‘Unicórnio’ vira raridade em cenário de crise para startups

Depois de ver seis empresas atingirem o status em 2021, País registrou apenas dois negócios chegarem ao patamar neste ano

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Por Guilherme Guerra

Nos livros de fantasia, o unicórnio é uma figura rara, especial e mítica. No mundo real, são essas três características que inspiraram o mercado de tecnologia a batizar de “unicórnio” as startups que atingem avaliação de mercado superior a US$ 1 bilhão, já que se trata de um marco importante para a trajetória da companhia e, evidentemente, não tão fácil de se encontrar entre as milhares de empresas desse ramo.

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Durante algum tempo, não era tão difícil avistar unicórnios no setor de tecnologia. O ano de 2021 registrou um número recorde dessas novas startups bilionárias. No mundo, 529 empresas viraram unicórnios, sendo seis delas no Brasil (MadeiraMadeira, Unico, Nuvemshop, CloudWalk, CargoX e Olist), segundo dados da consultoria americana CBInsights.

Neste ano, porém, o número global caiu para 238, com apenas duas empresas brasileiras no clube (Neon e Dock). Ou seja: baixa de 55% em todo o mundo e de 66% no Brasil.

Especialistas concordam que essa queda não é o fim do mundo. Afinal, os números deste ano ainda estão acima dos patamares pré-pandemia e mostram uma evolução do cenário global de tecnologia (veja gráfico ao lado).

Agentes do mercado tech concordam, porém, que de agora em diante ficará muito mais difícil ser considerado um unicórnio. Isso porque a bonança que se via até dois anos atrás, quando a liquidez do mercado estava em alta e as empresas de tecnologia eram as queridinhas dos investidores, não existe mais. “Esperamos que o ritmo com que startups atingem o status de unicórnio diminua”, afirma ao Estadão o analista de mercado Vincent Harrison, da plataforma americana de dados Pitchbook. “É difícil prever para onde vamos, mas dá para ter uma ideia.”

Há três motivos para que cada vez menos unicórnios apareçam entre as startups, de acordo com Harrison: a alta global dos juros, que diminui o apetite de investidores por risco, como aportes para as startups, empresas de tecnologia dependentes de capital externo; o ambiente macroeconômico incerto, em que a guerra na Ucrânia e lockdowns na China desestabilizam as cadeias produtivas de todo o mundo; e a volatilidade no mercado de ações, que afeta diretamente as gigantes da tecnologia (como Apple, Microsoft, Google, Amazon e Facebook).

Cautela no mercado

Esse cenário atinge diretamente a atuação dos fundos de venture capital dedicados a startups, que diminuem os aportes. Diante desse desânimo geral no setor, as megarrodadas de investimento, que se popularizaram em 2020 e 2021, com cheques acima de US$ 100 milhões, praticamente desapareceram neste ano – e eram elas as principais responsáveis por alçar diversas startups, sempre sedentas por grandes quantias de capital, a unicórnios.

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Virar uma startup unicórnio é algo ainda mais seleto neste ano

Gustavo Araújo, presidente executivo da Distrito

“Também é importante notar que muitas companhias privadas (sem ações negociadas em Bolsa) agora têm menos poder de barganha para negociar rodadas, dada a volatilidade do mercado. Isso faz com que os investidores sejam capazes de aportar com preços menores do que os valores de 2021″, afirma Harrison.

Gustavo Araújo, presidente executivo e fundador da plataforma brasileira de inovação Distrito, concorda: o cenário atual desacelera o nascimento de companhias de tecnologia bilionárias e eleva a nota de corte para entrar no clube. “Agora a barra está mais alta. Virar uma startup unicórnio é algo ainda mais seleto. No contexto atual, tornou-se mais difícil e mais raro.”

No entanto, Araújo diz que a empresa que conseguir chegar ao status agora ganhará mais credibilidade. “Isso mostra que a companhia está fundamentada, com sustentabilidade do negócio. Hoje, os investidores têm buscado empresas que entregam crescimento e, também, rentabilidade.”

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