Desertificação ameaça produção de alimentos, diz ONU

A África, a América Latina e partes da Ásia serão as regiões mais afetadas à medida que as chuvas diminuírem

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Por ROBERT EVANS
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A degradação de áreas de plantio e a desertificação provocadas pelas mudanças climáticas representam uma grave ameaça ao suprimento de comida para a crescente população mundial nos próximos anos, alertou na sexta-feira um importante cientista da Organização das Nações Unidas (ONU). M.V.K. Sivakumar, membro da Organização Meteorológica Mundial (WMO na sigla em inglês), disse que a crise pode se apresentar dentro de apenas uma década, à medida que os continentes assistirem a um número maior de eventos como ondas de calor, enchentes, deslizamentos de terra e incêndios florestais, eventos esses relacionados com o clima. "Deveríamos nos preocupar com o fato de áreas de cultivo estarem se degradando? Sim", afirmou, em uma entrevista coletiva concedida em Genebra, Sivakumar, que comanda a divisão agrícola da WMO. "Hoje alimentamos uma população mundial de 6,3 bilhões de pessoas com os 11 por cento da superfície da Terra que podem ser usados realmente para a produção de comida. A pergunta é: conseguiremos alimentar os 8,2 bilhões de pessoas que, segundo se prevê, viverão no globo em 2020 com uma quantidade ainda menor de terra arável?" A África, a América Latina e partes da Ásia - onde o clima já se mostra mais violento e onde as regiões áridas são comuns - serão provavelmente as regiões mais afetadas à medida que as chuvas diminuírem e tornarem-se mais imprevisíveis, limitando o suprimento de água, afirmou. Mas a Europa, em especial a região que circula o Mediterrâneo, também sofreria com as ondas de calor como a ocorrida neste verão e que provocou incêndios devastadores na Grécia. A diminuição no volume das chuvas e a evaporação dos reservatórios de água também significariam menos água disponível para a irrigação e a geração da eletricidade usada nas máquinas agrícolas, diminuindo a produtividade. Segundo Sivakumar, em algumas regiões, a disseminação de desertos e a salinização de terras antes aráveis são fenômenos já bastante avançados. No futuro, eles devem ser mais comuns nas regiões mais secas da América Latina, incluindo o Brasil, um gigantesco produtor agrícola. Na África, a maior imprevisibilidade do clima criaria grandes problemas para os agricultores, que devem ver suas temporadas de plantio e sua produção tornarem-se cada vez menores, especialmente nas áreas próximas das regiões já áridas ou semi-áridas. Sivakumar, que deu essas declarações de olho na conferência sobre desertificação marcada para acontecer em Madri entre os dias 3 e 14 de setembro, afirmou ser vital para a comunidade internacional elaborar práticas de cultivo inovadoras e mais bem adaptadas. Essas práticas deveriam preocupar-se com preservar a terra e os recursos hídricos. O cientista acrescentou que uma retomada dos plantios mistos, ao invés do enfoque nas monoculturas baseadas no uso intensivo de fertilizantes, também poderia contribuir.

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