Startup Urbem, de madeira para obras, recebe aporte de R$ 103 milhões

Empresa desbrava o segmento de materiais de construção, apontado como uma grande promessa do mercado imobiliário

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Por Circe Bonatelli (Broadcast)
Atualização:

A Urbem, startup criada para produzir vigas, pilares e lajes de madeira, acaba de receber um aporte de R$ 103 milhões para desbravar o segmento de materiais de construção, apontado como uma grande promessa do mercado imobiliário.

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Com o investimento, a construtech (como são chamadas as startups de construção civil) passa a ser uma empresa independente. Até então, ela estava em processo de incubação pela Amata, grupo que faz o plantio e manejo de florestas para extração de madeira.

A maior parte dos investimentos, R$ 73 milhões, partiu dos quatro sócios da Amata - Guilherme Leal e Luiz Seabra (Natura), Marili Mattos e Dario Guarita Neto. Juntos, eles terão 76% da Urbem. Os outros R$ 30 milhões vieram do DX Ventures, fundo de investimento criado pela fabricante de materiais de construção Dexco (novo nome da Duratex), que ficará com uma fatia de 24% da startup.

O dinheiro será aplicado na montagem da fábrica da Urbem em Almirante Tamandaré (PR), na região de Curitiba. A previsão é que a unidade industrial entre em operação no segundo semestre de 2022. A fábrica terá capacidade de produzir 100 mil metros cúbicos de madeira, o suficiente para a 500 mil metros quadrados de obras.

A Urbem trabalha com um item chamado madeira engenheirada, criado na Europa há cerca de 20 e ainda inexplorado por aqui. São peças de madeira capazes de exercer funções de sustentação nas edificações, algo que hoje é trabalho de vigas e pilares de concreto ou metal.

"O mercado de madeira para construção no Brasil ainda é muito incipiente. Mas lá fora, já existem muitas aplicações, em imóveis de um ou mais pavimentos", diz Ana Cristina Bastos, presidente executiva da Urbem. A intenção, segundo ela, é passar a atender obras de casas, prédios, galpões, escolas e hospitais, entre outros.

Modelos

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Nos Estados Unidos e na Europa, há casos de prédios de até 20 andares feitos com madeira engenheirada. A nova sede do Walmart, no Arkansas, tem sido usada como vitrine da nova tecnologia.

O primeiro exemplo dessa aplicação no Brasil é a loja-conceito da Dengo Chocolates, rede de Guilherme Leal. A unidade fica na Av. Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo. Os insumos para a obra foram importados pela Urbem, em parceria com a empresa austríaca KLH, referência no ramo.

Por aqui, algumas incorporadoras estão estudando desenvolver empreendimentos nesse modelo. É o caso da construtech Noah Tech, fundada em 2020, e que pretende lançar um prédio de 11 andares na Vila Madalena nesse modelo. A HTB, grupo com mais de 50 anos de existência, também tem projetos de aplicação de madeira na construção civil, porém combinada como elementos de concreto.

Insumos paraobra daDengo Chocolatesforam importados pela Urbem Foto: Bruno Geraldi/Dengo

É importante não confundir esses projetos com os da Tenda e da Tecverde, por exemplo, que adotam o "woodframe". Neste caso, também são estruturadas de madeira, porém com menor capacidade de carga e mais recomendada para edificações menores. Já a madeira engenheirada tem peças maciças, feitas geralmente de pinus.

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O segmento é visto como promissor porque transforma canteiros de obras em um espaço de montagem de peças, com redução de custos, prazos e resíduos. Além disso, se alinha à agenda de boas práticas ambientais, já que a madeira vem de florestas plantadas.

"Há mercado para isso em função da busca por industrialização e sustentabilidade. Está sendo aberto e ainda vai ser consolidado. Tem um potencial enorme", afirma o presidente do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE), Roberto de Souza.

Segundo Souza, não há impeditivos legais para a construção com madeira. No entanto, diz ele, o setor ainda precisar evoluir em normas técnicas locais que servem de referência para esse tipo de aplicação. "Os construtores, arquitetos e projetistas estão começando a estudar esse negócio mais a fundo", afirma.

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