Startups apostam em serviços financeiros e tiram sono dos bancos

Startups chamam a atenção de bancos tradicionais que começam a criar programas de parcerias para incorporar novas ideias e acelerar a inovação

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Por Redação Link
Atualização:

DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

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Por Claudia Tozetto e Laura Maia

Uma onda de startups está sacudindo os serviços financeiros oferecidos no mundo e no Brasil. Conhecidas como “fintechs”, essas novas empresas estão mudando a forma das pessoas pagarem as compras, administrarem contas, investirem seu dinheiro e contratarem empréstimos. De anéis para realizar pagamentos a plataformas que concedem empréstimos em 30 segundos, elas vêm chamando a atenção dos bancos, que se aproximam para não ficarem para trás.

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Desde quando abriu sua primeira conta-corrente, o administrador de empresas Pedro Conrade, 23 anos, ficava inconformado com o serviço prestado. “Todo mundo tem de ir à agência resolver qualquer problema. Nunca gostei disso”, diz. No ano passado, ele fundou a Controly. Embora não seja um banco, a startup oferece uma opção à conta-corrente tradicional, baseada em um cartão pré-pago, cujos gastos são gerenciados via smartphone.

O app é, portanto, o grande diferencial. Em vez de ir ao banco abrir uma conta, a pessoa baixa o programa e recebe o cartão em casa. O extrato convencional dá lugar a gráficos com a evolução dos gastos. Para fazer transferências, basta selecionar um contato na agenda ou no Facebook. Além disso, o app gerencia as reservas de dinheiro. “Os jovens são movidos por sonhos. Eles definem os objetivos e nós reservamos um pouco do saldo toda semana”, explica Conrade. De acordo com a Controly, o dinheiro dos clientes é gerenciado pela Acesso Card, uma instituição financeira autorizada pelo Banco Central.

Há pouco mais de três meses em operação, a startup reúne 3 mil usuários. A meta é somar 100 mil até 2017. A Controly já passou por duas rodadas de investimento, nas quais levantou cerca de R$ 4 milhões. O dinheiro será investido em infraestrutura e preparativos para atender às normas do Banco Central para se tornar uma instituição financeira no futuro.

A Controly não é a única empresa a tentar surfar na onda das fintechs no Brasil. Startups que apostam em outros segmentos também vêm se destacando aos poucos. É o caso da Nubank, que oferece um cartão de crédito sem taxas vinculado a um app, pelo qual o usuário acompanha compras. Criada há um ano, a empresa afirma ter 600 mil interessados na fila de espera pelo cartão.

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No ramo de seguros, a startup Bidu, criada em 2011, investiu na integração de sua plataforma com a de grandes seguradoras e entrega propostas de adesão em apenas 30 segundos. “Oferecemos mais ou menos o que o Buscapé oferece para os sites de comércio eletrônico”, resume Maurício Antunes, diretor de marketing da Bidu.

Enquanto as apostas brasileiras em fintech estão em fase inicial, startups internacionais mais consolidadas já olham para cá. É o caso da alemã Kreditech, citada por especialistas como uma das mais inovadoras do setor. A empresa deve oferecer empréstimos e cartões pré-pagos, gerenciados por meio de apps, no Brasil, até a metade de 2016. “Já temos parcerias com instituições financeiras locais para começar a operar e estamos em busca de um diretor no Brasil”, afirmou um porta-voz da empresa ao Estado.

Fundada em 2012, a Kreditech usa a análise de grandes bancos de dados, tecnologia conhecida como Big Data, para cruzar até 20 mil aspectos sobre cada cliente – o que inclui, além do histórico de crédito, informações das redes sociais e de sites de comércio eletrônico. “Os bancos tradicionais não conseguem oferecer serviços bancários para todos, só atendem a um grupo privilegiado que tem histórico de crédito”, diz a porta-voz do serviço. A empresa tem 200 funcionários em nove países e já recebeu mais de € 300 milhões em investimentos.

COOPERAÇÃO

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O setor financeiro tradicional percebeu na interação com essas empresas disruptivas uma oportunidade de não ficar para trás. Ao mesmo tempo, as startups veem nas parcerias uma maneira de validar o negócio, ganhar experiência e receber investimentos.

No Brasil, as principais instituições financeiras têm se movimentado de diferentes formas para dialogar com as fintechs. O programa InovaBra, do Bradesco, por exemplo, promove desde 2014 a interação do banco com startups que tenham potencial de desenvolver modelos de negócios e produtos relacionados a serviços financeiros. Ao fim do programa, que dura 10 meses, o banco pode até mesmo adquirir parte da empresa. “Esse não é o foco, mas a interação é boa para os dois lados. O Bradesco pode ser o grande primeiro cliente dessas startups”, observa o gerente de inovação do Bradesco, Fernando Freitas.

Em setembro, o Itaú lançou, em parceria com o Redpoint e.ventures, um espaço de coworking na zona sul de São Paulo chamado Cubo. Ele comporta até 50 startups, não fintechs. “O Cubo fomenta a tecnologia. Há uma troca de aprendizado importante e nossos executivos passam tardes lá dentro”, afirma o diretor executivo do Itaú Unibanco, Ricardo Guerra.

