Adulteração do leite eliminava vitaminas, constata laudo

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Por Eduardo Kattah
Atualização:

Laudo do Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro) sobre resultados das análises do leite produzido pela Cooperativa Agropecuária do Sudoeste Mineiro (Casmil), em Passos (MG), que comprovaram a presença de peróxido de hidrogênio (água oxigenada), indicaram também que a adulteração provoca a destruição das vitaminas A e E contidas no produto. O laudo, divulgado hoje pelo Ministério Público Federal (MPF), faz parte do inquérito que investiga a Casmil e a Cooperativa dos Produtores de Leite do Vale do Rio Grande (Coopervale), em Uberaba, suspeitas de acrescentar no leite outras substâncias químicas não permitidas ao leite longa-vida, como soda cáustica (hidróxido de sódio). O laudo do Lanagro cita a literatura científica para confirmar tecnicamente a redução do valor nutritivo do produto diante da adulteração. "É de se esperar que ocorra a depleção dos teores em ácidos graxos insaturados da gordura do leite por adição de perióxido de hidrogênio. Outrossim, a oxidação das gorduras lácteas desempenha papel na redução nutricional do referido alimento em razão da ação dos radicais livres formados e conseqüente destruição das vitaminas lipossolúveis A e E", descreve o documento. As amostras analisadas foram extraídas de dois caminhões-tanque da Casmil no dia 16 de agosto, em Passos e em uma estrada que liga a cidade ao município vizinho de Itaú de Minas. Cada tanque continha pouco mais de 25 mil litros de leite cru resfriado. O documento traz informações reveladas quando da Operação Ouro Branco, no último dia 22, que resultou na prisão temporária de 27 pessoas. Conforme a avaliação técnica, a água oxigenada permite que más condições higiênico-sanitárias de obtenção, conservação e transporte, isoladas ou associadas, sejam dissimuladas. "A fraude por adição de peróxido de hidrogênio em leite cru, ao qual se aplica a definição de conservante, se reporta ao seu efeito antibacteriano, permitindo que más condições higiênico-sanitárias de obtenção, conservação e transporte sejam dissimuladas. A adoção dessa prática, em desacordo com a legislação vigente, objetiva o prolongamento da vida útil da matéria-prima até seu beneficiamento", informa o ofício. Em relação aos efeitos da água oxigenada sobre o organismo humano, o documento afirma que "a ingestão de pequenas quantidades de peróxido de hidrogênio em solução a 3% geralmente resulta apenas em moderado efeito gastrointestinal". "A ingestão de soluções com concentração igual ou superior a 10% ou grandes quantidades de soluções a 3% tem sido associada com morbidade e mortalidade severa". Água Oxigenada O boletim de análise de leite Serviço de Inspeção Federal (SIF) que acompanhava a carga atestava ausência de conservantes, mas a análise dos produtos feita pelo Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro) confirmou a fraude e a presença em todas as amostras de água oxigenada. Segundo o MPF, não foi possível, diante das "condições técnicas existentes no Lanagro", detectar por meio de novos exames a concentração das substâncias nas amostras coletadas. A Procuradoria da República em Minas não divulgou os nomes das empresas a quem se destinavam as cargas apreendidas, observando que até o momento não há indícios de que elas teriam tido conhecimento da adulteração.

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