Plataforma de ensino Coursera chega ao Brasil

Para executiva, versão brasileira da maior plataforma mundial de aulas online pode suprir lacunas do ensino no País

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Por Camilo Rocha
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SÃO PAULO – O interesse dos brasileiros pelo Coursera é “notável” segundo Daphne Koller, israelense-americana que atua como presidente da maior plataforma de cursos online abertos de massa (conhecidos pela sigla em inglês Moocs). Com 300 mil alunos, o País é o quinto maior usuário dos cursos que o site oferece, posição tornada ainda mais significativa pelo fato de que não chegam a 30 os cursos com legendas em português.

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Natural, portanto, que o Coursera decidisse estrear uma versão dirigida ao público do País. A versão brasileira da plataforma, a exemplo das estrangeiras, vem sustentada por parcerias com universidades de prestígio, USP e Unicamp. O material das duas universidades deve ir ao ar a partir de 2015. A iniciativa está associada ainda à Fundação Lemann. Daphne conversou com o Link antes do lançamento do Coursera em São Paulo.

Que tipos de cursos o Coursera irá oferecer inicialmente em português? Da USP teremos “Origens da Vida”, “História da Contabilidade”, “Fundações da Linguagem de Negócios” e o “Sistema Previdenciário Brasileiro”. Já a Unicamp trará aulas relacionadas a empreendedorismo. Estamos muito empolgados com os cursos de negócios, pois sabemos que muitos dos brasileiros têm vontade de começar seu próprio negócio, existe uma cultura de empreendedorismo. É a nossa categoria mais popular no Brasil, mesmo considerando os cursos em língua inglesa.

Por que o Coursera decidiu lançar uma plataforma no País? O Brasil é nosso quinto usuário, depois dos Estados Unidos, Índia, China e Reino Unido. É notável quando se pensa que Índia, EUA e Reino Unido não precisam de tradução e temos muito mais conteúdo em chinês do que em português. Só isso já demonstra o entusiasmo dos brasileiros. Mas não é só isso. O País é grande e um mercado obviamente interessante. O que mais nos atrai, porém, é a fome por educação que existe por aqui, vemos tantos aprendizes tão dedicados. A comunidade de tradutores brasileiros é uma das mais ativas e maiores entre as nossas.

E por que há tanto interesse por aqui na sua opinião? Falta de oportunidades educacionais. Há um bom número de universidades de alto nível, incluindo nossos parceiros, mas acho que é claramente insuficiente a oferta de educação de alta qualidade. O resultado é que o Brasil tem um dos índices mais baixos de conclusão de educação superior entre os países industrializados.

O Coursera se vê exercendo aqui o papel que instituições tradicionais não têm conseguido cumprir? Certamente estamos ajudando em questões como acesso e disponibilidade para pessoas que normalmente não teriam a chance de ir a uma faculdade, seja por falta de tempo ou por não terem sido aprovadas. Mas não acho que estamos aqui para tomar o lugar das instituições de ensino, que cumprem um papel muito importante em todo o mundo.

O que podemos fazer é transformar como essa educação é dada. Hoje, temos principalmente um modelo em que estudantes marcham para uma sala de aula, e escutam alguém falar por uma hora e depois vão fazer sua lição de casa. Acredito que caminhamos para um modelo muito mais baseado em interação e engajamento.

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A empresa já consegue ser uma operação rentável? Ainda não, mas temos menos de três anos de idade. Quanto à renda, tivemos investimentos, mas nossa principal fonte são os certificados verificados, que são opcionais. O curso é gratuito, mas se o aluno quiser obter uma certificação que pode ajudá-lo na hora de conseguir o emprego, nós cobramos.

Empregadores nos EUA já reconhecem o seu certificado? A credibilidade dos nossos certificados vem aumentando. Um de nossos parceiros, a Duke University, fez uma pesquisa recentemente entre empregadores na Carolina do Norte. Setenta por cento deles disseram que aceitariam credenciais de um curso Mooc no processo de contratação.

No Brasil, essa credibilidade virá com o tempo, com mais pessoas se formando e aparecendo com nossos certificados e empregadores querendo saber do que se trata. Mesmo assim, temos feito contato com grandes empresas brasileiras para apresentar e explicar melhor o que fazemos e conectá-los com as universidades parceiras. Não posso dar nomes ainda, mas garanto que são bem conhecidos. Estamos no processo de educar não só estudantes, mas empregadores também.

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Plataformas de Moocs

• Veduca A plataforma brasileira oferece gratuitamente aulas de universidades brasileiras como USP e Unesp, e internacionais, como Harvard, MIT e Yale. Tem aulas de pós-graduação e oferece certificação paga e reconhecida pelo Ministério da Educação.

• NovoEd O foco da plataforma é na interatividade. O NovoEd foi criado por Amin Saberi, professor da Universidade de Stanford, mas possui cursos de diversas universidades americanas.

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• edX Criada por professores de Harvard e do MIT oferece cursos gratuitos de universidades americanas. A maioria são das áreas de ciências e exatas, especialidade das duas faculdades, e ministrados na língua inglesa.

• Udacity Da Universidade de Stanford, tem cursos pagos e gratuitos e alguns ministrados por profissionais de grandes empresas como Google e Nvidia.

• Khan Academy Oferece aulas de conteúdos de diversas áreas para estudantes de todas as idades. Tem cursos preparados pela Nasa e MIT.

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