crise da 123 Milhas, empresa de venda de passagens aéreas que pediu recuperação judicial recentemente, traz várias lições importantes para empreendedoras e empreendedores e suas startups. A companhia entrou em crise após não honrar a venda de passagens promocionais a seus clientes.

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A primeira delas tem a ver com controle sobre o produto. A 123 trabalhava basicamente vendendo passagens que seriam pagas com milhas, a preços mais baixos. O ponto é que ela não tinha controle do preço dessas milhas e, portanto, assumia um risco a cada vez que fazia uma venda.

A administração dessa decisão envolvia apostar no preço futuro das milhas e reajustar os preços conforme a realidade do mercado. Trabalhar sem ter o controle de preço do seu principal produto traz um componente adicional de risco para o negócio e exige um constante ajuste fino de preços, que a 123 não consegui fazer.

Aqui entra outra lição, ligada a gestão de risco. Segundo consta na recuperação judicial, a empresa já tinha indícios de que os preços das milhas estavam subindo vários meses antes da aposta nas passagens promocionais a preços baixos. O otimismo exagerado ou a crença de que o mercado pode virar não deve cegar o empreendedor, que, às vezes, precisa tomar medidas drásticas para evitar um mal maior.

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Por fim, outra lição que cabe bem a qualquer empreendedor é conhecer os unit economics do negócio, ou seja, como o modelo de negócio opera, financeiramente, na menor unidade vendida possível - no caso, a passagem aérea. Se o custo para entregar uma unidade do produto ou serviço for menor que o preço cobrador, a empresa tem unit economics positivo e pode até se endividar buscando crescer mais depressa, por exemplo, pois tem uma máquina geradora de caixa saudável.

Crise da 123 Milhas traz reflexões sobre empreendedorismo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Já quando a conta dos unit economics não fecha, a empresa acumula um prejuízo a cada venda realizada. E aí, acelerar para crescer nessa realidade pode ser fatal. Basicamente a cada nova venda, aumentava-se o tamanho do buraco de caixa. E vale lembrar, estamos falando de um dos maiores anunciantes do Brasil em 2022.

Para os empreendedores, a lição que fica é de estar sempre de olho nos unit economics e não acelerar o crescimento do prejuízo. Foi-se o tempo em que investidores de risco estavam dispostos a bancar o crescimento a qualquer custo.

Opinião por Felipe Matos

CEO da Sirius, vice-presidente da Associação Brasileira de Startups e autor do livro 10 Mil Startups.

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