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Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|Inteligência artificial pode não ser tão perigosa quanto dizem, mas tem potencial revolucionário

Essa tecnologia pode ser tão inovadora quanto a própria internet foi quando lançada

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Foto do author Pedro Doria

Não poderia haver discrepância maior. Há uma semana, Bill Gates, o velho estadista da computação, sugeriu que o vencedor da corrida pela inteligência artificial (IA) será aquele que conseguisse criar um assistente pessoal digital. Na semana seguinte, alguns dos principais nomes envolvidos no desenvolvimento de IA afirmaram em carta aberta que a tecnologia pode levar à extinção da humanidade. Assinam o texto até os líderes de Google e OpenAI, que encabeçam a briga. São dois cenários de futuro tão absurdamente díspares que o pobre sujeito que acompanha o tema está no direito de ficar perdido.

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Mas, pois: isto é inédito. Ver CEOs das principais empresas do ramo baterem os tambores para dizer que estão criando algo que pode nos extinguir como espécie? Uma afirmação assim exige a pergunta: então por que estão criando? Não é comum que os desenvolvedores de uma nova tecnologia façam este tipo de alerta.

Estes alertas sobre graves riscos da inteligência artificial nunca são concretos. Nunca desenham caminhos claros que mostram como o desenvolvimento desta tecnologia em particular pode levar à extinção da espécie. Aprendizado de máquina, a lógica por trás de todo o desenvolvimento recente, não aponta para softwares capazes de consciência. Não aponta, sequer, para qualquer capacidade cognitiva. Não sabem. Não distinguem o vivo do morto, o bicho da pedra, são apenas calculadoras de probabilidade muito sofisticadas e poderosas. São capazes de construir um texto verdadeiro e outro falso muito convincentes. São incapazes de distinguir um do outro.

O caminho sugerido por Bill Gates, embora bastante mais modesto, parece também mais plausível. A corrida da IA andava discreta, até o momento em que a OpenAI abriu para o público seu ChatGPT. Até ali, uma tecnologia fascinante vinha sendo desenvolvida às escondidas. Quando veio a público, em dezembro passado, foi um susto. A capacidade de construir textos, afinal, impressiona.

O assistente digital que Bill Gates imagina é capaz de muito. Um dia pedimos que ele marque uma viagem para Brasília — ele compra os bilhetes, faz a reserva do hotel, tudo no menor preço possível. Sim, pois ele buscará compreender a lógica dos aumentos e quedas de preço. No outro ele sugerirá o que assistir no streaming. Chamará sua atenção para o livro daquele escritor do qual você gosta, que acaba de sair. Pode resumir o livro ou ler para você à noite. Comprará suas roupas no tamanho certo. Ajudará na lição do curso com a qual você tem dificuldade. Lembrará do aniversário daquela amiga e, se você desejar, manda também uma mensagem. (Que será respondida, claro, pelo assistente dela.)

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Bem mais modesto, claro, do que a extinção da humanidade. E, ainda assim, tão revolucionário quanto foi a própria internet.

Opinião por Pedro Doria
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