Caixa Econômica e Banco do Brasil ainda estão mais voltados para a inovação dentro de casa, mas sem ignorar o que acontece fora. “É uma onda e nós queremos surfar nela. Estamos avaliando a melhor forma”, explica o gestor de inovação da Caixa, Rogério Saab.

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No exterior, a empresa norte-americana Mastercard lançou o programa Start Path em 2013, mas só abriu inscrições para startups brasileiras esse ano. Trata-se de parcerias de seis meses entre a empresa e as fintechs selecionadas. “Boa parte da nossa estratégia digital consiste em parceiras ou investimentos em startups. Há muita inteligência fora da empresa, que tem que ser absorvida”, diz Marcelo Theodoro, chefe de produtos digitais para a MasterCard Brasil. Entre as inovações que já vieram de parcerias e aquisições, ele destaca a autenticação de clientes por meio de selfies e por batimento cardíaco.

O professor de empreendedorismo da FGV/SP, Newton Campos, acredita que as fintechs vão ganhar espaço nos próximos anos. “Elas trazem processos menos burocráticos e mais baratos, com melhor experiência para o usuário. Por isso, as grandes empresas estão abrindo as portas”, explica.

‘COLABORAÇÃO É ÚNICA SAÍDA PARA BANCOS’

Por Laura Maia

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Para Robert Wardrop, diretor executivo do Centro de Finanças Alternativas da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, mercado regulado e cultura conservadora dificultam processo de inovação nos bancos:

O que podemos chamar de finanças alternativas? Trata-se de instrumentos de finanças que emergem de fora do sistema regulado das instituições financeiras. Podemos citar como exemplo o crowdfunding (financiamento coletivo por meio de plataformas na internet). Ideias assim não partiram de um banco, assim como muitas outras inovações que vemos por aí, em outras áreas como crédito e meios de pagamento. O interessante é que, se bem sucedidos, esses novos instrumentos acabando entrando no sistema regulado. As fintechs têm tido grande influência no desenvolvimento desses canais alternativos de finanças.

Quais são as áreas dos bancos que serão mais afetadas com essa onda de fintechs que vemos em todo mundo? Muitas áreas serão afetadas, mas acredito que a principal delas é a de empréstimos para consumidores e pequenos empresários. Se antes os bancos eram os únicos a ter informações sobre os indivíduos ou sobre as empresas para realizar, então, a análise de crédito, hoje, as pegadas digitais que existem na rede permitem que startups com pouco tempo de existência façam uma análise minuciosa e eficiente dos riscos do indivíduo ou empresa não pagar pelo empréstimo. Há uso de tecnologias como inteligência artificial e as análises são feitas em segundos, sem que a pessoa vá a uma agência bancária ou já tenha feito algum empréstimo. Um dos maiores exemplos mundiais nessa área é a empresa Kreditech, de Hamburgo (Alemanha) que, usando Big Data, consegue fazer análise de créditos em 35 segundos, com operações 100% online.

Diante dessas novas tecnologias como ficam as instituições tradicionais? Os bancos estão sem outra saída que não seja a colaboração com essas inovações que vem de fora. A tecnologia está mudando tudo de forma muito rápida e eles sabem que tem de inovar. Ao mesmo tempo, operam em um mercado extremamente regulado e com uma cultura corporativa muito conservadora que dificulta esse movimento. Por isso, é cada vez mais comum essa colaboração de empresas tradicionais e mais sólidas com essas startups do setor financeiro.

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Para as startups do setor financeiro também é positiva essa colaboração? Por quê? Extremamente positiva por três razões. Veja bem, é bacana ter ideias inovadoras, a partir de novas tecnologias, mas isso não é posto em prática se você não tem acesso ao mundo real. A partir de parcerias com grandes instituições financeiras, essas startups têm acesso a informações que fazem com que os produtos e serviços sejam desenvolvidos de forma mais rápida e melhor. Além disso, há uma questão de validação, de ganho de credibilidade. A partir do momento que a startup tem um reconhecimento, uma parceria, alguma relação com uma instituição financeira já consolidada no mercado, fica mais fácil de apresentar e validar seu produto perante outras empresas. Por último, essas parcerias podem se tornarem oportunidades lucrativas para essas empresas por meio da venda de seus serviços e produtos.

Para as pessoas quais serão as principais mudanças dessa onda de fintechs? No que diz respeito a empréstimos, por exemplo, grande parte dos custos para os clientes está relacionada à insegurança da análise de crédito, na capacidade ou não do individuo pagá-lo. A partir do momento que a tecnologia possibilita uma análise mais rápida, eficiente e barata, os custos podem diminuir, assim como as burocracias. Isso é muito positivo para as pessoas. Acredito, no entanto, que seja necessária uma atenção maior a todas as pegadas digitais que deixamos na rede, mesmo sem perceber. As pessoas têm de levar isso em consideração, porque essas informações estão sendo analisadas a todo instante.

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