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Dono do restaurante Bargaço é assassinado em Brasília

Por Tiago Décimo
Atualização:

O proprietário da rede de restaurantes Bargaço, Leonel Evaristo da Rocha, de 62 anos, foi assassinado ontem, em Brasília, a tiros, quando voltava de um jantar no restaurante Tucunaré na Chapa. Rocha estava a negócios na capital federal desde domingo, onde tinha a intenção de comprar um imóvel e receberia um prêmio pela qualidade do estabelecimento que mantinha na cidade desde 1994. Ao contrário do que acontece há 37 anos, o Bargaço de Salvador, que deu origem à rede, recebeu poucos clientes ao longo do dia de hoje. A morte deixou consternados os funcionários do estabelecimento, instalado numa casa avarandada no Jardim Armação. Emocionados, eles tentaram manter o padrão de atendimento. A família decidiu manter aberto o Bargaço baiano - bem como as outras unidades da rede, no Distrito Federal, São Paulo, Recife, Fortaleza e João Pessoa. "Ele sempre dizia: `O restaurante não é meu, é dos clientes''", justifica um amigo da família, o jornalista Luiz Alberto Brito. "Era uma exigência dele que os restaurantes nunca deixassem de funcionar", complementa o gerente da matriz, Geraldo dos Santos. Conhecido pela simpatia e pelo estilo bon vivant, Rocha mantinha boas relações com empresários, políticos e formadores de opinião, por onde passava. Havia terminado a semana passada em São Paulo, onde participou de algumas reuniões. O gerente da filial do Bargaço em Fortaleza, Luzivan Farias, dirigia o carro, que havia sido alugado em Brasília. Em depoimento à polícia do Distrito Federal, Farias afirmou que o automóvel em que estavam foi forçado a parar por um veículo branco, num trecho da Rodovia BR-450, perto de Núcleo Bandeirante. De acordo com ele, um dos ocupantes do segundo carro desceu e, armado, ordenou que Rocha saísse do automóvel, entregasse o telefone celular e ficasse de costas. Em seguida, ouviu três tiros. Todos atingiram o rosto dele, que morreu na hora. Os criminosos fugiram em seguida. O delegado Bartolomeu Araújo, à frente do caso, trabalha com as hipóteses de assalto e execução, mas ainda não aponta suspeitos. Peritos vasculharam o veículo, atrás de pistas. A família de Rocha não quer comentar o caso. Segundo Brito, os parentes afirmaram que o proprietário do Bargaço não tinha inimigos conhecidos, nem sofria ameaças. Pernambucano, morando há 40 anos na capital baiana, Rocha deixou nove filhos, de entre 4 e 36 anos. O enterro será amanhã, no Cemitério Jardim da Saudade. Rede A rede de restaurantes surgiu em 1971, quando Rocha, então garçom conhecido do tradicional Camafeu de Oxossi, do bairro do Comércio, também em Salvador, pediu cinco mesas emprestadas para o antigo patrão para fazer um teste. Queria abrir um bar, chamado Bar do Garçom. Um grande descuido do pintor na confecção da placa foi o responsável pelo nome, que fez sucesso na capital e se expandiu para outros pontos do País. Filho de trabalhadores rurais de Limoeiro (PE), Rocha deixou a casa dos pais aos 9 anos, com destino ao Recife. Para ganhar dinheiro, foi feirante, jornaleiro, borracheiro e balconista antes de começar a trabalhar em restaurantes, no fim da adolescência. Começou lavando pratos, passou a garçom e, daí, a auxiliar de cozinha. Aprendeu a ler aos 17 anos, ensinado pelo dono do estabelecimento em que trabalhava, na capital pernambucana.

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